Cláudio Dantas 08/09/2020Faltou algoA Cidade dos Espelhos até a primeira metade estava me conquistando da forma que eu esperava. O seguinte trecho estava presente no esboço que eu vinha fazendo dessa resenha, enquanto ainda lia: “Ler um livro com certa expectativa prévia pode ter muitas chances de dar errado, e eu estava com muitas expectativas. Mas esse livro não só atendeu as atendeu, como ele as subverteu e conseguiu me deixar mais maravilhado com o que eu encontrei do que eu ficaria se tivesse encontrado exatamente aquilo que eu esperava.” Esse trecho continua sendo verdade. Até a primeira metade do livro, pelo menos.
Depois do final grandioso do primeiro livro, Justin Cronin tinha uma missão difícil: fechar de forma tão grandiosa quanto o livro do meio. E ele começa a fazer isso com maestria, dando uma baixada nos níveis de tensão, quase nos fazendo esquecer da ameaça dos virais. A calmaria antes da tempestade final. E quando a tempestade vem, ela vem do jeito que se espera, com cenas de encher os olhos, que te deixa tenso esperando pelo o pior, quase que como um filme, de tão fácil de visualizar.
Mas pra mim, foi aí que começaram os problemas. Isso porque, como disse anteriormente, a tempestade veio como se esperava. Esse livro em poucos momentos tenta subverter as suas expectativas. Em termos de resolução de conflitos, acaba entregando um bom feijão com arroz. O que é muito bom, mas que poderia ter sido muito melhor.
O brilho desse livro para mim está nos momentos em que o autor tenta fazer coisas diferentes. As partes narradas em primeira pessoa por um certo alguém (não quero dar spoilers) são algumas das melhores e das mais bem escritas de toda a trilogia.
Senti certa apatia vinda da maioria dos personagens. Sara e Hollis estão bem qualquer coisa nesse livro e Amy não me convenceu. Peter era um dos meus personagens favoritos no primeiro livro mas desde o segundo ele foi deixado um pouco de lado, e nesse o personagem estava especialmente chato e teve um fim que não me emocionou tanto quanto eu imagino que tenha sido a intenção do autor. Fora os novos personagens que são beeem superficiais.
Em contrapartida, Michael e Alice são os melhores personagens, com os melhores arcos. Michael definitivamente é o meu personagem favorito de toda a trilogia e gostei muito do que foi feito com ele aqui. O desenvolvimento de Alice vai por caminhos inesperados e foi uma das partes que me deixou mais intrigado nessa história, seu final também me agradou.
E então chegamos ao grande clímax...
Me pareceu que o autor só quis dar um final hollywoodesco. Senti que foi muita preparação pra pouca entrega, para uma resolução simples e até conveniente, meio deus ex machina. A dita Cidade dos Espelhos mal tem importância no final das contas. É basicamente um cenário. Imagino que com o dinamismo de um filme, essa história funcionasse melhor.
Apesar de não ter me agradado tanto com o final, não odiei esse livro e não me arrependo de ter chegado até aqui. Muito pelo contrário. Os dois primeiros livros são incríveis. E foi muito interessante ter feito essa leitura nesse momento, observando e fazendo paralelos (assustadores) com a situação que estamos vivendo. Com certeza Justin Cronin está na lista de autores que ficarei de olho nos próximos lançamentos.