spoiler visualizarDani 27/02/2023
Não atinge o público-alvo
É um livro pequeno, porém não leve e consideravelmente agressivo (não que isso seja uma crítica), e claro, como já pressentido, é um livro que faz você parar a leitura frequentemente por trazer consigo reflexões.
A agressividade é configurada pela forma bruta em como os autores trazem a sua visão do que se tornou a vida do trabalhador, é angustiante, porém necessário. É como se o trabalhador não fosse um ser humano, perde-se toda a sua originalidade como pessoa e os autores até citam que a visão que a burguesia tem dos proletariados é que de eles se tornaram parte das máquinas, e com o tempo o próprio proletariado parece consentir com isso por não conseguir enxergar uma saída.
A minha crítica ao livro não é pelo Manifesto em si, mas sim pela forma como foi apresentado. A escrita não é clara e objetiva e para poder lê-lo e entende-lo completamente é notório que precisa de leituras bases, e eu entendo o contexto histórico e entendo que atualmente existem várias edições do Manifesto, mas no próprio livro os autores confessam que o proletário tem uma vida tão cansativa causado pelo trabalho intenso, a falta de direitos trabalhistas e só conseguirem receber nada além do necessário pra sobreviver, conjuntamente a falta da cultura erudita que não consegue atingir essa classe porque o proletário tá tão cansado e vive com tão pouco que não consegue refletir a sua posição na sociedade e a desigualdade entre as classes, e pra isso vou citar Orwell que entendeu perfeitamente essa mensagem na parte do Manifesto ''O objetivo dos Baixos, isso quando têm um objetivo - pois uma das características marcantes dos Baixos é o fato de estarem tão oprimidos pela trabalheira que só a intervalos mantêm alguma consciência de toda e qualquer coisa externa a seu cotidiano’’ (1984), dito isso, me trouxe um certo incomodo que no decorrer da leitura se transformou em um estresse e logo depois em euforia, porque eu só conseguia pensar que esse livro não foi feito para o pobre, ou seja, para o seu público-alvo, uma vez que a linguagem dele não é popular.
Graças a Deus eu tenho um professor de história do meu lado e fui atrás de respostas, e ele me explicou algo que já estava no livro, que passou despercebido consequentemente pela esmagadora quantidade de conceitos e palavras complexas, que o Marx acreditava que existia uma parte do proletariado que conseguiria compreender o Manifesto e coordenaria a parte que apenas sente a exaustão, o que também vai de encontro com o Orwell ‘’que só a intervalos mantêm alguma consciência de toda e qualquer coisa externa a seu cotidiano -, é abolir todas as diferenças e criar uma sociedade na qual todos os homens sejam iguais.’’ (1984)
O questionamento permaneceu e o estresse aumentou. Por que criar um conceito para o trabalhador e não explica-lo qual a sua importância? Como o trabalhador vai ter o entendimento de que é necessário apoiar aquele conceito? Por que publicar uma leitura fatigante para os trabalhadores que já lutam pra conseguirem atingir o entendimento erudito uma vez que na maioria do tempo apenas trabalham? É contraditório e isso forja uma visão de que os autores eram elitistas e eles atuam da mesma forma daqueles que eles tentam destruir. É como se o Manifesto fosse uma análise da formação de classes e seus embates e apresenta uma previsão de como a vida seria no comunismo, feito por burgueses que não tiveram a disposição de tomar medidas necessárias para acelerar ou melhorar o processo.
O processo de uma revolução é de fato longo e doloroso, mas se houvesse um ato mais esclarecedor dos autores talvez fosse mais rápido, mais compreensível e daria menos armas a argumentos contrários da oposição.
Além de a visão de que existe uma subclasse entre os proletários que supostamente seriam os ‘’mais inteligentes’’ há a possibilidade de cair no vício do que acontece na Revolução dos bichos, que os mais inteligentes dominam a classe exausta e daí eles conseguem mais lucros do que os outros por serem astuciosos e possuírem uma malícia e eu procurei o Manifesto do partido comunista para poder tirar essa imagem, mas infelizmente não consegui.
A mensagem mais clara e forte que o livro me trouxe foi reforçar a minha determinação em votar em candidatos pobres ou que originalmente foram pobres antes da vida política, tal qual o atual presidente do Brasil.