Leticia_gg 13/01/2018
INCONTROLÁVEL
"Mas, antes de qualquer coisa, preciso de uma resposta sincera da sua parte: por que eu?"
Quando Gabriela conhece Sam, ela percebe algo estranho. Uma força invisível que os puxa um para o outro. Não é como se Sam fosse algum desconhecido, claro que não, o mundo o conhecia. O problema é que o corpo de Gaby parecia conhecê-lo bem demais. Era uma atração incontrolável, quase impossível. E teria permanecido no campo do impossível, não fosse Sam, o Sam Williams, ter sentido o mesmo por ela.
Logo ela. Logo ele. O destino parecia estar de sacanagem. Era a receita perfeita de um desastre. Restava, então, fazer com que perder o controle não fosse assim tão ruim.
Cris, a princípio, nos pinta uma história que já conhecemos: o mocinho inalcançável e a mocinha comum, envolvidos por um sentimento inexplicável que brota desde o primeiro encontro e que faz dela, a garota dos sonhos; e dele, o príncipe encantado. Um conto de fadas com o acréscimo das cenas que ninguém nunca veria na Disney, uma vez que se trata de um romance adulto.
Entretanto, Uma Incontrolável Atração tem um adendo. Nele, incontrolável não é a medida apenas do relacionamento, mas de tudo: o tempo, o espaço, o senso - tudo, em algum momento, foge ao controle. Dois dias são suficientes para que um amor sem precedentes surja; uma cidade, simplesmente, parece estar fora do mapa; e várias pessoas saem dos eixos. Gabriela, em mais de um momento, é esmagada pela insegurança e pela mágoa; Sam se deixa levar pelo ciúme e pela extrema necessidade de controle. Tudo no livro é pautado pelo demais.
De alguma forma, é como se o desejo - por vingança, por poder, por sexo, por amor - guiasse e, ao mesmo tempo, servisse de background para a história. O único ponto de paz em meio a tudo é a amizade sólida e incondicional de Gabriela e Dandara, sua melhor amiga. Confesso que, ao longo da leitura, esperei mais de uma vez que Dandy também se voltasse contra Gaby, mas ela nunca se volta. Isso me fez ver que, ainda que essa seja a história de um casal, o amor mais sólido dentro da trama é a amizade.
Gabriela é o tipo de personagem que reúne um pouco de cada mulher: guarda lembranças da menina que foi, da mulher que, agora, é; e daquela que pretende (ou não) se tornar. Ela traz a criação que teve, no interior de São Paulo, e também os desejos que tinha e descobriu ter ao lado de Sam. Contudo, apesar de já contar com 28 primaveras, às vezes ela se comporta de maneira muito pouco madura. De certa forma, todos somos imaturos em algum ponto. O problema de Gaby é que ela deixou de amadurecer em aspectos que a magoam: sua insegurança, sua impulsividade, sua tendência a chorar compulsivamente e em público, o que rende bastante dor de cabeça não só a ela, como a Sam e à própria Dandy, que precisa constantemente ajudar a amiga a recobrar o senso.
Sam Williams foi um personagem dúbio para mim. Ao mesmo tempo em que era um poço de paciência e compreensão, era o sinônimo perfeito da explosão e falta de calma. Creio que o gatilho que o transformava do cara doce no cara grosseiro era a extrema possessividade. O fato de ele achar ter direito de posse sobre a Gabriela me incomodou muito, porque é algo que eu realmente não gosto de ver em romances. Sam, entretanto, ainda dispõe de autocontrole e da capacidade de se desculpar. Além disso, assim como Gabriela tem Dandy, Sam tem Smith para lhe colocar nos eixos quando o amigo se descontrola.
Ambos, Gaby e Sam, apesar de já adultos, frequentemente parecem envoltos pelo desconhecido e inexplorado gosto do primeiro amor, que, se já não é inocente, é frequentemente ingênuo. Tanto ela quanto ele se deixam levar por boatos e situações armadas que demonstram uma confiança ainda pouco sólida, talvez devido ao curto tempo em que se conhecem ou, quem sabe, às próprias inseguranças de limitações de cada um.
Salvo alguns poucos descuidos em algumas cenas, Cris soube bem captar a essência do que é namorar alguém que está o tempo todo sob os holofotes. As armações midiáticas por dinheiro, a falta de privacidade e as escolhas de relacionamento por interesse - tudo isso está presente em maior ou menor medida. Há poucos lugares, a exemplo de Jericoacoara, em que o casal fica livre dos paparazzi. O caso dessa cidade paradisíaca, aliás, me chamou a atenção. Hoje em dia, é difícil crer em um espaço no qual a mídia não adentre. Ainda que realmente os paparazzi não chegassem ao resort, é difícil acreditar que nenhum outro turista ou morador entregaria o romance dos dois de bandeja pela quantia certa. Entretanto, eu entendo que fosse necessário um lugar sem perturbações para que o romance pudesse, pelo menos, florescer.
Eu, que nas minhas leituras costumo amar o romance, mas não as cenas de sexo; fiquei surpresa pela forma como Cris soube encaixá-las bem na história. As cenas mais íntimas entre Gaby e Sam realmente envolvem o leitor, tanto pela intensidade das sensações descritas como pelo inusitado de algumas situações. Houve partes da narrativa em que os comentários francos (e inapropriados para todas as idades) de Gabriela sobre as vontades extremas que Sam despertava em si me incomodaram; mas até mesmo eles entravam em sintonia com o resto da cena nesses momentos.
Um ponto em que, na minha opinião, Cris poderia ter trabalhado mais é no desenvolvimento das intrigas. Elas, devido à rapidez com que as coisas ocorrem na trama, acabavam surgindo e acabando em uma velocidade grande, de forma que pouco sentíamos do gosto da separação e da discordância entre os dois. Isso se torna mais óbvio quando, já perto do final, nos deparamos com a última intriga dos dois. Eu, que sou fã de um bom drama dentro dos relacionamentos, fiquei esperando que as coisas se desenrolassem mais lentamente - o perdão, a reconciliação.
Entretanto, ler Uma Incontrolável Atração significa assumir que o tempo, também, é incontrolável. Creio que muito da organização do livro tenha a ver com seu planejamento original ser o de uma história para plataforma online, de modo cada capítulo carrega um teor forte de ansiedade e expectativa pelo seguinte. O fato de haver não só um, mas vários picos de tensão que surgem e são solucionados para que outros venham em seguida é um recurso comum, utilizado desde a época dos folhetins até hoje, em roteiros de novelas televisivas.
Uma Incontrolável Atração é um desafio para os céticos e um prato cheio para os ávidos de amor feliz. Com isso, não estou falando de um amor que é sempre feliz, porque senão não seria a vida. Gaby e Sam representam o tipo de sentimento pelo qual vale a pena lutar.
(...)
(CONTINUA NO SITE)
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