spoiler visualizarAndressa 15/03/2021
A mulher que queremos ser versus a mulher que devemos ser
Virginie Despentes tem uma escrita que desconcerta qualquer leitor. O vocabulário chulo e parágrafos inteiros com expressões ofensivas e obscenas revelam ao mesmo tempo a escritora e o livro: Virginie Despentes não teme qualquer tipo de julgamento em relação a sua obra.
Nascida em Lyon, na França, se tornou prostituta, integrou o mundo do punk rock e se transformou em uma das escritoras feministas mais polêmicas da França.
O livro é um ensaio biográfico, publicado em 2006, em que a autora resgata suas vivências ao mesmo tempo que tece suas opiniões sobre a desigualdade de gênero e os papéis sociais de feminilidade, maternidade, ternura e amor cobrados da mulher, enquanto aos homens cabem sempre o papel de dominar o mundo e os negócios.
O livro traz também um novo olhar sobre a prostituição e a pornografia e foge completamente dos moralismos sociais em que estamos acostumados a ver (esse foi o ponto do livro em que eu não concordei com absolutamente nada que a escritora disse). A narrativa de Despentes é sem dúvida revolucionária, porém ameaçadora, impositiva e desprovida de qualquer acordo que possa existir entre homens e mulheres na busca por um caminho revolucionário.
Acredito que não é possível mudar o mundo sem a presença do masculino, estamos em sociedade e a busca é pelo equilíbrio. Virginie propõe um feminismo que massacre os homens, uma posição feminina de alteridade, de relevância, mas ao mesmo tempo também de opressão, por isso o livro é polêmico, crítico, revolucionário, caótico, cru, real e impossível de ser lido analisando apenas um lado da vida em sociedade. O livro é pequeno, mas o conteúdo é denso e certamente modifica o nosso olhar de sempre nos enxergar como vítimas de tudo e todos o tempo todo. Para Virginie só pode existir uma revolução quando deixarmos de ser a mulher que nos exigem e passarmos a ser a mulher que queremos e isso passa por escolher o caminho do protagonismo. Controverso e inquietante!