spoiler visualizarLuiza 24/05/2013
Um pouco mais da "Trilogia de Merlin"
O livro de Mary Stewart apresenta diferenças enormes em relação às "Brumas de Avalon" (a série de Marion Zimmer Bradley que li anteriormente).
Essa "Trilogia de Merlin" vem para o meu "universo" com inúmeras informações novas, mas a autora faz um resumo da lenda no final de cada volume (no total são três), e deixa claro que suas histórias se baseiam fortemente nas lendas originais de Geoffrey de Monmouth, que escreveu a "Matéria da Bretanha" e de onde vem muitas das lendas do Rei Artur e dos Cavaleiros da Távola Redonda.
O que me pegou de surpresa foram fatos que eu não conhecia a respeito do Ciclo Arturiano (e já estudei muito sobre esse assunto):
- EXEMPLOS:
1) Nunca tinha ouvido falar desse tal de Cador da Cornualha, filho de Ygraine com Gorlois... Seu filho, Constantino, acabou herdando o trono após a morte de Artur. Artur teria nomeado Cador e seus descendentes como herdeiros caso ele mesmo (Artur) não gerasse um.
2) Em outras histórias, quem concebia Mordred com o rei Artur era Morgana (durante um ritual pagão, considerado sagrado e parte dos Antigos Costumes). Neste livro, Morgause (às vezes irmã de Morgana, por vezes sua tia) é a "bruxa" maliciosa e oportunista que trama engravidar do Grande Rei para alcançar benefícios na Corte. Na maioria das histórias, quem encarna essa figura de feiticeira do mal é Morgan Le Fay (Morgana). Mas existem estudos de grandes genealogistas e especialistas em cultura celta que nos permite saber que Morgana era uma Alta Sacerdotisa de Avalon, não tinha nada de "Bruxa do mal", e acabou "demonizada" pela Igreja Católica, que pretendia banir o poder feminino presente em qualquer instância. Segundo Mary Stewart, há muita confusão nas lendas sobre quem teve o filho com Artur. Geoffrey de Monmouth fala que foi em Morgause.
3) Em algumas lendas, existiram duas espadas: a da pedra e a espada dos druidas (ou de Avalon). Uma era a Caliburn e a outra era Excalibur. Neste livro de Mary Stewart, Caliburn é apenas outra pronúncia para Excalibur.
Bom, e por aí vai...
O segundo volume da trilogia tem partes um pouco lentas e fiquei impaciente no miolo da história, mas esse é um defeito meu. rsrsrs
O livro é bastante descritivo, fiquei um pouco confusa com os nomes antigos das localizações territoriais da Inglaterra no século V, mas isso não prejudica o entendimento da narrativa. A história "fechou" legal, há passagens ótimas.
E agora ainda falta ler o 3º volume...
Copiei algumas passagens que me sensibilizaram:
"É um grande dom ver os espíritos e ouvir os deuses que se movem entre nós; mas é um dom tão sombrio quanto luminoso. As formas da morte são nítidas como as da vida. Não se pode conhecer o futuro sem ser perseguido pelo passado; não se pode apreciar o conforto e a glória sem o travo amargo e a fúria das próprias dívidas passadas". (pg 29)
OBSERVAÇÃO MINHA: "Viajo no tempo" lendo certos livros de época... Fico imaginando cenários e mentalidades que não conseguiríamos conceber se não fosse através desses textos tão bem estruturados.
É o caso desta "cena", quando Merlin chega a um pântano que servia como local de moradia para pessoas muito pobres no século V:
"À noite brilham fogos-fátuos e estranhas formas flamejantes no solo macio. Dizem que são as almas errantes dos mortos... O povo que vive perto dos fétidos pantanais sofre com dores nas juntas e febres intermitentes. Os homens constroem seus casebres à beira dos pântanos espumosos, quase na lama úmida, ou até em estacas sobre a água estagnada. Essas cabanas caem todos os anos e precisam ser refeitas na primavera. É nessa época e no outono que chegam os grandes bandos de pássaros para matar a sede. No verão as águas estão cheias de peixes, há caça na floresta e no inverno eles quebram o gelo e esperam que os veados venham beber água. Além disso, o lugar está sempre cheio de rãs. Eu comera esse prato várias vezes na Bretanha Menor e achara muito saboroso, realmente. Portanto, os habitantes do pantanal continuam em seus casebres, comem bem, bebem a água estagnada e morrem de febres ou intestino solto; mas não temem os fogos que surgem no pântano à noite porque se trata das almas de pessoas que conheceram".
(pg. 81)
OBSERVAÇÃO MINHA:
Enquanto o conde Ector (que era o tutor de Artur) dizia: "E posso garantir que ela saberá manter a boca fechada, apesar de ser mulher", Merlin dizia: "É falso que as mulheres não saibam guardar segredos. Quando amam, podemos confiar nelas até a morte e além, contra qualquer sentido ou razão. É na fraqueza que elas encontram a maior força"
(Pg 115)
OBSERVAÇÃO MINHA: Ah... Gosto demais desse sábio Merlin! Rsrs...
"Aprendi a prestar atenção a quase tudo o que aparece em meu caminho". (Merlin, p. 167)
"Realmente, nunca compreendi por que um homem habilidoso em seu ofício precisa admirar os príncipes. A única diferença está na tarefa de cada um." (Merlin, em A COLINAS OCAS, pg 232)
"Acredito que devemos honrar qualquer deus que nos procure. Além de ser uma coisa sensata, é cortesia. Algumas vezes penso que os próprios deuses ainda não se definiram." (Merlin, pg. 279)