O Covil do Diabo

O Covil do Diabo Júlio Ricardo da Rosa




Resenhas - O Covil do Diabo


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JoaoPedroRoriz 27/01/2017

NOVELA COM CANGACEIROS E GAÚCHOS PRENDE, CONVENCE E DIVERTE!
Não é de hoje que Julio Ricardo da Rosa surpreende. Finalista do Prêmio Açorianos em 2015 com "O Segredo de Yankev Shimidt" (Dublinense), lançou, no final de 2016, a novela "O Covil do Diabo" (Dublinense). A obra é marcada pelo enredo envolvente que mistura dois fenômenos sociais e históricos distintos que, até o momento, pareciam insociáveis: o cangaço e a cultura bélica galdéria.

Vítima de uma guerra civil nunca declarada, a plutocracia nordestina se escancara. Coronelismo e cangaço disputam o árido sertão nordestino. Quando o Coronel Ramiro Batista se vê afrontado por um cangaceiro impetuoso e determinado, manda trazer do sul alguns cavaleiros considerados supra-humanos. São lutadores incansáveis, capazes de se desviar de balas, atacar sem ser notados, degolar homens durante a batalha e atirar no inimigo sem perder o controle da montaria. "O Covil do Diabo" é o matagal onde o temível cangaceiro Valêncio Torres se esconde na caatinga. O local não pode ser encontrado facilmente. Só entra quem o diabo convida. Alheio ao ódio sentido pelo Coronel Ramiro, os gaúchos, vestidos de herói sob a manta de suas próprias condições sociais, são dotados de estratégia militar e certa dose de sadismo - característica também encontrada no temível cangaceiro e sua corja. Por "sorte", os gaúchos gostam de uma peleja e aceitam o embate. Terão que viajar de uma ponta a outra do Brasil em um vapor para travar batalhas em terreno desconhecido contra inimigos vorazes que, aparentemente, não têm nada a perder.

À exemplo de "O Segredo de Yanklev Schimidt", Júlio mantém o comportamento usual e esperado de todo autor gaúcho: aborda as sutilezas e subjetividades de sua terra natal. Mas o leitor de "O Covil do Diabo" observará, logo nas primeiras páginas, que Júlio não gosta de permanecer nessa zona de conforto. Em "Yanklev Schimidt" já havia surpreendido por descrever o cenário europeu da Segunda Grande Guerra com as assertivas de um veterano militar. Agora, em "O Covil do Diabo", apropria-se do sertão nordestino com relevância literária e poderoso arsenal de referências, que vão desde as descrições dos cangaceiros, seus sotaques e seus hábitos, até a formação bélica nos momentos de guerrilha. A intertextualidade com "Os Sertões", de Euclides da Cunha oportuniza uma exploração maior sobre o encontro improvável das culturas sertaneja e galdéria nas batalhas além do Planalto de Borborema - algo que incita a imaginação. Ao descrever os cenários sulistas, Júlio denota com sabedoria os detalhes quase imperceptíveis entre o gaúcho da capital e do interior acostumado à lida e aos enfrentamentos que o clima lhe impõem. Nesse sentido, é possível observar certa poética subjetiva na obra de Júlio. As vastas culturas brasileiras são moldadas de acordo com a historicidade e com a condição climática e social. No ínterim desse contexto, todos os brasileiros que marcam seus pés no interior e nas regiões limítrofes da Terra ostentam a mácula crônica e irreparável da sobrevivência.

O grande barato do livro mora na sensibilidade do autor em descrever os cenários, a precisão ao apontar datas e compor o enredo. Outro fator preponderante nesta leitura reside nos contrapontos das duas culturas. A obra é narrada pelos próprios personagens de modo alternado. Cada personagem apresenta seu ponto de vista de acordo com o momento da história. Julio decidiu apresentar de modo coloquial todas as inflexões dos sertanejos e gaúchos interioranos. De modo semântico, o autor apresenta os vícios linguísticos dos seus personagens, seus sotaques e desvios referentes à língua culta, o que torna a obra abrangente no campo do linguismo. A leitura torna-se ainda mais interessante por conta dessa técnica literal. Em certo momento, devido ao "sotaque" do personagem, é possível identificar o narrador sem as devidas apresentações por parte do autor.

A Dublinense acerta no modelo editorial leve e maleável, que lembra os livros antigos de banca de jornal com folhas em baixa gramatura. A introdução da obra tem letreiros que lembram os filmes de faroeste. Mesmo a capa remonta clássicos como "Três homens em conflito: o bom, o mau e o feio". Júlio conseguiu em um só feito escrever uma novela policial, histórica, com aventura, drama e bang-bang - digna de uma montagem cinematográfica no melhor estilo de Tabajara Ruas (fica a dica para o cineasta!).

João Pedro Roriz é escritor e jornalista.
E-mails para o colunista: joaopedrororiz@arteemvoga.com.br
Site: www.joaopedrororiz.com.br

site: http://www.joaopedrororiz.com.br
Drica 30/03/2017minha estante
Desse autor eu só conheço O Viajante Imóvel, que eu gostei muito, até resenhei por aqui.
Muito bom saber que outra obra dele envolve o leitor. Vou marcar esse para ler logo que conseguir.
Também fui ao seu site e achei muito legal. Muita coisa interessante, principalmente suas crônicas e livros! Parabéns!




Sailorluquinhas 22/07/2020

É uma leitura bem cansativa por adotar a língua oral das regiões do livro e ficar mudando o narrador frequentemente. É uma história aceitável, como o próprio autor deve saber não é nenhum Euclides da Cunha, porém não é de todo mal. A ideia de colocar gaúchos pra lutar contra cangaceiros é uma forçada de barra, mas tudo bem. Além da história ser muito uma ideia de que os coronéis eram o bem e o cangaço era o mal, apesar de ninguém ser flor que se cheire na realidade. A história a partir do momento do encontro com os gaúchos tem uma resolução muito rápida e diria que até simples, apesar da tentativa de explicar as táticas do gaúcho. E por fim no final existe um erro quanto ao número de personagens na última cena.
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Gorey 23/06/2020

Odiei
Sério, não quero nunca mais ter que lidar com esse livro.
Inacreditável é a palavra certa. Inacreditável como ele conseguiu diminuir os cangaceiros a mero estupradores violentos, monstros. Um interior que precisa de salvadores de outro Estado do sul do país.
Cara o ódio que eu senti lendo isso não tá escrito.
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