Lennon.Lima 03/10/2017
História americana express: experiência agradável e satisfatória.
Para quem tem interesse em conhecer novas culturas, seja por curiosidade espontânea, seja por necessidade profissional ou estudantil, mas anda com tempo curto para se debruçar em leituras quilométricas recomendo a coleção "Povos & Civilizações" da Editora Contexto.
A série tem como proposta transmitir ao leitor as características definidoras da cultura analisada em um condensado, de volume único, dos fatos marcantes que influenciaram a formação do povo a ser estudado. Faz-se um apanhado de eventos históricos que abrange os primórdios da civilização até os dias atuais, incrementando-o com informações sobre os hábitos e costumes de cada nacionalidade.
As edições contam com autores especializados, jornalistas, historiadores, professores que tiveram a oportunidade de viver dentro da cultura abordada trazendo ao leitor relatos riquíssimos.
Claro que, por se tratar de um panorama geral enxuto, não dá para terminar a leitura acreditando conhecer de maneira profunda uma sociedade com séculos de história, mas acredito cumprir com o anseio de se passar informações essenciais muito úteis para quem pretenda inserir-se em uma nova realidade.
Os Americanos
Escrita pelo professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) e Mestre e Doutor pela Universidade de São Paulo (USP) Antônio Pedro Tota, a obra foi a responsável por me fazer associar uma palavra sempre que penso no irmão do Norte de modo mais amplo, como uma unidade, antropológico: fé.
Em uma Inglaterra dominada pelo ideário católico arcaico com suas práticas e costumes repressores, muitos habitantes encontraram no Protestantismo emergente uma interpretação mais satisfatórias das escrituras hebraicas e uma visão de mundo mais consoladora. Aspirando viver em uma terra sob escrutínio de censura abrandada, criou-se no cerne de parte da população o ímpeto de se aventurar em uma viagem longa e arriscada, pelo mar, até o inabitado e misterioso novo mundo que ficara conhecido como "América". Deve-se se acrescentar que a colisão de crenças não fora o único fator determinante para tal estímulo. A Inglaterra do século XVII passou por vários períodos de crises políticas e sociais, instabilidades que contribuíram para o despertar do desejo de encontrar melhor sorte em uma terra ainda pouco explorada pelo engenho humano.
"Os pilgrims (peregrinos), como ficaram conhecidos, eram trabalhadores da terra e pequenos sitiantes que achavam que a Igreja da Inglaterra não conseguia livrar-se de dogmas e características do catolicismo, o que punha em dúvida suas relações com Deus. Resolveram abandonar o anglicanismo e a própria Inglaterra. Em um grupo de mais de cem pessoas, eles iniciaram a viagem para a América, a bordo do navio chamado Mayflower, em direção à Virgínia. Por um erro de navegação foram parar na região da Nova Inglaterra, conjunto de colônias, com limites mal definidos, no litoral norte da América, próximo ao atual Canadá. Enfrentando um rigoroso inverno, e em consequência do escorbuto, dos cerca de cem colonos, somente cinquenta sobreviveram após sua chegada, no final de 1620. Acreditaram, em razão disso, que Deus havia dado forças especiais para os sobreviventes. Sua pequena colônia, Plymouth, foi absorvida por Massachusetts Bay, um empreendimento colonial mais bem preparado."
"A 'proteção divina' estimulou outros integrantes, em especial os puritanos, uma das facções do protestantismo. Em março de 1630, uma frota de navios puritanos, sob a liderança de John Winthrop, deixou a Inglaterra, iniciando o que se chamou de a Grande Migração".
Disseminou-se entre os americanos a crença de que a superação de diversas dificuldades para se chegar a terra almejada era um claro sinal da predileção da instância divina para com eles e tinham a obrigação de difundir e aplicar seus valores aos "selvagens". Curioso que, mesmo após tantos seculos, esse conceito perdura até hoje apesar de bem mais arrefecido e de já não se haver uma quase totalidade pró cristianismo; integra o discurso oficial para justificar, por exemplo, a expansão norte americana mundo afora e as suas inúmeras intervenções. É necessário "civilizar" regiões pouco assistidas com recursos e conhecimento, apresentar o "mundo livre".
Claro que duvido muito que a maioria dos agentes políticos que se utilizaram, e os que utilizam o argumento, realmente acreditavam da plausibilidade desse "dever divino" e apenas tentavam angariar apoio popular para medidas inglórias, e a considerar o discurso do mais recente presidente eleito, tornou-se um estratagema de comunicação sem efeito significativo, mas por muitos anos serviu como infalível pretexto para engordar contas bancárias tal o enraizamento na cultura americana da fé indiscutível quanto a própria grandeza e responsabilidade.
Mas esse é apenas um aspecto levantado. Obedecendo ao princípio da coleção, o texto espraia-se em diferentes períodos, como Primeira Guerra, a Era Roosevelt, Hollywood, Cultura de massas, Era Obama e outros tópicos.
Recomendadíssimo!
site: https://cartolacultural.wordpress.com/2016/12/24/descobrindo-povos-e-civilizacoes/