Laís 16/07/2021
Candle in the wind
“And it seems to me you lived your life like a candle in the wind" E é assim, embalada nos versos de “Candle in the Wind”, composição de Elton John e Bernie Taupin, que eu começo a resenha da biografia de Marilyn Monroe.
Norman Mailer foi um jornalista e escritor norte americano, premiado duas vezes com o Pulitzer e é considerado ao lado de Tom Wolfe e Truman Capote como um dos pais da não-ficção criativa. Embora tenha gostado muito, o livro de Mailer tem um quê de folhetim e é claro, seria impossível resumir a vida de uma das maiores estrelas que o mundo jamais conheceu em apenas 350 páginas. O próprio Mailer disse que o livro, que primeiro foi concebido como um prefácio para outro livro e acabou virando uma biografia romanceada, foi escrito rapidamente e com intuito de alavancar as vendas trouxe à tona histórias que carecem de comprovação, como o affair com os Kennedy's ou seu suposto assassinato encomendado. O texto de Mailer, à mim, tem um tom um pouco machista, eu diria e também datado quando ele alfineta repetidas vezes Richard Nixon, então presidente dos EUA na época que o livro foi escrito.
O livro passeia pelos principais momentos da vida de Marilyn, a infância, a sexualidade precoce, o inicio da carreia de Pin-up que a levou à Hollywood, assim como suas polêmicas, o ensaio nu que ela fez no inicio da carreira, os 3 casamentos, alguns dos casos, os abortos (são apenas mencionados e de uma forma um tanto quanto sensacionalista), vida pessoal e profissional daquela que quando criança passou pelo sistema de lares temporários e orfanatos e saltou das lentes das câmeras fotográficas direto para o Estrelato, um verdadeiro cometa que cruzou o firmamento cujo rastro de poeira perdura até hoje.
Nascida Norma Jean (ou Jeane), em 01 de Junho de 1926, era filha de Gladys Monroe Baker, funcionária da Consolidated Film Industries, o que já seria um presságio para o futuro da filha no Cinema. Embora tenha herdado o sobrenome do segundo marido de Gladys, Marilyn nunca conheceu seu verdadeiro pai. A insanidade era como um fantasma na vida de Marilyn. Gladys passou a maior parte da vida da filha, internada em instituições e sua avó Della Monroe Grainer foi internada num manicômio quando Marilyn ainda não tinha 2 anos e por lá morreu.
O “anjo loiro do sexo” era tímida, discreta em sua privacidade, bem distante do visual “Femme Fatale” consagrado pela publicidade, dotada de uma voz que mais parecia um sussurro, quem a via sem maquiagem dizia que ela parecia uma criança. A imagem de Marilyn tal qual seu nome, foi concebida nos Estúdios; o cabelo de um loiro escuro, quase marrom, foi descolorido, os dentes corrigidos, o nariz, ligeiramente bulboso foi modificado cirurgicamente, assim como alguns detalhes na linha do maxilar, mas uma coisa nenhum Estúdio poderia ter tê-la ensinado, o seu talento para com as câmeras, unanimidade entre os fotógrafos que capturaram sua imagem, diziam, “a câmera ama Marilyn” e se perpetuou quando trocou as lentes das câmeras fotográficas pelas filmadoras.
Nem todo glamour e fama puderam preencher a vida de Marilyn, foi a solidão ou os remédios que a mataram? Passou boa parte da vida profissional buscando afirmação, era talentosa e dedicada, fazia aulas de atuação e canto, mas não era levada a sério, repetindo nos filmes o estereótipo da mulher ultra mega sensual mas desprovida de inteligência, engraçada mas tola, linda mas sem cultura; terá Marilyn propagado o estigma da loira burra? O ícone da Cultura Pop era atormentada por depressão e uma insônia crônica que a levou ao vício em barbitúricos e à morte por overdose (acidental ou não), teve sua vida cercada por mistérios (o que a imprensa não sabia, inventava) e sua morte de teorias conspiratórias, uma vez que ela morreu sob os rumores de ter um caso com não um mais dois dos Kennedy’s, o que jamais foi provado. Perseguida pela imprensa durante toda a vida e até em sua morte teve seu corpo objetificado quando os tabloides se encarregaram das manchetes que diziam que Marilyn foi encontrada morta nua.
A música citada no início, foi escrita em 1973, mesmo ano de lançamento desta biografia, quando a morte de Marilyn completava onze anos, fruto da longa parceria entre Elton John e Bernie Taupin. Elton, que é um grande fã de Marilyn, a fez como um tributo à sua persona. Curiosamente uma versão dessa mesma canção foi feita, em 1997 à pedido da Realeza Britânica para o funeral de Lady Diana, a princesa do povo, que morreu em decorrência de um trágico acidente de carro enquanto fugia com seu namorado do assédio dos paparazzi no túnel Ponte de l’Alma em Paris. Com algumas mudanças nos versos e nesta o Adeus era à “Rosa Inglesa”, uma única canção uniu duas mulheres que morreram no mesmo mês, Agosto, e com a mesma idade, apenas 36 anos. Velas ao vento.
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