Caverna 28/10/2017
Jocelyn e Madge são duas enfermeiras amigas que foram contratadas para trabalhar no hospital do Brookline. Ambas estão empolgadas com a oportunidade, e as primeiras semanas transcorrem tranquilamente. É uma época de adaptação, e provavelmente a vida de Jocelyn teria seguido calma se não fosse pela noite em que gritos a alarmaram.
Jocelyn teve familiares doentes em casa, o que a incentivou a seguir a carreira de enfermeira, mas também pois queria fazer o bem. Os pacientes do hospital eram separados de acordo com a gravidade e temperamento, e Jocelyn não havia tido problema algum com eles, até o grito no meio da madrugada. O som agressivo reverberando pelas paredes era de um desespero intenso. Jocelyn resolve seguir o barulho, que claramente vem de uma criança, e chega ao porão do hospital, encontrando algo que a aterroriza.
Nos dias que sucedem o evento, Jocelyn espera por uma punição vinda do diretor, Daniel Crawford, que não chega. O que acontece é exatamente o oposto. O diretor Crawford solicita sua presença, questiona o que ela pensa que viu naquela noite, e se ela aceitaria fazer parte de um projeto.
O projeto inclui estudos nos pacientes mais difíceis, como a menina, Lucy, que estivera gritando. Ela é arredia e xinga num idioma incompreensível à Jocelyn. Constatando o estado em que a pobre menina se encontra, suja e agressiva, ela topa participar do projeto com o objetivo de fazer de tudo para salvar a menina. Ela não deixaria que aquele estudo fosse longe demais. “Mantenha os amigos perto e os inimigos mais perto ainda”. Só assim ela poderia ficar de olho no que o diretor estava aprontando.
Crawford convidou Madge para o projeto também, imaginando que Jocelyn cederia mais facilmente dessa forma. Madge é uma moça estupendamente bela e chama a atenção de todos os homens do hospital. Ela é designada à outro garoto do projeto e, aos poucos, Jocelyn percebe sutis mudanças nas atitudes da amiga, como se algo estivesse a incomodando.
O que estaria acontecendo com seu paciente? E Lucy, será que conseguiria deixar de ser apenas uma cobaia para Crawford? Jocelyn vai enfrentar o diretor? E Crawford, aliás? O que ele pretende descobrir com os experimentos?
Pra nós fãs de Asylum, sabemos bem que Jocelyn deveria ter saído correndo do hospital no momento em que escutou os gritos. Mais pra frente, Madge traduz os xingamentos de Lucy, que eram espanhóis, e eu garanto que até corre um arrepio na espinha ao descobrir o que eles significam.
Apesar de o volume ter apenas 90 páginas, é incrivelmente fácil se afeiçoar com Jocelyn. Uma moça altruísta e generosa que esperava apenas encontrar uma vida boa, mas que acaba por desenvolver uma língua afiada quando perto do diretor.
O diretor, por sua vez, continua sendo a nossa incógnita, assim como na série inteira. Esse é o primeiro volume que temos personagens de fato interagindo com ele, e não conhecendo-o através de fotos e textos, e Madeleine soube manter o mistério ao redor dele com firmeza. Daniel Crawford, diretor do hospital do Brookline, é exatamente isso: Misterioso. E bonito. Jocelyn relata que ele parece jovem, de aparência atraente. No entanto, suas atitudes dizem o contrário. Desde a primeira conversa deles, Jocelyn se sente um pouco intimidada, como se tudo nele exalasse perigo. Ele é um homem paciente, mas perturbado. Como se enquanto ele estava calmo à sua frente, a mente dele turbilhava.
A história do nosso protagonista Dan e seus amigos teve um desfecho concreto em Catacomb, mas eu aceitaria de bom gosto um volume sendo narrado pelo diretor, contando sua história em suas palavras. Em noventa páginas, o destino de Jocelyn é incerto, um final que não é um final, mas aparentemente o início de tudo. E ainda que a leitura seja curta, ela desperta uma curiosidade grande acerca do passado de Crawford e seus ideais. Ele tem vários tiques nervosos, o que nos faz pensar no que ele viveu, no que ele pensava enquanto submetia os pacientes à experimentos. Sentia ao menos um pingo de remorso? Através de trechos do diário dele, temos vislumbres de humanidade nele, mas ainda assim é pouco.
Daniel Crawford é basicamente o vilão de Asylum, então sim, ele merecia um volume só dele. Eu não dava nada por O Diretor, e de fato é uma história curta e superficial, mas que envolve e abre caminhos para a nossa imaginação.
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