Alecio Miari 23/10/2023
A alquimia de se escrever um livro para ser vendido
Recomendado por uma booktuber como livro de entrada para o autor, se você tivesse algum interesse em ler obras dele, acabei achando sem querer o livro em uma estante e resolvi arriscar.
De imediato me surpreendi com a história se passando em Andalucia na Espanha, não entendia como um autor brasileiro escrevia sobre um pastor de ovelhas viajando de cidade em cidade com seu rebanho oferecendo lã para os locais. Mas a escrita era envolvente e a surpresa não foi necessariamente ruim.
Santiago, o pastor, passa com uma cigana para saber o que significa seu sonho sobre um tesouro que o aguarda nas pirâmides do Egito. Enquanto está refletindo sobre isso, além de divagar em seus pensamentos sobre sua vida, eis que ele se encontra com homem que se diz ser rei de algum lugar whatever (nem lembro o nome, dane-se).
Ambas as interações de Santiago me lembraram MUITO o Pequeno Príncipe. A história já estava um pouco sendo puxada para o estilo daquele livro, mas quando ele começou a efetivamente interagir com outros personagens eu praticamente via o pequeno príncipe lá.
Acho que uns 30% do livro já tinham ido e nada de alquimista, só o pastor andando, pensando, refletindo e sendo direcionado a abandonar tudo e buscar este tesouro, que aparentemente representava a busca pelo objetivo de sua vida.
Vende as ovelhas, vai pro Marrocos e é enganado no primeiro dia lá. Perde todo o dinheiro da venda do rebanho e está sozinho e perdido em um país que só fala Árabe. Arranja um trabalho em uma lojinha de Cristais e começa a colocar ideias suas em prática que ajudam a aumentar as vendas.
Com um salto de 1 ano, o pequeno príncipe ainda está lá trabalhando, parece que perdeu de vista seu objetivo de ir atrás do tesouro. Mas acaba tendo aquele fogo reacendido e toma a decisão de ir até as pirâmides, já que ele possui dinheiro suficiente com o trabalho de um ano.
Encontra um inglês que está à procura do Alquimista. (Ah, aí está quem a gente esperava já faz quase meio livro) e eles acabam tendo algumas interações, cada qual expondo seu mundo e suas percepções. Muito parecido com o piloto inglês que o pequeno príncipe encontra no deserto (!).
Conforme o livro passava, parecia que ia sendo adicionados novos elementos nesta salada e você ficava perdido em imaginar para onde o caminho iria levá-lo. Guerra entre tribos no deserto, guias com visões, inglês tentando fazê-lo ler seus livros, ele fazendo o inglês aprender com o deserto, oasis com milhares de árvores, uma nova paquera....
O inglês tentava tão arduamente a aprender com este alquimista que vive no oasis e adivinhe? O nosso pequeno príncipe atrai sua atenção e ele o coloca sob sua asa como aprendiz e ambos embarcam na última parte de sua jornada para chegar às pirâmides
Nessa hora o baseado rolou solto e ele, enquanto está tentando “virar vento”, conversa com o vento, conversa com o deserto, com o Sol, com aquele que guarda todas as respostas do Mundo, quase é morto, apanha pacas, perde tudo de novo e perde tudo de novo... para no final voltar para sua cidade, pois é lá que o tesouro está.
Na minha visão o livro foi escrito todo pensado em atingir o maior número de possiveis leitores de maneira que aumentasse a probabilidade de vender a história. A espinha dorsal é escarradamente a mesma estrutura de O Pequeno Príncipe, livro mundialmente reconhecido e orgulho do povo Francês.
Um garoto que anda pela Espanha me parece abocanhar leitores da Europa que já passearam por aquelas bandas. Quando ele viaja à Africa e passa a interagir muito com a religião muçulmana soa muito como colocando suas fichas neste outro balde de leitores que possui muitas possibilidades.
Pensamentos de vida mesclados com elementos fantasiosos são a cereja do bolo sendo adicionados neste caldeirão todo.
O livro não é ruim, mas também não é bom. Eu não leria de novo, nem recomendaria à alguém, mas também não me arrependo de ter lido. O autor vendeu muito em muitas linguas, então ele tem sim mérito em toda a construção da narrativa porque, por mais que me pareça que há muitos elementos para abocanhar diferentes tribos, ele obteve muito sucesso em conseguir amarrar tudo isso.
Até o próprio nome do livro é voltado para a venda. Poderia ser “O pastor de ovelhas” ou “O vendedor de Cristais” por exemplo, mas “O Alquimista” chama muito mais a atenção e faz seu imaginário viajar sobre o que seria isso.