Renata CCS 09/02/2016DissemiNação.
“Os mais próximos de nós, seja no amor ou no ódio, são nossos intérpretes do mundo.”
(George Eliot)
Com uma escrita limpíssima, direta e também extremamente delicada, Jhumpa Lahiri nos presenteou com INTÉRPRETE DE MALES, livro composto por nove contos, nos quais ficamos fascinados pela capacidade de observação que a autora consegue imprimir sobre a realidade de suas personagens.
Lahiri é uma espécie de narradora intérprete entre o Ocidente e o Oriente. Todos os personagens são indianos radicados nos EUA ou americanos de origem indiana, e sempre com algo em comum: a procura de uma identidade, sem deixar de lado sua origem, a cultura natal e suas heranças históricas. De certa forma, o que a escritora faz é delinear uma linha divisória entre dois mundos, americano e indiano, e depois denegrecer essa linha ao longo da narrativa.
O confronto com o sentimento de inadequação, a solidão e saudades são constantes entre os personagens, que se aproximam e divergem a partir da identificação de suas vulnerabilidades e fragilidades. A autora empenha-se em cuidar de todas as situações sem sarcasmos, e com uma sensibilidade que rejeita qualquer drama em nome de uma sinceridade ampla e benevolente.
Embora nenhum dos personagens consiga descobrir a fórmula para o fim do distanciamento entre si e o resto do mundo, os contos são excepcionalmente maduros e nem um pouco derrotistas. Apesar de tratar de situações delicadas e difíceis, o livro está longe de ser dramático ou piegas.
Desconfio que muitas situações podem ser experiências da própria autora, filha de indianos nascida em Londres e criada nos EUA. São muitas as lembranças e heranças mescladas à constante falta de habilidade com um mundo diferente, fazendo com que os personagens se tornem verdadeiros intérpretes de significados, novos e antigos.
Cuidadosa e precisa, Jhumpa Lahiri nos prova que é preciso fazer com que as pessoas entendam o significado de ser estrangeiro. Sim! É o ser estrangeiro que está em evidência. Indivíduos que são estrangeiros dentro de seu próprio país.