Driely Meira 26/12/2016
Amei!
“A vida é uma aventura, não um passeio. É por isso que é difícil. ” – página 360
Alex não é o que se pode chamar de pai presente, ou participativo na vida do filho. Tendo problemas com o trabalho e até mesmo com a criação de Sam, ele passa os dias longe de casa, e não é uma pessoa fácil de se lidar, de forma que, além de tomar conta do filho 24 horas por dia, Jody ainda tinha que lidar com o marido. Até que, um dia, ele é expulso de casa e vai morar com o melhor amigo, Dan.
Para completar, pouco tempo depois ele perde o emprego, e é “obrigado” a passar mais tempo com o filho. Tempo este em que ele fica temeroso sobre qual Sam irá encontrar (dependendo do humor dele), e se sente desconfortável por não saber como agir. Era Jody quem acalmava Sam quando ele se exaltava, e era ela quem passava os dias aguentando seus ataques de fúria e todo o resto. Alex apenas pagava as consultas e o que mais eles precisassem.
É, eu sei, Alex parece ser um homem ruim, e foi o que eu pensei a respeito dele no começo do livro. A forma como ele inventava desculpas para não ficar com Sam, pouco se importando se Jody precisava ou não de um descanso ou de ajuda, o fato de ele evitar estar com Sam e parecer teme-lo. Mas, ao longo do livro, nós percebemos que Alex não é um cara ruim. Sim, ele evita Sam, mas por não saber lidar com ele, por medo de fazer algo que o irrite e não saber como fazê-lo parar depois. Ele inventa desculpas por estar preso num acontecimento traumático do passado que ainda o assombra, e tem medo de que aquilo possa se repetir com o filho.
Enquanto eu paraliso, recuo e me retiro, Jody o pega pela mão e o guia. Eu sou um merda. Tenho que parar de ser um merda. – página 143
Alex é um personagem angustiado que se culpa pelo tal acontecimento do passado, mas ele também se sente perdido em relação a Sam e o que o filho vê e absorve do mundo. Como será que Sam o via? Será que ele sentia falta do pai, será que percebia que Alex não morava mais com Jody, e será que ele, um dia, será como as outras crianças?
Eis que Sam ganha um Xbox e passa a jogar Minecraft, e tudo começa a mudar. O vocabulário de Sam se expande, ele passa a progredir em alguns aspectos e até deixa que o Alex chegue mais perto, de forma que um relacionamento entre pai e filho começa a aflorar, ao mesmo tempo em que Alex passa a dedicar-se mais à Sam e percebe que precisa fazer o mesmo em relação ao seu casamento, ou poderá perder Jody para sempre.
Não sei o que fazer com relação a mim e a Jody, realmente não sei. Mas vou entender o Sam; vou aprender tudo sobre o autismo ou sobre Minecraft, um dos dois. – página 90
Eu não sabia o que esperar deste livro, mas confesso que estava um pouco receosa em relação à escrita, por isso enrolei um pouco para lê-lo. E qual foi a minha surpresa quando comecei a ler e não conseguia mais parar? Keith conseguiu fisgar minha atenção já no começo com sua escrita leve, rápida e divertida (chegando a engraçada em alguns pontos, e emocionante em outros), e o livro acabou num piscar de olhos, o que me surpreendeu, já que ele possui quase 380 páginas.
Eu fiquei completamente encantada com Sam, principalmente porque ele é dono de uma sensibilidade incrível, e eu ficava cada vez mais intrigada em relação a ele, pois podia ver que ele era muito inteligente, e seu entusiasmo com o Minecraft sempre me fazia sorrir. Me doía sempre que Alex ou Jody perdiam a paciência ou gritavam com o menino (na verdade, faziam ambos), mas sabia que nem todos conseguiriam se segurar em momentos como aquele, então também não conseguia sentir raiva deles.
Por causa do autismo, não somos eu e Jody. Somos eu, Jody e o problema do Sam. É essa a sensação que dá. Mas eu não posso dizer isso. Não posso nem pensar isso. – página 17
Além disso, o autor também deu o devido destaque a Emma, irmã de Alex; Dan, seu melhor amigo; Matt e Clare, amigos do casal, e até mesmo outros personagens, o que fez com que eu gostasse ainda mais da obra, pois ela não focou só na família do protagonista. Além disso, o final foi tão incrível que me pegou de surpresa, e eu fiquei emocionada e não conseguia parar de sorrir, pois foi lindo!
O menino feito de blocos é uma obra que faz o leitor não só refletir, mas também se apaixonar pela trama e pelos personagens, pelos seus problemas, seus dramas, seus medos. É um livro que fala sobre autismo e sobre como lidar com ele, fala sobre família, sobre amor, sobre as dificuldades enfrentadas pelo protagonista e também sobre ser humano. Livro mais do que recomendado.
Os espaços nos quais somos capazes de nos comunicar estão diminuindo – preciso fazer de tudo para que eles não se fechem para sempre. – página 115
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