Bruna.Patti 17/12/2017
Paisagem de Outono
Resenha
Livro: Paisagem de Outono – Estações Havana
Autor: Leonardo Padura
No quarto livro da tetralogia Estações Havana, acompanhamos mais uma investigação criminal do detetive Mário Conde. Estações Havana é uma série literária, composta por quatro livros, cada um deles se passando em estação diferente do ano de 1989, ano da queda do Muro de Berlim: Passado Perfeito, que se passa no inverno; Ventos de Quaresma, na primavera; Máscaras, no verão, e finalmente Paisagem de Outono, que como o nome já diz, se passa no Outono.
Nesse último livro dessa série, acompanhamos Mário Conde tentando encontrar o assassino de Míguel Forcade, um homem que fora em vida, expropriador de bens. Ele pegava os bens das famílias que possuíam estátuas valiosas, quadros e entregava ao governo, não sem antes um pequeno desvio aqui e outro acolá. Por essa profissão, e por sua personalidade sórdida, era odiado por grande parte de seus conhecidos. Um dia, após uma viagem à URSS se exila na Espanha para depois ir viver em Miami, casa-se com Miriam, uma jovem, bem mais nova que ele, e retorna à Cuba com a desculpa de ver seu pai doente. Nesse ínterim, acaba sendo assassinado de maneira brutal e seu corpo é achado no mar.
Aliado à toda essa trama, temos um furacão chegando em Havana, que promete arrasar com a cidade, levando tudo que encontrar pelo caminho. Além disso, temos a continuação da investigação policial iniciada no livro anterior.
Nessa obra, recheada de metáforas e analogias, pode-se dizer que podemos encontrar o livro mais melancólico e nostálgico da tetralogia. Todos os volumes trazem um quê de nostalgia, porém nesse último volume, temos essa sensação exacerbada, combinando perfeitamente com a estação retratada: outono. No outono, temos a sensação de que todos os fins de tarde são um pouco tristes, o vento que sopra ao anoitecer, nos traz uma saudade do que ainda não vivemos. É esse sentimento que a leitura desse livro me proporcionou. Saudade do que podemos ainda viver.
A metáfora do furacão é a mais genial do livro: ele representa as mudanças que atingiram não somente Cuba, mas o mundo todo, com a culminância da queda do muro de Berlim, que representou o fim de uma era, o inicio do fim do socialismo na Europa. O furacão arrasta tudo, destrói a ilha, mas não traga o que Conde e todos os cubanos tem de mais forte: a memória. O muro de Berlim, não por acaso, teve sua queda ocorrida em 9 de novembro de 1989, um mês após a data em que o livro termina, que se deu em 9 de outubro de 1989, dia do aniversário de Conde e de Padura.
Ao longo de todos os volumes dessa série, acompanhamos o crescimento de Conde, um personagem cada mais vez intimista, que nos revela ser um policial deslocado, que não possui e nunca possuirá o ethos policial.
Fico imensamente feliz e contemplada por ter conhecido um autor tão completo como o Padura,- fato este que se deu meramente por acaso - e poder acompanhar as histórias escritas por ele. Recomendo a leitura de todos os volumes da tetralogia, se possível, na ordem, para que haja um acompanhamento eficiente do sentimento que Padura tenta nos traduzir em palavras.
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