Revelações

Revelações Luiz Walter Furtado




Resenhas - Revelações


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Penalux 06/11/2017

A liberdade do pensamento
Há poesia no voo dos pássaros, há poesia nas dúvidas, há na existência enigmas, e estes enigmas o que são senão poesia? Luiz Walter Furtado traz em sua poética os temas da morte, que para ele enquanto médico, servem como uma afirmação e uma lembrança da brevidade da vida, da fragilidade da existência. Este mesmo lidar rotineiro com a morte o leva a aceitar a sua naturalidade, como no poema “A foice, / em mãos não menos desconhecidas, / segue seu rito / de renovar / a vida.”
Enquanto alma insaciável, o poeta também discorre sobre fatos cotidianos, a atividade do pensar, para ele, é graça concedida ao homem, como meio de libertação, pois nas suas divagações é quando ele se sente de fato inteiro, “são esses os meus momentos / da mais rara claridade / no rigor do pensamento / o sonho tem liberdade / de profundos devaneios”.
Sua poesia é construída por estrofes livres, que se flexibilizam quanto a estrutura, algumas contém três linhas, outras se estendem para cinco, seis linhas. Já a sua rima, segue entre palavras que se sonorizam similarmente, e outras que tem terminações idênticas. Estes casamentos entre palavras, são frequentes na sua poesia, que é lírica conquanto musical e rítmica “Parada numa esquina, sozinha ela me espera / vestida em trapos rotos, a rua tão deserta / na cor da sua face, me assusta a descoberta / A minha musa é magra, se bem que ainda bela”.
Com o tema do cotidiano, o poeta cheio de perguntas, e algumas respostas, as quais encontra no processo da escrita, compartilha com o leitor sua visão lírica sobre a morte, sobre a beleza, sobre o tempo. Suas poesias tão livres de regras, adaptam-se ao fluxo intuitivo do escritor, que ora formaliza a poesia, ora a liberta para encontrar na imagem poética e na lírica, um espaço de liberdade, no qual o pensamento pode-se moldar em belas formas.
Luiz Walter Furtado 15/12/2017minha estante
Muito feliz em ter uma leitura tão lúcida!




Krishnamurti 15/11/2016

Memória, tempo & Poesia revelada
Memória, tempo & Poesia revelada

Por Krishnamurti Góes dos Anjos (*)

Porque possuímos a capacidade de distinguir dois instantes como sendo um anterior e outro posterior, tempo e memória se imbricam em nosso ser. Como bem o aponta Paul Ricouer, a memória, que é do passado, se revela também através da poesia porque exprime a originalidade da existência humana. “Revelações” é a obra de estréia na literatura do poeta e médico mineiro Luiz Walter Furtado (Editora Penalux, Guaratinguetá-SP, 2016, 142p), que reúne quase uma centena de poemas divididos em blocos, a saber: Luzes e sombras, Faces da solidão, Abismos dos corpos e Cores da memória.
A primeira estrofe do poema “Viver o dia” (p.26) começa a nos deixar entrever, ainda que timidamente, certa minúcia de olhar que o autor persegue:
“A manhã,
penetrando frestas da veneziana,
desenha faixas douradas,
onde se vê a agitação
das minúsculas partículas de poeira,
nesse pequeno espaço de luz
onde nasce meu dia”.
“Minúsculas partículas de poeira” subitamente iluminadas pela luz solar despertam um estado poético que se acentua, ou melhor se viabiliza por um processo de recordação gradativa como objeto de busca, esforço espiritual de rememoração onde memória e imaginação entram numa espécie de curto-circuito no qual decorre a poesia de Furtado. Efeito explicitado no poema que dá título à obra. Duas estrofes do poema “Revelações”(p.28):
“Escreveu um livro / o antigo eremita / Os olhos nublados, / as mãos tremulando / sobre o meu caderno
Escreveu aflito / palavras tremidas / Sabendo que o tempo / se fazia findo / sobre seu destino”
Em outros poemas a memória irrompe por meio da reminiscência, que insere uma dimensão temporal não-cronológica, remetendo ao tempo poético da qual a palavra é oriunda da memória. Há ainda poemas que alargam a memória numa extensão da historicidade (o autor vive na cidade histórica de Ouro Preto-MG). Poema “Ouro Preto” (p.50):
“Metal e cidade profetizando / duas vertentes da vida e do amor / e as antíteses do barroco
O amor dourado dos salões de dança com / damas brancas / em vestidos brancos / e o amor negro furtivo. Seres cansados, / trajando farrapos, / amando entre chagas abertas, nas entranhas / frias das minas”
Há também dentro dessa perspectiva poética que o autor abraça, a lembrança como representação presente de uma coisa ausente. Qual a relação entre o objeto que lembramos e a sua marca deixada em nossa memória? É pergunta que nos fazemos ao ler o pequeno poema de duas estrofes “A bailarina de louça” (p.121).
“Na cristaleira corroída, / a linda bailarina de louça / insiste em dançar sua valsa / de sobrevivente
Pisa cacos, indiferente / ao que resta ao redor / de ausência.”
O poeta possui uma grande consciência da relação entre o trabalho de rememoração e nossa temporalidade de homens perecíveis. Sabe, e nos lembra, que, todavia, a memória é uma instância essencial, sem a qual não existe a realidade. A interferência constante da memória reconfigurada na poesia de Luiz Walter Furtado cria novos valores, propõe reflexões sobre essa linha tênue na qual nos equilibramos (passado, presente, futuro), a que chamamos tempo, e vai se depurando até uma verdadeira epifania (súbita sensação de entendimento ou compreensão), que ocorre nos últimos poemas do livro. Compreender-se a si mesmo, e passar as lições da vida a limpo é, nesses tempos sombrios que atravessamos, aquilo que Santo Agostinho menciona: A grande esperança presente das coisas futuras.
Em tempo. O soneto “Prego na parede” (p.139), é uma pedra preciosa desencravada do mais puro lirismo. Aqui transcrito para deleite.
“Prego na parede

Enquanto numa sala os homens riam
Mulheres conversavam na cozinha
Assim que pela casa aconteciam
As festas, os natais, tudo que havia

E nas paredes velhas descascadas
Os quadros ancestrais ali expostos
Dos quais só resta um prego pequenino
Assim, meio pregado, meio torto

E dele já não sei se mais me assusta
A parte que se adentra na parede,
Que já sabia as sombras desse tempo,

Ou se a parte exposta sempre à luz,
Que hoje, já coberta de fuligem,
Sustenta a sombra imberbe do que fui.”
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