Ensaios sobre o mundo do crime

Ensaios sobre o mundo do crime Varlam Chalámov




Resenhas - Ensaios sobre o mundo do crime


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Antonio 04/02/2022

Reflexões sobre os campos e seus habitantes
Este não é um livro de contos como os demais desta coleção, mas um livro de reflexão do autor sobre o que viveu e sobre a forma como a literatura aborda essa realidade. Dentre os vários temas que aborda, um exemplo é uma crítica à romantização dos criminosos pela literatura, especialmente porque os criminosos profissionais têm muito poder nos campos e tornam a vida dos demais detentos um inferno, sendo responsáveis por inúmeras mortes e violências. Esta obra ajuda a compreender o pensamento do autor e os temas de seus contos.
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Érika 26/12/2021

Não está no centro do ciclo à toa
“Ensaios sobre o mundo do crime” é o 4º livro do ciclo “Contos de Kolimá”, de Varlam Chalámov, uma das obras mais importantes da chamada literatura do Gulag. É, também, a menor obra do ciclo e a única composta de textos de não-ficção. Por que Chalámov escolheu esse formato e esse ponto na coletânea para se debruçar sobre o tema dos criminosos convictos (blatares)?
Uma possível resposta para essa pergunta talvez seja a importância que ele confere ao fenômeno dos blatares: para o autor, eles são o elemento corruptor dos campos de trabalho, o centro de onde flui toda a maldade, que contamina de detentos a médicos a autoridades. Acabar com a romantização do mundo do crime na literatura é uma das únicas “causas” que Chalámov parece abraçar em sua obra. Se, para retratar o resto, ele usa o conto, a ficção, que, por sua natureza, sempre deixa uma margem mais aberta para a interpretação do leitor, ele interdita ao leitor essa margem quando o assunto são os blatares: sobre eles, afirma categoricamente — não são humanos. E põe-se a provar seu ponto em textos expositivos-argumentativos.
O primeiro ensaio critica a retratação do mundo do crime na literatura, propondo o problema que Chalámov quer combater. Em seguida, em “Sangue vigarista”, ele explica o que são os blatares, como se formam, como se comportam, o que os diferencia do criminoso comum — que pode até ser reincidente ou criminoso habitual, mas não se submete à “lei” do mundo do crime. Esses temas são expandidos em “A mulher no mundo do crime”, “A ração carcerária” e “A guerra das cadelas”, em que o autor explora, comprova e repisa o ponto da desumanidade dos blatares, desfazendo mitos como o código de honra dos bandidos, a proteção oferecida a médicos ou o amor deles pela mãe, apontando que, nas suas batalhas, não há lados bons, e tentando compreender o seu mundo. Em seguida, porém, vêm três ensaios cujo tema parece contradizer a afirmação de que os blatares não são humanos, pois focam no senso estético do grupo e em suas formas de expressão artística. Para Chalámov, a arte é, de certa forma, um sinal de humanidade, e ele admite a contragosto sua presença nos blatares – ainda que de uma arte reduzida, simplista, dramática e “falsa”. Chega a mencionar por nome e com certo respeito dois blatares que conheceu que até gostavam de ler. Esses resquícios de senso estético parecem deixa-lo perplexo, mas não elide a convicção no axioma anteriormente citado. Por isso, o autor vê com ceticismo ideias de reeducação e “reforja” pelo trabalho, especialmente porque, segundo ele, blatares nunca trabalham, isso contraria a lei da bandidagem.
O livro tem como posfácio com dois textos que não fazem parte do ciclo original, o ensaio “O que vi e compreendi no campo de trabalho”, uma lista de 46 itens que sintetizam de forma sucinta e perfeita os pensamentos espalhados por todo o ciclo, retratados nos contos, e uma carta de Chalámov a Soljenítsin, expressando suas opiniões sobre a novela do outro, “Um dia na vida de Ivan Deníssovitch”, a primeira obra da literatura do Gulag a ser publicada na URSS, em 1962. Entre elogios e discordâncias, Chalámov repisa e expande alguns axiomas expostos na lista.
Vê-se que o livro não está no centro do ciclo à toa. Parece-me que, lendo tudo na sequência correta, o leitor se beneficia da experiência que o autor pretendia proporcionar, narrando, primeiro, dezenas de casos dos que ajudaram a formar suas convicções sobre a vida no campo, e só então expondo essas convicções em forma textual e inequívoca. Assim, o leitor vê de onde o autor está partindo para chegar àquelas convicções. Só de ter lido o livro 1 inteiro e parte do 2, já consigo entender posicionamentos que, em uma leitura crua, pareceriam muito duros.
Um último ponto a ressaltar é a discrepância entre a escrita literária de Chalámov e sua não-ficção. Curiosamente, os textos de não-ficção, mesmo bons, são tecnicamente inferiores à prosa literária dele. Ele gira um pouco em torno de algumas ideias e alguns de seus arremates soam como conclusões de redação. Assim, mesmo tratando de fatos graficamente mais pesados que muitos dos contos, o livro pôde ser lido mais rapidamente, por não provocar um impacto emocional tão forte quanto os contos. Porém, continua sendo um livro excelente e crucial.
pdr 05/01/2022minha estante
moça, faz um blog, suas resenhas são muito boas.




Lopes 25/06/2018

a essência (des)natural do ma(l/u)
No quarto volume dos “Contos de Kolimá”, Varlam Chalámov, excede a construção literária e transforma seus escritos em contos de reflexões ensaísticas. A escolha parece um diagnóstico da estafa sofrida pelo autor, que já na apresentação deste volume descreve como sua alma se sente com relação aos criminosos nos campos de concentração russos e sua representatividade nas artes de seu país. Os contos ensaios propõe uma revisão sobre o assunto. Diferente dos outros volumes anteriores, em “Ensaios sobre o mundo do crime”, Chalámov prefere ser sucinto e direto em seu olhar e descrição deste universo. Faz as devidas divisões com relação a quem faz o mal e quem o incorpora. Tais ensaios desenvolvem um corpo físico que corrobora o estado natural das coisas, criando e recriando proporções devidamente encaixadas na rotina das prisões. As facções amparam seus parceiros de forma duvidosa, mas com garantias, excedem leis, como qualquer grupo rebelde, e traçam perfis para cada posição da hierarquia criminosa. No entanto, segundo o autor em seus contos, tais grupos cometem muito mais que crimes, eles confabulam métodos extremos de terror sem justificativa para com os outros presos. São também alimentados pelo sistema dos soldados, que estabelecem vínculos em garantia de alguma ordem dentro do caos. Tais grupos eternizam uma sociedade vítima de inseguranças, com a diferença de que agora, a violência parte de dentro do espaço que representa a morte da liberdade, e para muitos, da vida, ou seja, até no fim à violência não cessa. Outro ponto que Varlam discute é a formação de uma cultura artística do crime e sua socialização, com músicas, romances e poemas que exaltam os criminosos. A crueldade contra Chalámov foi extrema, e posteriormente bem escrita, que consome todas as forças do leitor em defender uma crítica que contraponha seus pontos de vista com relação a estes grupos. No entanto, existia um contágio para se sobressair da situação, a sensibilidade humana nos campos se altera e desacelera, o tempo para o campo psicológico é fulminante. e talvez o autor tenha se excedido ou (provavelmente) não.
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Graciano 19/02/2018

Muito atual
Este livro diferente dos outros da série tem um caráter mais de ensaio, como o título indica. O primeiro capitulo (ou primeiro ensaio? kkkkk) para mim é um dos melhores.
O mundo do crime narrado por Varlam se assemelha muito com o mundo do crime no Brasil, existem vários aspectos descritos que lembram facilmente qualquer cadeia brasileira.
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Marcelo 26/05/2017

Além do frio de - 50 , fome , trabalho excruciante, espancamentos havia a desumanidade dia bandidos profissionais nos campos de trabalho forçado de Stalin.
Marcelo 26/05/2017minha estante
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Mussi 06/05/2017

Volume 3
Uma visão sociológica do crime
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