Retipatia 18/10/2018
As Coisas Que Aprendi Depois Que Eu Li
"É assim que chamo o que estou vivendo, a época a partir do fim da Terceira Guerra Mundial é a pós-vida."
Você, meu amigo imaginário, venha comigo que quero lhe apresentar a Mariana. E o Bernardo. São amigos meus, da época de antes da guerra, mas sabe como é, depois que o mundo foi devastado, a comunicação ficou um tanto quanto complicada e, por acaso, nos encontramos a caminho da nossa antiga escola. Porque o Bernardo precisa esperar a Mariana e a Mariana precisa chegar até o Bernardo.
Nós vamos caminhando pelas pilhas de destroços que são misturas de concreto e corpos (sim, corpos, há muitos deles por todos os lados). Já me parece algo normal à paisagem, e, enquanto corremos com Mariana para escapar, não nos preocupamos muito, tudo que sabemos é da dor de nossas pernas ao precisar avançar sem parar. Avançamos e avançamos e, querendo ou não, a gente acaba ficando amigo. Acho que pode parecer estranho, porque, claro, nós meio que nos conhecemos agora há pouco. Não eu e a Mariana, mas eu e você. Só que, a gente tem muito pra contar, não só de depois da guerra, depois do dia em que morremos. Mas de antes, quando as pessoas ainda davam mais atenção ao celular que à vida dos outros e que trabalhavam e consumiam como se não houvesse amanhã.
Isso já deve estar claro para você à essa altura, mas houve amanhã. E um bem perigoso, como todos os amanhãs agora são. E não é só o risco de se infectar, tem também a chance de ser pego por um grupo canibal ou por comunidades que não prezam nem um pouco a vida alheia.
Antes que me esqueça, tem o Bernardo também. Eu estou preocupada com ele, agora que percebeu que está doente. Não sei o que é. Nem ele, é claro, e nem precisa vir com suas suposições de que pode não ser nada demais. Sorte não é exatamente uma coisa que eu acredito depois da guerra, mas, eu arriscaria dizer que ele teve sorte, n fim das contas, vai ficar distante do ponto de encontro com a Mariana por um tempo, mas precisa melhorar. Se não melhorar, não vai encontrar com a Mariana, de todo jeito.
Por que você acha isso? Eu acho que é importante se encontrarem sim, por acaso não aprendeu as lições? Aquelas que eu aprendi depois que eu morri? Bem, preste atenção porque são importantes. Ou falam o quanto as coisas são desimportantes, o quanto só notamos isso depois que perdemos tudo. Tudo mesmo. As ideias para o futuro e o acesso à Netflix. A família, os amigos, e todo mundo mais se vai. As dores do mundo de antes começam a se misturar com as dores do mundo de agora, porque, no fim do dia, nem todas as pessoas ficaram melhores depois que tudo morreu. Algumas continuaram exatamente como eram antes, outras, levaram ao pé da letra a ideia de lei da sobrevivência. Eu diria que é só uma desculpa. A desculpa para continuar com o ciclo de horrores que víamos todos os dias, bem... antes de tudo. Só que de um modo mais explícito.
Talvez eu já tenha falado demais, mas preciso dizer umas últimas palavras, já que eu aprendi mais coisas que poderia contar com a Mariana e o Bernardo. Coisas que me contaram depois que morreram, antes de morrerem e que aprenderam no meio disso tudo. Não vou enumerar cada uma delas, porque, senão, você não teria sua própria jornada, digamos assim, no pós morte. Então, por favor, abra a primeira página e deixe sentir...
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