Mariana - @escreve.mariana 14/10/2020O complexo de salvador sob outro ponto de vista [IG: @epifaniasliterarias_]Na graphic novel "O divino", roteirizada por Boaz Lavie e ilustrada pelos irmãos Asaf e Tomer Hanuka, de nacionalidade israelense, entramos em contato com um feixe da história de crianças-soldados, que deixa a nós leitores com diversas reflexões a respeito da intervenção de países desenvolvidos em relação a outros que estão em desenvolvimento e são assolados por guerras civis – que, pasmem, muitas vezes são custeadas e até mesmo provocadas por esses mesmos países ditos desenvolvidos.
Nesse contexto se encontra Quanlom, um país do Sudeste Asiático que atravessa uma cruel guerra civil, a qual dizimou grande parte de sua população originária, restando apenas algumas crianças que se abrigaram nas florestas e resistiram. Sob o domínio de tropas ilegais norte-americanas, foram provocadas diversas explosões, em busca de saquear riquezas minerais.
Por outro lado, na mesma proporção em que existem minas terrestres, nos deparamos com espíritos antigos e irmãos gêmeos com poderes ancestrais, denominados O Divino. E é quando a morada de um de seus deuses é ameaçada que os homens à serviço norte-americano devem escolher a quem se aliar, a fim de tentar sobreviver.
Um dos pontos que mais se destacou foi a explícita desnecessidade da atuação do "complexo de salvador" dos norte-americanos, se estes, em primeiro lugar, não tivessem realizado incursões com o único intuito de usurpar riquezas e dizimar os povos nativos de Quanlom. Esse complexo costuma ser utilizado com frequência para reforçar estereótipos, como os de que as nações asiáticas, africanas e latino-americanas configuram um bloco homogêneo e miserável e que seus habitantes são incapazes e precisam de ajuda externa. É de muita prepotência ou não é?
A história aqui contada, apesar de ficcional, teve inspiração em uma fotografia de Apichart Weerawong, em que os irmãos gêmeos Johnny e Luther Htoo, de apenas 12 anos, aparecem fumando e carregando armas. Com suas infâncias roubadas, lideraram um grupo de refugiados contra o governo e mantiveram 800 pessoas reféns após um ataque do exército tailandês a um hospital.