Meshugá. Um Romance Sobre a Loucura

Meshugá. Um Romance Sobre a Loucura Jacques Fux




Resenhas -


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jota 22/03/2024

MUITO BOM: “É difícil ser judeu. Também é difícil deixar de ser.” (Jacques Fux)

Meu primeiro contato com o escritor e matemático mineiro se deu há alguns anos já, com Antiterapias (Scriptum, 2012), depois li Brochadas (Rocco, 2015), dois livros que apreciei bastante. Ambos são cheios de humor e ironia, misturam ficção e realidade e trazem curiosas observações sobre o comportamento humano, especialmente dos judeus. Meshugá, em sua concepção, não é muito diferente desses dois livros, embora nele Fux se mostre mais preocupado em tratar de um aspecto atribuído ao longo dos tempos à cultura judaica: a loucura. Assim é que ele menciona, entre outras pérolas (atiradas aos porcos) um absurdo estudo do inglês Houston Stewart Chamberlain (1855-1927), que dizia que os judeus eram “descendentes de incestos e das prostitutas.” E emendava que era preciso livrar a Inglaterra dessa peste. Sem comentários...

Entrando de vez na onda de Fux caberia perguntar: de gênio e de louco, todos os judeus teriam um pouco? Pois Meshugá significa exatamente louco em hebraico. Fux examina então o comportamento de diversas personalidades judaicas (algumas geniais, outras geniosas) usando dados biográficos e históricos, mas também se valendo da ficção para reinventar suas vidas. Daí que Meshugá tem o subtítulo de Um Romance Sobre a Loucura. Porque o autor “entra” na mente dessas pessoas e procura decifrar suas loucuras, quer dizer, seus medos e angústias, descobrir como elas se viam e viam o mundo. E isso torna a leitura da obra muito interessante. Justamente porque Fux vai além de simples biografias.

Acertadamente, ele logo de início cita Freud, que escreveu “(...) eu não sei se existem outros povos capazes de zombar de si próprios, com tamanha intensidade, como os judeus.” O primeiro texto, ou capítulo, O judeu louco no jardim das espécies, pode ser entendido como uma espécie de prefácio, onde Fux, colocando-se no papel de um escritor, ele mesmo, diz que imaginava que escrever Meshugá, o livro, seria uma coisa divertida, “(...) que todos os mitos, as crenças e as falácias atribuídos ao louco judeu — meshugá — poderiam ser discutidos ludicamente.” E prossegue: “Vislumbrava demolir esses absurdos argumentos, credos e teses através da ironia. Esperava que toda a questão da loucura fosse uma mera brincadeira, mas se enganou redondamente.” Porque ao tentar conhecer a fundo vários desses judeus loucos (de algum modo quase sempre intelectuais, como Allen e Freud, por exemplo), “enlouqueceu” junto com eles.

Passam pelas mãos de Fux, num capítulo intitulado Woody Allen através de um espelho sombrio, o conhecido diretor de Manhattan e outros ótimos filmes e a rumorosa história da sedução de Soon-Yi Previn, filha adotiva de sua então mulher, Mia Farrow, enquanto a garota ainda era menor. Além dele, temos as histórias da filósofa Sarah Kofman, do ator pornô Ron Jeremy (que Fux diz que ele poderia ser um personagem de outro judeu famoso, o escritor Philip Roth), do enxadrista Bobby Fischer, do matemárico Grisha Perelman etc.

Alguns textos se enquadram exatamente naquilo que a editora José Olympio destacou ao lançar o livro: “(...) além de envolver alguns temas clássicos (neurose, hipocondria, mães invasivas e superprotetoras etc.), [Fux] desvela os mistérios da insanidade, do auto-ódio, do olhar perverso do outro e do erotismo tão característicos da produção intelectual desses judeus geniais.” Então temos a história de não um judeu genial, mas a de um verdadeiro antimessias, Daniel Burros, cuja vida daria um ótimo filme hollywoodiano, pois esse judeu foi simplesmente um dos “intelectuais” de uma das maiores organizações racistas de todos os tempos, a Ku Klux Klan. Dá para acreditar? Dá, sim.

Judeus geniais de fato como o já citado Philip Roth, e outros comparecem às vezes como coadjuvantes, como Freud e até mesmo nossa Clarice Lispector, escritora mundialmente reconhecida por seu talento, mas para Fux um tanto estranha (antes, Chico Buarque já pensava isso sobre Clarice), e Meshugá termina com Pertencer: a verdadeira morte, texto que pode ser lido como Posfácio e que remete, de volta, para o primeiro texto. Cumpriu o escritor sua tarefa? Ou simplesmente enlouqueceu no caminho? Leia Meshugá e descubra isso.

Lido entre 13 e 20 de março de 2024.
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Fabi 03/01/2024

Jacques Fux traz dois temas includentes, excludentes, duvidosos, polêmicos, que podem gerar revolta e que podem doer muito se cair em mãos não tão fortes: loucura e judaísmo. Mistura casos bem recentes e outros nem tanto. Finaliza com uma exageradamente sincera mini autobiografia
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Wal - Ig Amor pela Literatura 25/03/2019

Somos todos loucos...
Nunca havia lido algo escrito pelo Jacques Fux e começar lendo “MESHUGÁ – Um romance sobre a loucura” estava me deixando meio apreensiva, sabia somente que falaria da loucura, especificamente do “louco judeu” ou daquilo que algumas pessoas estigmatizaram a respeito dele.

Fux traz a “história” de oito personagens geniais, mas muito conturbados, que em alguma fase da vida enveredaram pelos labirintos de uma suposta insanidade. O autor usa fatos reais, porém se embrenha na trajetória dessas pessoas e passa a indagar e questionar o que de fato aconteceu a elas e, a partir daí, baseado na realidade, ele tece uma ficção inteligente e muito instigante acerca dos distúrbios desses gênios angustiados.

Falou da vida Sarah Kofman, Woody Allen, Ron Jeremy, Otto Weininger, Grisha Perelman, Daniel Burros, Bobby Fisher, Sabattai Zevi.O que eles têm em comum? Todos judeus – em algum momento da vida todos sofreram consequências motivadas pelo estereótipo que algumas sociedades formaram a respeito do seu povo.

O primeiro capítulo fala da filósofa Sarah Kofmam, ela nunca superou os efeitos que o Holocausto trouxe para sua vida e, em 1994, cometeu suicídio – comoveu-me toda a força e fragilidade dessa mulher – a dor de ter perdido o pai para a fúria nazista e a angústia de ser disputada pela mãe adotiva (católica) e a mãe biológica (judia)

Esse espaço é curto para falar tudo que achei desse livro, mas resumo em três palavras: genial, perturbador e instigante. Em cada linha você sente a grandiosidade da escrita do Jacques Fux; parei várias vezes durante a leitura e falei com minha filha: esse cara é muito bom, como que os leitores ainda não têm tanto conhecimento da obra dele?

É óbvio que ele pesquisou, estudou, mergulhou na vida dessas pessoas, mas somente alguém com muita sensibilidade e inteligência conseguiria contar essas histórias dessa maneira. Um mergulho, em almas angustiadas, feito com muita compreensão, mas também com um sagaz sarcasmo. O narrador, que desconfio ser o próprio Fux, também se vê envolto nessa atmosfera de insanidade -, mas não é para menos, também terminei a leitura com o juízo bem mexido.
Recomendo muito esse livro!
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ROBERTA 06/11/2017

Louco
Ainda que seja redundante, esse é um dos livros mais loucos que eu já li. Gostei muito!!!
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