Prateleira Cult 09/03/2011
Tim - Colleen McCullough
Esta resenha foi retirada da seguinte postagem no blog: http://prateleiracultural.blogspot.com/2011/02/tim-colleen-mccullough.html
Tim foi o romance de estreia da autora Colleen McCullough, lançado pela primeira vez em 1974, podendo ser considerado um clássico e, ao mesmo tempo, inovador ao tratar de um assunto tabu para aquela época e, porque não, até mesmo atualmente: pessoas excepcionais.
O personagem principal desta estória, Tim Mellville, tem vinte e cinco anos, é dono de uma beleza estonteante, mas possui o que se poderia chamar de uma leve deficiência mental. Mas nem por isso ele é incapaz, pois graças a seus maravilhosos pais, Ron e Esme, ele foi criado em um lar cheio de amor, compreensão e que sempre buscou estimulá-lo a levar uma vida mais normal possível, dentro das suas limitações.
E é exatamente após um de seus trabalhos no ramo da construção que Tim conhece Mary Horton, uma mulher de mais de quarenta anos, que sempre viveu sozinha, muito trabalhadora e, exatamente por isso, rica. Mas sua vida era vazia, sem cor, posso dizer que ela simplesmente estava de passagem pela vida até conhecer Tim.
A partir de então, eles se tornaram grandes amigos, e passaram a cuidar e ensinar um ao outro. Ela ensinou-o a ler um pouco, escrever, a calcular contas simples e tratava-o como um adulto, explicando-lhe as coisas da vida com calma, paciência e carinho. Ele mostrou-lhes as maravilhas das coisas simples da vida, como a apreciar a natureza, conversar com um amigo, sorrir e brincar mais.
Mas, como um tabu que era, essa amizade termina sendo alvo de fofocas e insinuações, o que nem sempre é fácil para Mary lidar, mas ela assim o faz de cabeça erguida.
Acontece que com o passar do tempo, essa relação entre Mary e Tim chega a um ponto decisivo, em que tanto ela, quanto Ron (pai de Tim), precisam tomar uma decisão crucial acerca do futuro deles.
Colleen soube desenvolver a relação entre Mary e Tim de uma forma que eu não conseguia enxergar, a princípio, como possível. Ela construiu uma estória tão linda e emocionante, que você se percebe vibrando de felicidade por cada nova conquista de Tim! É simplesmente maravilhoso acompanhar seu aprendizado, suas descobertas, seus diálogos com Mary, é lindo ver o crescimento da afeição entre eles e o quão bem eles fazem um ao outro!
Sem contar a forma como a autora soube abordar o tema da deficiência mental. Ela soube ser, ao mesmo tempo, realista, crua (muitas vezes ela mesma descrevia Tim como se fosse uma criancinha ou um cachorrinho), mas também sensibilizada e apaixonada.
Ademais, Colleen conseguiu, ainda, amarrar muito bem a estória, de maneira que seu desenrolar não se tornou algo estranho e artificial, como às vezes acontece em alguns romances. Ela foi desenvolvendo a estória de uma forma tão concatenada e gradual, que você vai se envolvendo de pouquinho em pouquinho, até estar completamente submerso no universo do livro e ser capaz de compreender completamente tudo o que está acontecendo.
Quanto a parte técnica, a narração ocorre em terceira pessoa, o que nos dá um ponto de vista bem amplo dos pensamentos e sentimentos de todos os personagens. Isso também facilita as críticas no narrador, principalmente em relação a determinados comportamentos sociais da época.
Além disso, por seu um livro da década de 70, esperava um pouco mais de dificuldade na leitura, o que não ocorreu, a tradução está muito boa; as poucas palavras e termos que não faziam parte do meu vocabulário foram muito fáceis de pesquisar, isso quando já não vinham explicadas no rodapé. A própria leitura em si flui tranquilamente, é o tipo de livro gostoso de ler...daqueles que você nem sente e quando percebe já está terminando!
Minha crítica vai apenas para dois aspectos: a capa do livro e o final. A capa, porque, apesar da cor de fundo e das rosas serem belíssimas, a foto do rapaz não ficou legal (muitas pessoas já me disseram que se fosse só pela capa, não compraria o livro). Quanto ao final, não gostei tanto, pois terminou de forma abrupta, deixando aquela sensação de que faltou alguma coisa.
Uma curiosidade, para quem não sabe, em 1979 foi feita uma adaptação cinematográfica, no qual Tim é interpretado por Mel Gibson e Mary por Piper Laurie. Eu juro que procurei o trailer, mas não encontrei (apenas achei o filme inteiro para ver no youtube!). =p
Trecho:
"Era tão difícil entender seus sentimentos com relação a ele: num momento, pensava nele como se fosse uma criancinha, em seguida, a sua beleza física fazia-lhe lembrar que Tim já era um adulto. E, para ela, era tão difícil ter qualquer sentimento, quando já fazia tanto tempo que que fizera algo mais além de apenas viver" (Página 76)
Para quem gosta de romances, esse é um livro que não pode faltar na sua estante! Tim foi, até agora, para mim, a surpresa literária de 2011 (sim, eu sei que ele é de 1974, mas eu o li esse ano, então...)! Recomendadíssimo!
PS.: Dedico esta resenha a Lucas e sua mãe, minha querida amiga linda Alba, do blog Psychobooks! =*