Resenhas - Wittgenstein: o dever do gênio

Maurino 12/02/2011

Uma vida maravilhosa!
"Diga-lhes que tive uma vida maravilhosa." Proferidas em seu leito de morte, ao pé do ouvido de uma amiga íntima, teriam sido estas as últimas palavras de um dos mais geniais pensadores de todos os tempos. Nesta fantástica biografia intitulada "Wittgenstein: o dever do gênio", Ray Monk, especialista em sua filosofia da matemática, capta com extrema sensibilidade as idiossincrasias desse complexo homem que passou vinte anos debruçado no que viria a ser, ainda que inacabada, uma das maiores obras primas da filosofia contemporânea: as "Investigações Filosóficas". Obsessivo, solitário, passional, atormentado e trágico, Ludwig Joseph Johann Wittgenstein (Viena, 26 de abril de 1889 – Cambridge, 29 de abril de 1951) travou, durante toda a sua vida, uma batalha interna que refletiu a sua obstinada luta, tanto em sua vida quanto em sua obra, contra os hábitos intelectuais mais profundamente arraigados da cultura ocidental. Austríaco, de ascendência judaica e naturalizado inglês, filho de uma das famílias mais ricas e influentes da Europa na época – que chegou a pagar uma fortuna para não ser molestada pelos nazistas -, foi discípulo de Bertrand Russel e publicou um único livro em vida: o Tractatus logico-philosophicus, por ele renegado - mas que deu vida ao “Círculo de Viena”. Considerado o fundador da filosofia analítica e o principal ator da “virada linguística” na filosofia do século XX, o criador do conceito “jogo de linguagem” tinha aversão a qualquer tipo de gregarismo ou pensamento doutrinário. Radicalmente assistemático e fragmentário em seu pensamento, ele influenciou inúmeros pensadores de renome e a sua obra ensejou uma infinidade de encaminhamentos críticos. Em um perfeito equilíbrio entre o pessoal e o intelectual, esta foi uma das melhores biografias que eu já li.