Formas breves

Formas breves Ricardo Piglia




Resenhas - Formas Breves


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booksdalaus 02/12/2023

Formas breves
Ricardo Piglia é um dos mais importantes romancistas argentinos da atualidade. Em Formas breves, Piglia aproxima o ficcionista e o teórico que nele convivem, em textos de estilo cativante e despretensioso, acessíveis tanto aos leitores comuns quanto àqueles interessados em crítica literária. Como o próprio autor assinala, os textos "podem ser lidos como páginas perdidas no diário de um escritor" ou "como os primeiros ensaios e tentativas de uma autobiografia futura". Em onze textos curtos, Piglia reflete sobre autores da moderna literatura argentina, como Macedonio Fernández, Jorge Luis Borges e Roberto Arlt, sobre clássicos da modernidade como Joyce, Kafka e Gombrowicz, sobre as relações entre literatura e psicanálise, e sobre a natureza do conto, tema ao qual volta, com o ensaio "Novas teses sobre o conto", depois de abordá-lo em "Teses sobre o conto", publicado em O laboratório do escritor (Iluminuras, 1994). Com notável habilidade para a síntese e para estabelecer correlações surpreendentes, Piglia faz uma reflexão sobre o fazer literário profundamente ligada à sua experiência pessoal. Como o autor observa, "a crítica é a forma moderna da autobiografia". Formas breves recebeu o Prêmio Bartolomé March de 2001 de melhor livro de ensaios literários publicado na Espanha.
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caio.cidrini 05/08/2022

Arte despretensiosa
Esse livro são fragmentos de discursos, diários e criações de Piglia. Num primeiro momento pode parecer muito aleatório ler coisas soltas, mas encontro em cada texto centelhas de reflexões muito profundas. Especialmente para quem escreve ou tem vontade de escrever. Há dicas valiosas, não no sentido enciclopédico ou de guia, mas de compreensão, de saber ler, de formas. Precisa entender muito de literatura e de mundo pra escrever grandes pensamentos de forma tão simples. Preenchi 3 páginas de anotações só lendo ele!
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Diessica 08/05/2021

Interessante...
Trás uma série de reflexões do escritor a respeito de várias temáticas, a que mais me chamou a atenção foi a parte a respeito dos contos, pois é útil para quem quer começar a escrever.
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jota 28/11/2020

BOM (Ricardo Piglia teoriza o conto e elogia especialmente Jorge Luis Borges)
Livro traz onze textos (e um epílogo) em que o assunto predominante é a forma literária breve, o conto. Fiquei com vontade de escrever os contos de Jorge Luis Borges bem entendido, mas isso seria um pouco de má vontade para com Piglia. Porque ele também tece rápidos comentários sobre Kafka, Joyce, Faulkner, Hemingway, Macedonio Fernandez, Roberto Arlt, Witold Gombrowicz e outros. É um pequeno volume, destinado a leitores que desejam ir um pouco além da simples leitura de um narrativa, que querem aprender mais, no caso, como se dá a ligação entre ficção e teoria literária. Nada melhor do que deixar o próprio Ricardo Piglia explicar o conteúdo de Formas Breves:

“Neste livro, trabalhei com narrativas reais e também com variantes e versões imaginárias de argumentos existentes. Pequenos experimentos narrativos e relatos pessoais me serviram como modelos microscópicos de um mundo possível, ou como fragmentos do mapa de um remoto território desconhecido. A literatura permite pensar o que existe, mas também o que se anuncia e ainda não é.” Não se admire se a explicação de Piglia não ficou tão clara assim, que ele é um grande admirador de Jorge Luis Borges, a quem estuda e faz elogios o tempo todo neste livro. Borges, como se sabe, não é exatamente um escritor muito lido (compreendido) pelas massas.

Borges sempre me pareceu estar muito mais preocupado com o cérebro do leitor do que com seu coração, com suas emoções. O ideal seria um equilíbrio entre as duas coisas, penso, como Faulkner e Kafaka conseguem mais facilmente. Não sou grande fã do argentino, li pouco do que publicou, então quando Piglia escreve sem parar sobre o autor de O Aleph e outras obras conhecidas, que considero um tanto herméticas, não me sinto tão disposto a prestar muita atenção em suas palavras, concordar com tudo. Enfim, esse volume não me agradou muito, mas quem é fã de Borges certamente vai apreciar bastante inteirar-se um pouco mais de sua arte através das anotações de Ricardo Piglia.

Lido entre 22 e 26/11/2020.
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Bell_016 17/12/2015

Teses sobre o conto
O último conto de Borges, o que imaginamos (surpreendidos pela perfeição desse
fim) ser o último conto de Borges, surgiu de um sonho. Borges, aos oitenta anos, viu um
homem sem rosto que num quarto de hotel lhe oferecia a memória de Shakespeare.

A metáfora borgiana da memória alheia, com sua insistência na claridade das
lembranças artificiais, está no centro da narrativa contemporânea. Na obra de Burroughs,
de Pynchon, de Gibson, de Philip Dick, assistimos à destruição da lembrança pessoal. Ou
melhor, à substituição da memória própria por uma cadeia de seqüências e lembranças
alheias. Do ponto de vista narrativo, poderíamos falar da morte de Proust, no sentido da
morte da memória como condição da temporalidade pessoal e da identidade verdadeira.

As grandes narrativas de Borges giram em torno da incerteza da lembrança
pessoal, em torno da vida perdida e da experiência artificial. A chave desse universo
paranóico não é a amnésia e o esquecimento, mas a manipulação da memória e da
identidade. Temos a sensação de que nos extraviamos numa rede que remete a um
centro cuja arquitetura em si é perversa.

A cultura de massa (ou melhor seria dizer a política de massa) foi vista com toda a
clareza por Borges como uma máquina de produzir lembranças falsas e experiências
impessoais. Todos sentem a mesma coisa e recordam a mesma coisa, e o que sentem e
recordam não é o que viveram.
A leitura é a arte de construir uma memória pessoal a partir de experiências e
lembranças alheias. As cenas dos livros lidos voltam como lembranças privadas.

A tese central do ensaio de Borges é que as literaturas secundárias e marginais,
deslocadas das grandes correntes européias, têm a possibilidade de dar às grandes
tradições um tratamento próprio, "irreverente"

Num de seus cadernos de notas, Tchekhov registra esta anedota: "Um homem em
Montecarlo vai ao cassino, ganha um milhão, volta para casa, suicida-se". A forma
clássica do conto está condensada no núcleo desse relato futuro e não escrito.
Contra o previsível e o convencional (jogar-perder-suicidar-se), a intriga se oferece
como um paradoxo. A anedota tende a desvincular a história do jogo e a história do
suicídio. Essa cisão é a chave para definir o caráter duplo da forma do conto.
Primeira tese: um conto sempre conta duas histórias.

O conto é um relato que encerra um relato secreto. Não se trata de um sentido
oculto que dependa de interpretação: o enigma não é outra coisa senão uma história
contada de um modo enigmático. A estratégia do relato é posta a serviço dessa narração
cifrada. Como contar uma história enquanto se conta outra? Essa pergunta sintetiza os
problemas técnicos do conto.
Segunda tese: a história secreta é a chave da forma do conto e de suas variantes.

Para Borges, a história 1 é um gênero e a história 2 é sempre a mesma. Para
atenuar ou dissimular a essencial monotonia dessa história secreta, ele recorre às
variantes narrativas que lhe oferecem os gêneros. Todos os contos de Borges são
construídos com base nesse procedimento.
A história visível, o jogo na anedota de Tchekhov, seria contada por Borges
segundo os estereótipos (levemente parodiados) de uma tradição ou de um gênero. Uma
partida num armazém, na planície entrerriana, contada por um velho soldado da cavalaria
de Urquiza, amigo de Hilário Ascasubi. O relato do suicídio seria uma história construída
com a duplicidade e a condensação da vida de um homem numa cena ou ato único que
define seu destino.

O conto é construído para revelar artificialmente algo que estava oculto. Reproduz
a busca sempre renovada de uma experiência única que nos permite ver, sob a superfície
opaca da vida, uma verdade secreta. "A visão instantânea que nos faz descobrir o
desconhecido, não numa remota terra incógnita, mas no próprio coração do imediato",
dizia Rimbaud.
Essa iluminação profana converteu-se na forma do conto.
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