Te espero o tempo que for

Te espero o tempo que for Samir Thomaz



Resenhas - Te espero o tempo que for


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Carla Martins 02/01/2013

Romance biográfico lindo e cativante
Tenho duas situações para compartilhar com vocês.

A primeira situação:

Você leva sua vida tranquilamente, em uma cidade pequena, onde todos se conhecem. Tem a sua reputação, a casinha que sempre sonhou, uma esposa dedicada, seus dois filhos e sua rotina de chefe de família. Você não faz mal para ninguém, é trabalhador e sonha com um futuro de felicidade e prosperidade para seu rebanho, que é seu tesouro mais precioso e que você defende com unhas e dentes sempre que preciso, como um leão defende a sua cria e o seu território.

Eis que, de um dia para o outro, descobre que sua filha, uma adolescente de 16 anos, seu maior xodó, está se envolvendo com um homem de 42, pela internet, ou seja, sem nunca tê-lo visto na vida, que é soropositivo e que tem uma filha da idade da sua.

O que você faria?

A segunda situação:

Você é um paulistano de 42 anos, que já sofreu pegadinhas bem desagradáveis do destino. Contraiu o vírus da Aids quando ninguém sabia muito bem o que era a doença. Passou a conviver com a culpa de ter contraído essa desagradável companheira para o resto da vida pura e simplesmente por um erro seu. Erro esse que custará caro para sempre e que, infelizmente, não pode ser desfeito.

Ficou doente, sofreu preconceito, levantou a cabeça e seguiu em frente. É editor e escritor ao mesmo tempo. Trabalha muito fazendo o que gosta, mas não ganha o que merece em troca do que sabe fazer de melhor. Viveu um casamento de 20 anos feliz e repleto de cumplicidade, mas que acabou se desgastando. Teve, então, que se acostumar a viver sozinho novamente.

Tem uma filha de 16 anos que está cada vez mais independente e, de um dia para o outro, acaba engatando uma conversa na internet com uma garota que parece estar muito interessada em você, ser extremamente madura para a sua idade e representar toda a vitalidade e aventura que sua vida não tem há tempos. A intensidade das coisas aumentam a passos rápidos e, de uma hora para outra, você se vê completamente envolvido e com um frio na barriga que faz toda essa aparente loucura valer a pena.

Mas, descobre que ela tem 16 anos, é filha de pais conservadores ao extremo e que, por querer ser médica e estudar muito sobre saúde, aceita tranquilamente o fato de você ser soropositivo. Tudo parece conspirar a favor desse relacionamento e o sentimento só cresce.

O que você faria?

Toda história que envolve mais de uma pessoa tem dois lados. E nenhum lado está completamente certo, nem o outro lado completamente errado. Eu pensei muito, muito, muito depois de terminar o livro, tentando achar um lado para eu me posicionar na resenha. Mas, não consegui. Entendo o lado do Samuel, o apaixonado, mas também entendo completamente o lado do pai de Lívia.

O livro é muito bem escrito, fazendo com que o leitor aguce cada vez mais a sua curiosidade para saber os próximos acontecimentos. Na verdade, o ponto mais positivo da obra é o envolvimento que o livro consegue despertar.

Eu, particularmente, fiquei envolvida com os personagens, com os acontecimentos e lembrei muito de mim ao ler sobre Lívia. Eu era muito parecida, sem preconceitos, sem ter medo do que os outros pensam, querendo mudar o mundo com as minhas ações, extremamente inocente e otimista. Mas, eu era mais questionadora, mais guerreira e menos resignada.

Com certeza, se isso tivesse acontecido comigo, eu ia virar a paz da minha família de pernas para o ar. E, certamente, a reação dos meus entes queridos seria muito parecida com a reação da família de Lívia: desespero, preocupação e instinto de proteção aflorado. Sofri por ver o peso que essa adolescente carregou e vibrava com cada conquista dos pombinhos. É uma situação difícil, é uma história real, é um fato que marca a vida dos envolvidos e que foi, sabiamente, transformado em um livro ótimo!
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