Luiz Pereira Júnior 16/04/2024
No Limbo
“As atribulações de uma caixa de supermercado”, de Anna Sam, retrata de forma leve, humorística e, por vezes, sarcástica situações vividas pela própria autora naquele que é um dos trabalhos mais invisíveis que existem. Afinal, quantos de nós damos um “bom-dia”, um “oi, um tudo bem?” ou simplesmente um sorriso (nem que seja de boca fechada, no melhor estilo Mona Lisa) para quem passa nossas compras, às vezes, todo santo dia?
Mas não se engane, pois o livro não é apenas um retrato leve do que nós somos. E nisso vai a melhor qualidade do livro: ser um espelho. Quantos de nós já fomos grosseiros, mal-educados, desrespeitosos, mal-humorados, desinteressados, fúteis ou até mesmo francamente imorais com quem nos ajuda a facilitar o dia a dia?
Verdade é que jamais fui imoral com alguém, mas, com certeza, sou humano e, algumas vezes, essas pessoas que vemos todos os dias tornaram-se invisíveis para mim. E tornar alguém invisível é sim uma forma de desrespeitar esse mesmo alguém.
Mas quero encerrar essa breve resenha com uma citação de Marguerite Yourcenar, naquela que é considerada sua obra-prima (“Memórias de Adriano”): “Existem pessoas com quem convivi durante toda a minha vida e que não reconhecerei no Limbo”...