Léo 05/08/2017
Leitura agradável, roteiro bem divertido e uma ótima reflexão, afinal!
a matéria de hoje é justamente sobre esse divertido encontro que o leitor tem ao se deparar com o enredo da querida Teca Machado, 'Je T'aime, Paris', que se desenvolve de uma maneira suave e muito agradável, e mesmo quando a temática debatida em certos momentos se torna um pouco mais sisuda, a autora ainda consegue conduzir a sua linha de tempo com muito bom humor e afabilidade, conquistando ainda mais o leitor a cada novo capítulo do livro, que conta com um total de 33 mais prólogo e epílogo.
Essa forma com que Teca Machado consegue suavizar o contexto do qual transmite através de seus agradáveis e populares personagens é tão admirável que parece que a autora carrega na mochila um pouquinho de cada intervalo e figura transmitidas, e assim como já foi dito por um renomado escritor americano, se a ficção é a verdade dentro da mentira, em 'Je T'aime, Paris' essa veracidade dentro da ficção se torna tão tangível a ponto de, em muitos instantes, o leitor se envolver ao imaginar a querida Ana Helena, personagem principal do romance, contando cada mínimo detalhe. É possível entender o livro como um grande instrumento de entretenimento ao se ater as loucas e inimagináveis confusões que os personagens se metem, e um ótimo e rápido mecanismo de exposição cultural e artística quando se leva em consideração a filosofia da região escolhida pela autora para a ambientação do roteiro, as cidades francesas.
Além de todos os contratempos e complicações que Ana Helena e os novos amigos passam na cidade, a autora (claro), não deixaria de incrementar o enredo com os essenciais instantes românticos que o público tanto aguarda, e esse misto de motes é uma das características mais legais encontradas em 'Je T'aime, Paris'. Ler um romance com esse perfil não se torna, em momento algum, um processo chato e cansativo pois todo o conjunto de tópicos que Teca Machado direciona ao leitor, faz com que o clima (que em outros livros geralmente se torna melancólico e dramático após os primeiros clímax), simplesmente não exista. Os rumos que o enredo toma em 'Je T'aime, Paris', por fim são racionais e amenos, e Teca Machado acerta em cheio ao escolher essa forma de desenvolver a história. Ela passa muita segurança e conquista tanto pela narrativa quanto pela escrita tão caprichosa, com uma metrificação coloquial bem apresentada. O tema da obra ensina o leitor a refletir melhor sobre a utilidade dos bens financeiros e também sobre a valorização da vida em si sem a posse de tais bens. A resolução de problemas, a superação e o desapego a itens materiais estão mais do que em pauta em 'Je T'aime, Paris'.
Teca Machado foi perfeita em escolher uma cidade tão histórica artisticamente para que o romance acontecesse. Além do mais, a França tem tudo a ver com os corações mais apaixonados, e é isso que acontece quando a protagonista encontra Olivier, rapaz inteligente e gente boa que encorpa a trama e transforma muitos instantes em contornos mais avermelhados e cheios de amor, fazendo o coração de Ana Helena palpitar mais rápido enquanto a paixão floresce. Esse clima é bem agradável e nada de tão meloso é percebido nos encontros do casal. Ademais, a trama se alonga por traçados bem aventureiros e desemborca em vias bem engraçadas, a lá roteiros românticos cinematográficos.
Em seus agradecimentos ao fim do livro, Teca Machado diz "O meu primeiro livro, I Love New York, veio no susto. Sentei, escrevi e publiquei — tudo isso num espaço de tempo muito pequeno. Je T’aime, Paris já foi diferente: mais planejado, até mesmo mais demorado". Realmente há como perceber que o enredo de 'Je T'aime, Paris' foi mesmo muito bem montado e que o projeto não foi corrido, pois existe um tom bem profissional na obra.
O núcleo de personagens é realístico e as figuras mais interessantes agem como se estivessem mesmo na vida real, amostrando-se ao leitor com qualidades e defeitos. Em alguns instantes de sua narrativa, Ana Helena dita algumas reflexões bacanas que mechem com o leitor (mesmo que rapidamente) e o fazem sentir-se capazes de absorver todo o teor de sentimento que a personagem transmite e usá-lo a seu favor, como forma de aprendizado, como no trecho onde ela (Ana Helena) se mostra fragilizada e solitária: "De vez em quando, tudo o que precisamos é de contato com outro ser humano... O Olivier parecia tão interessado em mim e na minha vida que, antes que eu percebesse, estava contando tudo. Em certos momentos meus olhos até se encheram de água de saudade da minha casa, do meu pai, da minha vida, de tudo o que deixei para trás", trecho este que faz lembrar e dar validade à uma citação do grande Machado de Assis: "A vida sem luta é um mar morto no centro do organismo universal".
O universo da arte clássica, como dito antes, também é revelado em 'Je T'aime, Paris'. Vincent Willem Van Gogh, uma das figuras mais famosas e influentes da história da arte ocidental, não deixa de ser um dos personagens ilustres na obra, que busca com jeito e habilidade, a rememoria desse conteúdo artístico. Teca Machado é firme em suas asserções e passa credibilidade no quesito histórico. Por vezes, há como se sentir em um livro informativo sobre as cidades da França e os artistas mais renomados que por lá fizeram história: "Olivier me explicou que lá era realmente uma antiga estação ferroviária que o governo francês transformou em museu em 1977. As obras expostas compreendiam o período de 1848 a 1914... Eu estava embasbacada. Cheguei mais perto da pintura para olhá-la melhor e, quanto mais me aproximava, mais encantada eu ficava. A técnica de Van Gogh era algo só dele...".
O contexto, os elementos escolhidos e a aclimação europeia ajudam para que a leitura se torne a cada instante mais bonita, atrante, coerente, calma e harmoniosa. Apesar de a premissa ser perfeita e já definir muito bem o que o leitor encontrará pela frente, muitos pré-leitores podem se surpreender com os rumos investigativos policiais que a obra encontra. Teca Machado soube estruturar o script do romance, dando tempo para que Ana Helena se habitue e se transforme diante dos acontecimentos pré-ditados no compêndio do livro, e embora em algumas transições os episódios sejam ligeiros, as expectativas são totalmente superadas. Até mesmo porque o leitor se sente envolvido e encontrado na leitura, já que 'Je T'aime, Paris' tem aspectos contemporâneos bem marcantes, como a forma de escrita da autora (que incrementou o texto com termos próprios do cenário francês na dose certa) e o uso de elementos tecnológicos atuais: mensageiros eletrônicos, bluetooth e downloads.
Teca Machado é uma autora de categoria diferenciada. A escolha por integrar elementos históricos existentes na nossa cultura mundial talvez não seja somente uma opção e sim um pré-requisito já disposto na essência literária da autora, cujo transforma suas obras e transfere à ela (autora) características superabundantes dentro do cenário da literatura nacional. Não é muito dizer que ela precisa ser prestigiada por suas habilidades. Teca Machado mostra como é possível se ter uma vida recheada de novas aventuras e descobertas sem a necessidade da posse do recurso financeiro. Se mesmo uma filha da alta sociedade se mostrou disposta a seguir em frente na falta de seus dólares e encontrou até mesmo um novo amor, por que outros não conseguiriam?
No fim das contas, fica a reflexão sobre a força de vontade que cada um pode ter para vencer todos os contratempos da vida da forma mais improvável possível. 'Je T'aime, Paris': leitura tranquila, envolvente e muito divertida que pode ser concluída em poucas horas. O portal Marcas Literárias recomenda.
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