deuxdesoleil 13/12/2023
Reinos são feitos de política e politicagem!
Se o site permitir, dessa vez irei conseguir postar a resenha.
Eu adorei “Gelo e fogo”, mas não tinha um título melhor? Posso ser ignorante sobre assuntos de marketing, porém, usar o mesmo título de uma fantasia mundialmente conhecida me parece um tiro no pé.
O segundo livro da trilogia consegue ser melhor ou tão bom quanto o primeiro. Segue os acontecimentos da guerra, então as personagens estão juntando os caquinhos, tentando se reerguer e, é claro, lidando com as consequência que toda atividade bélica trás. Apesar de ser esperado o protagonismo da Meira, sinto que toda a narrativa se concentra unicamente nela e deixa escapar boas oportunidades de evoluir outros personagens também. O Theron, por exemplo, poderia ter sido melhor aproveitado porque, tal como a Meira, ele é um dos pontos chaves desse livro (e ainda estou tentando digerir tudo que aconteceu com esse carismático e otimista ser humano).
Meira cresceu ou pelo menos está se encaminhando para tal. É incrível acompanhar as desventuras da nova rainha de Inverno. Ela está confusa, solitária, com medo e cheia de inseguranças, mas ainda assim tenta ser a melhor pessoa que ela consegue ser para o reino e o povo dela. Nossa rainha está passando por uma crise existencial absurda e isso humaniza tanto a personagem que, para mim, foi impossível sentir tédio ou impaciência. Eu torci pela Meira! E notei o quanto senti falta de uma protagonista real e sólida nas fantasias contemporâneas.
Para o meu agrado, “Gelo e fogo” está carregado de tramas políticas! Temos intrigas, acordos, manipulações de todos os cantos, um verdadeiro jogo de tabuleiro. Gosto de como temos a chance de conhecer os demais reinos Ritmo e Estação e gosto bastante, apesar do curto número de páginas, que a autora foi capaz de atribuir uma essência para cada um dos reinos. De maneira simples, sim! Mas é possível ver particularidades nas culturas, nas formas de pensar, nos vestuários, nos próprios interesses políticos e de crescimento (pecou enormemente na ausência de representatividade, mas não é nada novo para o gênero). As tramas políticas, no geral, foram um ótimo acerto, mas imagino que para muitos leitores pode ser lento ou mais cansativo acompanhar essa jornada.
Se a política foi um prazer, os POVs do Mather foram uma tortura. Tem conexão com a história e os objetivos da autora, mas não tem sentido. São apresentados diversos personagens e, com o curto tempo de cena, tornam-se rasos e com objetivos pouco atrativos. Queria muito ter simpatizado com os jovens invernianos, mas senti só um efeito manada seguindo as ordens do ex-rei do que qualquer outra coisa. A melhor coisa nas cenas com o Mather foram, sem dúvida, a interação com os pais! Extremamente emotivo quando ele se abre e joga as inseguranças, medos, emoções para fora.
Temos mais romance, porém, menos cenas de romance. Meira está afastada de todo mundo, mas os pensamentos a todo o momento retornam para as pessoas do passado dela. Preciso comentar que não aguento mais autores que forçam casais principais a ficarem juntos! A narrativa da mulher indefesa que no último instante é salva por seu príncipe encantado também já passou o limite (é um livro de 2015, então estarei perdoando em partes).
Toda a questão da magia é abordada de uma forma legal, mas insisto no que resenhei sobre o primeiro livro: é simples, mas é exposta com uma complexidade (de cortes, de desvios, de perguntas) que torna mais confuso do que realmente é. “Gelo e fogo” ainda carrega clichês do gênero bem como o primeiro livro (toda jornada do heroí, procurar chaves mágicas e sociedades secretas estão aqui), mas como eu iniciei a leitura esperando essas semelhanças, não me incomodou tanto.
No mais, é uma leitura simples, porém mais lenta do que “Neve e cinzas”. Peca na ausência de representatividade (o que seria extremamente fácil com a quantidade de reinos que apareceram) e no ritmo em alguns momentos, mas é um bom entretenimento.