Queria Estar Lendo 09/05/2017
Resenha: Desintegrados
Sequência de Fragmentados, uma das distopias mais originais e aterradoras que já li, Desintegrados acabou sofrendo a famosa decepção de segundo livro. Até porque, a meu ver, o fim do primeiro foi muito bem fechado, e ficou essa ideia de que não havia necessidade para uma sequência.
O problema desse livro foi que não entregou originalidade como o primeiro. A premissa é a mesma; temos o revoltado, a devota e um incógnita. Temos o sistema opressor e perturbado dos Fragmentados e aqueles que o seguem e o veem como uma salvação. Temos a rebelião, agora guiada por um rosto familiar lá do primeiro volume, e a ideia que eles têm de derrubar de uma vez por todas o governo que impõe atrocidades como a melhor maneira de construir a civilidade.
"A triste verdade sobre a espécie humana, a garota percebeu depressa, é que as pessoas acreditam no que ouvem. Talvez não da primeira vez, mas, na centésima vez, a mais maluca das ideias simplesmente se torna fato."
Meu grande problema com Fragmentados foi a narrativa do autor. Apesar de a ideia ser absurdamente fantástica, um terror muito bem orquestrado e desenvolvido, o livro em si não me prendeu porque a maneira com que ele contou a história foi lenta.
A trama nos apresenta esses três personagens novos, e suas histórias individuais levam um bom tempo de livro para serem desenvolvidas. Temos Starkley, o rebelde indomável que vê na rebelião uma chance de conquistar a tão sonhada liberdade do regime em que vivem; Miracolina, um dízimo - criada para ser fragmentada para que outra pessoa pudesse viver - bastante satisfeita com a condição à qual foi imposta desde o nascimento; e Campus, o primeiro ser humano construído a partir de fragmentos de outras pessoas.
Até certo ponto da história, assim como no primeiro volume, o autor trilhou os caminhos e as perspectivas dos personagens de tal maneira que eu me vi olhando para esse trio e pensando: Connor? Lev? Risa? Porque, honestamente, eram as mesmas situações. O ansioso por mudanças, o garoto satisfeito com o que foi imposto a ele e a que caiu de paraquedas nisso tudo, mas resolveu participar da bagunça. Eu fiquei bem decepcionada com os personagens novos porque eram os antigos reciclados e reformulados em algumas situações diferentes, mas com quase as mesmas reações. Até mesmo as coisas que me irritaram profundamente em Connor estavam ali no Starkley, a fidelidade cega do Lev habitava a Miracolina, e por aí vai...
"- Uma nação de adolescentes zangados, sem trabalho, sem estudo e com todo esse tempo livre nas mãos? Pode apostar que estou com medo e você também deveria estar..."
Neal ainda desenvolve uma coisa interessante que foi um pouco mais sobre a grande guerra causadora de todo aquele terror sobre a Fragmentação, mas é muito pouco mesmo.
O mais interessante foi Cam, sem dúvida. O humano criado a partir de partes de outros humanos, quase um Frankenstein moderno. Tem toda uma tensão envolta à existência dele; aqueles que acreditam que ele é um avanço para a ciência e para a humanidade, e aqueles que são contra o nascimento de uma aberração como aquilo, um garoto criado a partir de fragmentos. O desenvolvimento dessa parte da história ganhou minha total atenção. Ainda que a trama toda não seja de uma originalidade fantástica, o arco do Campus foi bem surpreendente.
Desintegrados poderia ter se expandido até algo bem mais, aproveitando-se de algumas brechas do primeiro livro para trazer novas discussões e questionamentos para a história, mas fica no mesmo que Fragmentados: é bom, mas nem tanto assim.