jota 21/10/2017Pai e filhoA sinopse da editora Intrínseca exposta aqui no Skoob dá uma boa noção do que o leitor vai encontrar nas páginas de Meu Menino Vadio, do jornalista cultural Luiz Fernando Vianna. O livro trata tanto do filho como do pai, daí que o subtítulo "Histórias de um garoto autista e seu pai estranho" é perfeito. A certa altura Vianna escreve que "Todo pai de autista e meio autista." Se não era antes, acaba ficando depois, impossível escapar disso.
Não se pode generalizar acerca das características e do comportamento de todos os autistas através do conhecimento de um único caso ou de alguns poucos casos. O erro comum que as pessoas cometem ao pensar que todos que apresentam a síndrome de Down possuem características idênticas ou muito próximas também ocorre quando elas pensam sobre os autistas. Vianna escreve: "Das várias lendas em torno dos autistas, uma é a de que são bonitos. Não existe essa regra. Como em todos os departamentos da espécie humana, há belos e feios. Essas avaliações, é claro, variam de acordo com gostos pessoais e valores culturais."
Esta é a história particular de Henrique e de seu pai, Luiz Fernando. O garoto que é desnudado aqui, dentre outras coisas, não sabe tomar banho sozinho, precisa que o pai o esfregue e depois o enxugue. Vianna escreve: "Com exceção da capacidade de montar quebra-cabeças de até cem peças, Henrique nunca exibiu traços de brilhantismo. Mas também nunca indicou ter retardo. À sua maneira, já deu várias provas de inteligência, como o uso de ironia." No entanto, o pai sabe que o filho terá de ser cuidado por alguém para sempre.
O garoto jamais terá uma profissão, uma família sua, amigos, será eternamente limitado para muita coisa na vida. Hoje, aos dezesseis anos, Henrique "tem cabeça de menino, corpo de adulto e tesão de adolescente." Mas Henrique será sempre uma eterna criança, um menino vadio, no sentido de que não terá função produtiva, artística ou esportiva. Vianna lista as coisas de que o filho será privado, as alegrias que a vida oferece, mas em contrapartida também se verá livre de muita tristeza e dos problemas comuns a todos nós.
Bem, quanto ao livro em si, é bastante curto, com capítulos curtos, alguns bem humorados, todos com títulos de canções brasileiras ou trechos delas, tudo muito bem escolhido e empregado. O próprio título da obra vem de uma canção, Sem Fantasia, muito conhecida desde o lançamento em 1976, quando seu autor, Chico Buarque, dividiu o palco do Canecão com Maria Bethania. Vianna é especialista em MPB e tem livros sobre João Nogueira, Aldir Blanc, Zeca Pagodinho.
Quem se emocionou com A Queda: Memórias de um pai em 424 quadros, de Diogo Mainardi, ou O Filho Eterno, de Cristovão Tezza, provavelmente vai apreciar também Meu Menino Vadio, a comovente história de Henrique, um garoto autista, e seu pai estranho, Luiz Fernando Vianna.
Lido entre 16 e 20/10/2017.