spoiler visualizarbrenerino 19/08/2021
Um romance brasileiro que vale muito a pena
Nota: 8,6/10
Essa review vai ter spoilers, mas nada que possa realmente comprometer a trama (eu acho).
Giselle foi um livro que me chamou a atenção por ser nacional e se passar no Brasil (coisa que ironicamente é bem difícil de se achar no mercado nacional). A sinopse me pegou bastante juntamente do titulo, eu sempre relaciono nomes de pessoas nos títulos (principalmente quando são de mulheres) a tramas de terror gótico, mas no fim Giselle vai bem mais além disso.
Eu gostei demais de ler a primeira parte, todo o desenvolvimento, as personagens serem tão gostáveis. Os paralelos da relação das duas protagonistas com seus pais que podem ser relacionados a sexualidade de cada uma e como cada pai interpreta e reage com isso sendo sutilmente mudado apenas para a forma que cada uma deseja aprender dança. Confesso que a segunda parte me perdeu momentaneamente, até então a historia se mantinha muito pé no chão e a adição de seres sobrenaturais nela quase me tirou totalmente do livro, ao menos até eu dar uma pesquisada e ver que o livro se tratava de uma releitura do ballet que leva o mesmo nome "Giselle". Voltei a ler e devorei o que restava em pouco mais de duas horas, o final me surpreendeu, mesmo que eu já esperasse por ele.
O terror feito na segunda parte é realmente de deixar tenso, você não sabe pra onde vai e muito menos o que faria na situação.
As coisas que mais me desagradaram no livro (embora não tenha comprometido tanto minha nota final em relação a ele) são com toda certeza:
-A capa: sendo total opinião pessoal minha, eu detesto capas que levam pessoas reais nelas, tira toda a magia do livro e como vc vê tal personagem (é só ver as capas de Percy Jackson que foram retiradas dos filmes, ninguém gosta delas), eu comecei lendo achando que tanto Clara quanto Giselle tinham cerca de 20 anos e pra minha surpresa as duas tinham ali seus 15 anos. A cor da capa me agrada, remete ao tom "fantasmagórico" que a segunda parte trás, mas o fantasma é bem desconexo já que com tudo apresentado, Giselle não era em si um fantasma como um espectro ou dementador e sim ainda uma pessoa de certa maneira "física", embora estivesse morta. Uma boa alternativa seria buscar por posters do Ballet que pudessem ajudar nisso.
-Os diálogos: talvez por ser a primeira obra da autora (creio eu) alguns diálogos são fáceis de você se perder e não saber quem tá falando com quem, você acaba se guiando pelos trejeitos de alguns personagens ou só releva mesmo.
-A adição de mitologia grega no fim do livro: não sei ao certo se isso é presente no ballet ou se é algo que veio a se tornar recorrente nas obras da autora (caso for uma das duas coisas ignore essa opinião), mas foi uma das coisas que me tiraram um pouco do livro, parece o tipo de coisa que senão tivesse lá não faria diferença alguma pra trama, achei bem fora de foco.
-Por fim, a forma que Giselle morreu. Foi bem escrita, claro, relevo muito como aconteceu por ter sido muito bem escrito e passar a sensação que a personagem sentia na hora e como ela queria só sair dali, mas tirando isso, o clichê de personagem chegando na cena na hora errada e não ficando pra ver ou entender o que realmente tinha acontecido é muito batido. Relevo mais uma vez por ser bem escrito e por Giselle ser uma adolescente que estava tendo sensações novas e o primeiro amor.
No fim é isso. Giselle é um livro bom que poderia ser melhor, talvez venha a se tornar um dos meus livros favoritos com o tempo e com certeza é algo que eu recomendaria pros meus amigos lerem. É sempre bom e com certeza muito importante ver autores nacionais valorizando o que a gente tem aqui sem buscar coisa fora ou correr pro lado mais fácil que é criar um mundo fantasioso como Tolkien, Jk Rowling ou JRR Martin fizeram. Não tiro o mérito deles, eles são realmente importantes e ótimas referencias pra muita coisa e muita gente, o problema é quando a maioria quer repetir os passos deles criando tramas muito parecidas em diversos aspectos, sendo fazendo sagas imensas que você tem que se comprometer a ler todos os livros ou adaptando campanhas de RPG pra um mercado que tá cheio disso pra todo lado. Chega um ponto que cansa e você só quer ler um livrinho que começa e acaba ali, que tenha uma trama envolvente, personagens interessantes e identificáveis, problemas palpáveis e todo o resto que consegue fazer um bom livro o que ele é. Clara não se torna uma super heroína fodona no final que destrói todo o mal pela frente, ela ainda é a mesma garota normal do começo da trama, mas com um pouco mais de desenvolvimento e com toda certeza, coragem que só foi possível graças a Giselle.