Diogo 16/05/2020
Um acidente que poderia ter sido evitado com uma simples palavra...
O livro conta a história do acidente do Vvianca052 que ia de Medellín a New York em 1992, que sofreu um acidente muito parecido com voo LaMia2933 que transportava o time de futebol da Chapecoense, vindo também a cair por pane seca nos motores.
Relatando um pouco de como alguns de seus passageiros foram parar dentro da aeronave, o que te dá uma sensação de apego às vidas que ali seriam perdidas... É muito difícil imaginar que a maioria deles, por um fator de acaso, ao maior estilo efeito borboleta, foram parar no avião por destino, sorte ou destino...
As condições meteorológicas na região do pouso estavam se tornando muito críticas devido à uma tempestade e uma frente estacionária que surgia na região de NYC.
O voo 052 saiu de Bogotá, faria uma escala em Medellín e seguiria para NYC. Aí pousar em Medellín, o despachante operacional de voo da empresa (DOV), entregou um boletim meteorológico aos pilotos que estava atrasado em nada menos que 15 h! O mesmo poderia ter pego um mais atualizado, mas não o fez. Tal boletim ainda não mostrava a condição meteoro crítica na região de chegada do 052.
Por incrível que possa parecer, somente 1 dos tripulantes da cabine de comando (piloto, copiloto e engenheiro de voo) falava fluentemente o idioma inglês. Tal pessoa era o copiloto, o menos experiente na cabine. Com um CRM (crew resource management - gerenciamento de cabine, crucial para a segurança de voo) deficiente, o copiloto era muito tímido e se sentia acuado ao falar inglês com os controladores nativos, tendo dificuldades de se impor na comunicação via rádio.
O voo no AVA052 correu sem qualquer preocupação... Já nos centros de coordenação da FAA (Federal Aviation Administration - entidade governamental dos Estados Unidos, responsável pelos regulamentos e todos os aspectos da aviação civil naquele país) as coisas já estavam bastante preocupantes no tocante ao clima na aérea do JFK (O Aeroporto Internacional John F. Kennedy que serve principalmente à cidade de Nova Iorque), destino do voo Colombiano.
Ressalta-se na obra que ninguém da tripulação nem os despachantes contratados se preocuparam em obter/repassar boletins meteorológicos para atualizar as condições meteorológicas em rota, o que se provaria fatal. A única preocupação válida que a tripulação teve foi a de colocar combustível extra de 2h de voo antes de decolar de Medellín.
O voo foi colocado 3x em padrões de espera (quando uma aeronave fica voando em círculos em torno de um ponto imaginário de auxílio à navegação para esperar sua vez de realizar o procedimento de chegada), o que já consumiu mais combustível que o habitual. Mesmo assim, nem o controle de tráfego aéreo, nem os pilotos, repassaram/perguntaram o motivos das esperas, que no caso era o elevado tráfego aguardando pouso no JFK (horário do rush internacional) e as servas e perigosíssimas condições de meteoro.
Após muitas órbitas de espera padrão, o combustível do 052 começa a entrar em níveis críticos, porém, a tripulação nada fez para repassar tal situação ao ARTCC (sigla que identifica o controle de tráfego aéreo na região). Se tal situação tivesse sido reportada, o controle de tráfego teria dado prioridade de pouso ao Avianca. Como ninguém sabia de nada, nada foi feito.
O copiloto informou ao controle de seu baixo nível de combustível quando já não tinha mais autonomia para sequer atingir seu aeródromo alternativo (Boston), o que era uma afirmação gravíssima! Isso implicava que, em caso de uma aproximação perdida, o AVA052 corria o risco de entrar em pane seca.
O controle e o piloto jamais utilizaram as expressões padrão “mayday” e “pan pan” para declarar a Emergência. A situação parecia até estar sendo negligenciada. O copiloto não tomava a iniciativa de declarar sua real situação, utilizando expressões vagas como "não podemos esperar muito mais" e o controle, ao transferir o voo para o APP (controle de aproximação) do JFK não repassou a informação da possibilidade de urgência do AVA052, o que não o colocou em prioridade para o procedimento direto de pouso.
A primeira tentativa de pouso se frustrou devido às windshears (cortantes de vento) que forçaram o avião para baixo muito antes do ponto ideal da rampa de descida. O AVA052 veio a arremeter com apenas alguns minutos de combustível nos tanques.
Após a arremetida, 10 minutos se passaram, onde o comandante alertou por diversas vezes ao copiloto (único fluente em inglês da cabine) que informasse emergência de combustível ao controle. A única coisa que era passada ao órgão de controle eram as palavras "estamos ficando com pouco combustível". Tais palavras foram repetidas mais de 9x no rádio, porém a falta das expressões regulamentares de emergência na fonia (“mayday”, “pan pan” e “emergência”), levaram o controle a tratar a aeronave como um voo normal. Tal fato foi utilizado para absolver os controladores da culpabilidade da queda do avião meses mais tarde.
A aeronave caiu em um bairro extremamente nobre da região, sem explodir, sem se incendiar, com os 4 motores apagados, justamente pela Flame Out (apagamento do motor por pane seca). Das 158 pessoas a bordo, 73 morreram, 81 sofreram ferimentos graves (é possível assistir ao resgate em vídeos no YouTube, porém são cenas extremamente perturbadoras).
Piloto automático com problemas, 3 procedimentos de espera que queimaram o combustível extra, cortantes de vento, aproximação perdida, inglês deficiente, timidez do único falante de inglês da cabine, pressão psicológica devo à emergência... Elos que custaram a vida de dezenas e sequelou outras mais no desastre aéreo que mobilizou o maior número de meios de resgate antes do 7/11.
É normal sentir um pouco de aflição ao ler o livro e perceber a quantidade de erros que se somaram de maneira tão irresponsável até culminar em acidente tão grande. Você às vezes se pega se perguntando se tudo não passou de um roteiro de um filme categoria B de tão grosseiros que foram. Infelizmente, por pura falta de preparo e negligência, vidas foram perdidas. Na aviação os acidentes servem como um ensinamento, e muito se estuda sobre os mesmos para cada vez mais melhorar os procedimentos e continuar mantendo o avião como o meio mais seguro de transporte do mundo.
Um ponto extremamente positivo no livro é sua linguagem simples e direta em tratar termos técnicos de aviação de forma extremamente simples, não sendo necessário ao leitor ser um entusiasta da área para a perfeita compreensão do que se passa.