sagonTHX 06/07/2011UMA FANTASIA INSOSSAVou dispensar um resumo da história do livro e vou direto ao ponto.
De imediato posso garantir, apesar dos recorrentes tropeços da autora, acumulados desde o primeiro livro, que a Missão de Senar é um pouco melhor do que A Garota da Terra do Vento. Mas só um pouco melhor!
Mesmo assim, a parte do mago Senar continua a sustentar e carregar a narrativa até 2/3 do livro. Os capítulos relativos a Nihal continuam insossos, sem graça, sem criatividade, sem novidades, sem
carisma e, apesar de possuir alguma profundidade a mais do que no livro anterior (que era mais raso do que poça d'água), ainda fica muito a desejar, pois a semi-elfo continua chata, irritante e sem
noção. Nihal começa a ter algum valor relevante a partir do capítulo 15 (O Homem das Sombras), apesar de não ser aquelas coisas que possa nos encantar a ponto de uma releitura.
Infelizmente, Licia Troisi ainda não acertou na fórmula, e está longe de se considerar uma grande escritora. Vê-se nitidamente em sua narrativa infantil que ela própria, assim como Nihal, carece de
amadurecimento. Pelo visto, os muitos livros e filmes de fantasia que ela provavelmente deve ter lido ou assistido (já que se diz fã do gênero fantasia/mangá) não lhe ajudou a enriquecer o seu arsenal criativo e a escrever melhor.
E já que mencionei a possível literatura da autora, não poderia deixar de apontar algumas similiridades (vejam bem, são apenas "similiridades") das Crônicas do Mundo Emerso com alguma obras,
como, por exemplo:
A) O Tirano (que ninguém vê), os fâmins, Delos e seu dragão negro, o Velho da Floresta, que possuem alguma similiridade com personagens e elementos da saga O Senhor dos Anéis;
B) A amizade de Nihal para com o covarde e tímido Laio, o treinamento na Academia, o juramento a Ordem dos Cavaleiro de Dragão, a proteção exagerada dela para com Laio, são semelhanças "óbvias" a Jon Snow e Sammuel, Patrulheiros da Noite, na Muralha, em A Guerra dos Tronos.
C) A missão de Senar a procura do Mundo Submerso, os Piratas Roof e Aires, os desafios enfrentados por eles durante a missão, entre outros detalhes, são referências inequivocas à saga A Viagem, de
Terry Brooks.
D) O Reino de Zelênia, Senar como embaixador indo pedir ajuda ao rei do Mundo Submerso, as cúpulas de cristal envolvendo as cidades submersas, entre outras coisas mais, remetem à Naboo e aos Gungas em A Ameaça Fantasma (Star Wars - Spisode 1)
Isto sem falar, obviamente, nas muitas similiridades que existe entre a saga Eragon e o Mundo Emerso. Quem os leu, que faça as suas próprias comparações.
Tenho a lamentar que Licia Troisi, uma escritora formada em Física, tenha enveredado de forma tão canhestra na literatura cometendo erros absurdos, mesmo em se tratando de uma fantasia.
Um bom exemplo é o Reino de Zelênia, do Mundo Submerso. Um reino das profundezas abissais do oceano onde os seus moradores estão vivendo por muitas gerações sem ver a luz do sol, sem respirar o ar da superfície (aoiás, que ar eles respiram?) e sem ter contato com os micróbios e germes lá de cima, e que, de quebra, tornaram-se um povo pacífico, tendo abolido definitivamente a guerra... Como um povo desse tipo, que vive sob os efeitos da pressão exercida pelas pofundezas do mar, de pele translúcida e olhos claríssimos, podem, de uma hora para outra, ir à superfície para lutar ao lado dos exércitos
das Terras Livres contra o Tirano? E mais, como foi que os cavalos, mulas, pássaros e outros animais, típicos da superfície terrestre, além das árvores e plantas, não se adaptaram nas profundezas sem nenhum tipo de mutação? Sem nenhuma intervenção "mágica", ou "científica"? (Vide o adendo abaixo)
Este é só um exemplo de muitas outras incongruências que existem na saga, mesmo em se tratando de uma fantasia.
FALTOU EXPLICAÇÃO!!! FALTOU PROFUNDIDADE NARRATIVA DESCREVENDO AS CONDIÇÕES!!! FALTOU CAPRICHO POR PARTE DA AUTORA QUE LEU, LEU E LEU MUITA LITARATURA DO GÊNERO "SIMILAR" E NÃO APRENDEU NADA, ABSOLUTAMENTE NADA, DE COMO SE ESCREVE UMA VERDADEIRA E BOA HISTÓRIA DE FANTASIA MEDIEVAL.
Antes Licia Troisi tivesse feito uma ficção-científica, sobre um mundo alienígena, ou coisa do gênero, já que ela é formada em Física. Nós temos bons exemplos de cientistas físicos e astrofísicos que se tornaram bons escritores e nos legaram boas obras literárias. Carl Sagan, com seu maravilhoso Contato, é um exemplo disto.
Recomndo-o para os leitores iniciantes; para os curiosos; para os que não dão valor ao seu dinheiro; para os que não estão preocupados com conteúdo e querem apenas um texto raso, sem volume, insosso, de fácil leitura e sem muita complexidade; para os que nunca jogaram um RPG ou leram Tolkien, George R.R. Martin, entre outros excelentes autores desse gênero de literatura.
Mas, se você é um leitor exigente e não lê apenas por ler, mas entende e gosta de entender o que está lendo, aconselho-o a procurar coisa melhor. Bons exemplos não faltam nas livrarias.
ADENDO:
Para os curiosos,a respeito de Zelênia tenho para ilustrar, pela falta de informação da autora:
...a 10 ou a 100 metros de profundidade, quanto mais se desce, mais o oceano comprime os frágeis corpos humanos... Com os pés em terra firme, o homem sofre a pressão de 1 atmosfera (1 quilo por centímetro quadrado do corpo, equivalente a uma coluna de ar sobre a cabeça). (...)Nos domínios dos peixes, porém, o mundo fica mais pesado: a cada 10 metros na direção do fundo do mar, a pressão aumenta em 1 atmosfera. No corpo humano apertado pelo mar, o que sofre são as cavidades recheadas de ar, como os pulmões e os ouvidos.
(...)É preciso passar por um rosário de adaptações para poder descer tão fundo, no chamado mergulho saturado, onde a pressão ronda as 30 atmosferas — algo como 45 toneladas ou 56 fuscas sobre os ombros.
(...)Um mergulhador fica saturado pelos gases em aproximadamente 12 horas de compressão. Assim, independentemente do tempo que permaneceu pressurizado, a descompressão obedece à velocidade de um dia para cada 33 metros de profundidade, determinada a partir da velocidade de saída do hélio dos tecidos. Se a lei permite que um mergulhador fique apenas 28 dias pressurizado, conta-se um dia para a compressão de mergulhos a 300 metros de profundidade, dezessete dias de trabalho e outros dez somente para descomprimi-lo, sempre ilhado em câmaras. A vida na clausura é difícil.
(Fonte: http://super.abril.com.br/ecologia/permanencia-homem-fundo-mar-vida-pressao-440134.shtml)