joaoggur 27/01/2024
O ano dos infortúnios.
Temos aqui um belo relato sobre o luto. Era mais uma noite normal, mais um simples jantar, quando o escritor e marido da autora, John Gregory, em repente tombara para o lado. Chamar os paramédicos e colocá-lo na ambulância não foi suficiente; morrera. E, em meio a este cenário, teria que lidar com outro grave problema; sua filha, Quintana, estava acamada e em coma.
Tocada com o evento traumatizante, Joan Didion (uma excelente autora, mesmo com o mercado editorial Brasileiro ainda não lhe proporcionando a relevância merecida) tentara achar métodos terapêuticos para lidar com o luto, e optara por aquilo que ela e seu marido sempre fizeram, sozinhos ou em conjunto; escrever.
Os relatos sobre a morte são densos. A repetição, o incessante voltar da narrativa para a trágica noite de 30 de Dezembro de 2003, não cansa o leitor; os eventos que tecem sua morte são mesclados com memórias da autora, o que faz nos envolvermos com o casal e com sua filha. Paradoxalmente, a poética da escrita está em sua crueza, na inevitabilidade de um marido morto e de uma filha doente.
Não posso ignorar os monótonos momentos dos rodeios médicos, tal como os trechos onde há a citação de romances da própria autora ou de seu marido; pelas obras nunca terem sido lançadas no Brasil, não me cativei em nenhum momento, e mesmo entendendo a pessoalidade da memória, não posso dizer que não são momentos anti-climáticos.
Um relato lindo, que, muito mais do que falar sobre um falecido, diz nas entrelinhas como o amor pode nos impactar. Vale a leitura. Por vezes me lembrou muito os relatos de Annie Ernaux.