Resenhas - Silêncio

Carlos Nunes 24/01/2023

Até onde vai o alcance da nossa fé?
SILÊNCIO conta a história de um padre português, que em 1630 foi com outro companheiro para o Japão, à procura de um antigo professor, de quem chegaram notícias de que havia apostatado, ou renegado a fé. Após um longo período em que o Cristianismo floresceu naquele país, agora os cristãos estavam sendo barbaramente perseguidos e exterminados. Animados pela fé e pela crença de que estão seguindo os passos de tantos outros missionários anteriores que levaram os ensinamentos de Jesus a terras distantes, e guiados por uma figura bem esquisita e ambígua, o japonês Kichijiro, os padres encontrarão uma realidade bem diferente do que imaginaram: aldeões vivendo em condições de miséria quase absoluta, perseguição, torturas, cristãos que não negaram a fé sendo mortos de maneiras bastante brutais, e não demora para questionarem como aquelas pessoas podem viver naquela situação e ainda assim perseverarem na fé cristã e por que Deus não se manifesta diante de tantas atrocidades.
E apesar do tema e de ter como personagem principal um padre, SILÊNCIO é um livro que funciona muito bem para quem não é católico ou mesmo que não professe nenhuma religião. Qualquer pessoa pode tirar desse livro várias lições e reflexões sobre o que e como é realmente acreditar em algo que você não pode ver mas que está enraizado no seu coração, que faz todo sentido para você e como essa crença pode impulsionar o ser humano a limites inacreditáveis. Não é um livro que oferece respostas mas que provoca um mergulho em nossas próprias crenças e que nos leva a pensar sobre qual caminho escolheríamos caso estivéssemos no lugar daqueles padres ou japoneses cristãos.
E apesar de ter uma escrita fácil e envolvente, é também um livro bem introspectivo, com muitos momentos difíceis e angustiantes, em que às vezes é necessária uma pausa, que impressiona pelo sofrimento e pela solidão dos personagens. Muito interessantes também são os diálogos travados entre o padre Rodrigues e o oficial japonês responsável pelas prisões, o Inoue. Nesses diálogos, é traçado um paralelo entre o Budismo e o Cirstianismo, entre a realidade do Japão e a da Europa, das motivações e formas diferentes de exercer a religião. Talvez no fundo o Cristianismo que aqueles japoneses dizem praticar e acreditar não seja o mesmo Cristianismo que os padres acham que eles praticam. O Japão é colocado como um pântano onde nenhuma planta estrangeira poderia fincar raízes, pois elas apodreceriam. Por fim, mesmo não sendo exatamente um romance histórico, mesmo assim traz muitos esclarecimentos e conhecimento sobre a história tanto do Catolicismo quanto do Japão, sobre esse tema do qual nunca ou muito pouco ouvimos falar.

Gabriel1994 13/12/2022

O Martírio da Fé
Meu primeiro livro do autor e meu primeiro romance Japonês. Endo entregou muito nessa obra, motivado pela fé e pela história que entrelaça o cristianismo e o Japão, conseguiu escrever uma obra-prima digna da adaptação que ganhou para o cinema.

Muitas reflexões e pensamentos, indagações e questionamentos levantamos ao ler Silêncio...

Teria o Padre recaído a apostasia por pura covardia? Por medo da morte ou da tortura? Por ter perdido a fé durante o martírio que se abateu sobre ele? Ou fora pelo amor ao próximo, aos que estavam sofrendo que resolveu entregar-se a apostasia?

O que Jesus faria em seu lugar???

O que EU faria?????

São diversas e complexas as maneiras de pensar e refletir sobre os acontecimentos dessa história, sobre as atitudes dos Padres Rodrigues e anteriormente Ferreira, missionários. As consequências da fé cristã em um país budista...

Apesar de todo questionamento que é levantado é inegável a maestría de Endo na construção narrativa e nos diálogos desta obra.

Não esperava gostar deste livro, hora pelo ceticismo, hora pelo receio do autor transformar uma ficção histórica sobre cristianismo em um livro evangélico do Silas Malafaia....

Todavia fui surpreendido e de uma maneira muito positiva!

Os prefácios são introdutórios, assim como o começo da obra, apresentando toda tensão e a premissa da crueldade do que estaria acontecendo com os cristãos no Japão. No desenrolar do livro, o autor vai acrescentando o drama, a habilidade de descrição e escrita e a densidade do problema e do perigo juntamente com toda tensão que se esperava e se obteve do começo ao fim do livro.

A escassez, a dor, o sofrimento, a contradição, o conflito da fé e da cultura, o martírio, a tortura e a morte... Tudo muito bem transmitido para o leitor.

A mesma habilidade notável de Endo na construção narrativa é facilmente perceptível também nos diálogos.

O conflito e a batalha que o Padre Rodrigues traça consigo mesmo em relação a fé e ao sofrimento, o conflito e a batalha que o mesmo tem com Inoue no magistrado em um embate dos conceitos e crendices cristãs e budistas e as amargas e dolorosas conversas entre o sumido Padre Ferreira e o resiliente Padre Rodrigues, são os ápices que dão toda majestade a essa obra de Shusaku Endo.

Um livro que carrega o drama e a luta, os questionamentos, reflexões e os pensamentos, a crueldade e o martírio, a verdade e os seus pontos de vista.

Recomendo muito a leitura e espero ter outras boas experiências com outras obras do autor e romances japoneses no geral.

Uma obra digníssima de 4.5 estrelas!!!

João 11/06/2022

Onde está Deus?
Shusaku Endo nos presenteia com uma ficção histórica baseada em fatos que se passa no Japão da primeira metade de 1600.

O livro conta a história de dois padres portugueses que decidem embarcar em uma viagem para o arquipélago japonês, desafiando a proibição ao cristianismo que lá imperava para auxiliar os cristãos que estavam sendo perseguidos.

O ponto forte do livro está no personagem principal, padre Sebastião Rodrigues, que, em face de tanta perseguição, tortura e morte, começa a questionar sua própria fé e o silêncio de Deus.

É um livro que sem dúvida vale muito a pena ser lido com calma para captar a mensagem que o autor constrói através de detalhes.

Marconi Moura 14/02/2022

8,0
O cenário histórico é muito interessante: meados do século XVII, no Japão. O cristianismo havia chegado com os navegadores portugueses algumas décadas antes, mas depois de um animado acolhimento, e principalmente por questões políticas e econômicas, havia sido banido. Missionários clandestinos ainda tentavam ir pra ilha, como o personagem principal, Padre Sebastião Rodrigues. Sua trajetória vai construindo um questionamento do autor sobre a igreja, o cristianismo e sua relação com a cultura japonesa. O autor é ele próprio um católico japonês. O texto é muito agradável e a leitura envolvente. Há uma variação de motivo pouco claro entre a narração epistolar em primeira pessoa, depois em terceira pessoa e trechos ao final como recortes de documentos oficiais. O finalzinho me pareceu ruim e desnecessário.

Vitorito 15/01/2022

Confrontador, assertivo, real.
O livro nos conta a história de uma missão, onde fé e sofrimento se atrelam incapazes de não serem uma coisa só, onde certo e errado se confundem e o dever entra em conflito com o clamor. Quantas dúvidas o silêncio faz ecoar, principalmente quando ele vem da voz que tem todas as respostas, e pode fazer todas as outras calar. Uma terra distante e uma vida inteira pra alcançar, silêncio nos mostra o caminho e o sacrifício necessário pra o conquistar, só basta descobrir o quanto um homem está disposto a abrir mão, e do quanto ele pode suportar.

pukas26 16/05/2021

Sua fé é inabalável?
Livro bem interessante que relata quando o cristianismo/catolicismo estava sendo perseguido no Japão. Porém, a mensagem mais interessante é quanto vale a sua fé. Vi algumas críticas negativas, mas me pergunto: quantos cristãos de hoje conseguiriam suportar as torturas ou morreriam como mártires?

Ingrid 02/05/2021

Vamos acompanhar a trajetória do missionário Sebastião Rodrigues, que decide ir para ao Japão a procura do Pe. Ferreira, um missionário muito conhecido, e que ninguém mais tinha notícias. E, ainda, pretendia conhecer os japoneses cristãos que ainda viviam no país, e quem sabe converter mais alguns japoneses. Durante a leitura, ficamos sabendo da história do cristianismo no Japão, dos seus tempos áureos até sua decadência. Junto com Sebastião vamos conhecendo as piores torturas que se cometiam contra os cristãos, japoneses e missionários, para que renegassem sua fé. Mas, também, vamos ver Pe Sebastião questionando toda a sua fé, e todos os ensinamentos da Igreja; fato que vem de encontro ao autor, que é um japonês cristão. Ao leitor, é possível, também, questionar a liberdade religiosa, e quanto ela pode interferir numa cultura diferente, e até mesmo pensar que ela deveria se adaptar as culturas de um povo, Relatos muito fortes, que nos mostram as torturas sofridas pelos cristãos, e a emocionante fé do Pe Sebastião, que o leva a tomar uma decisão que jamais ele pensaria, sem contudo abalar sua fé; ainda que afastando-se dos dogmas aprendidos na igreja.

Tauan4 08/04/2021

Intrigante
O livro trouxe duas reflexões para mim.

A primeira foi imaginar como o enredo afeta pessoas com crenças distintas de formas diferentes. Eu como agnóstico tive dificuldades de entender a fé do padre, e todo o sofrimento que ele e outros passaram devido a essa fé. Já um católico, por exemplo, deve se identificar muito facilmente com o padre e suas angústias.

A outra reflexão está em torno do fato histórico relacionado as missões católicas em países mais ?desenvolvidos?, como o Japão, que bem antes do século XVII já possui um sociedade feudal bem estruturada, ou seja, um povo com meios para se defender.

Enfim, uma leitura para todos, seja pessoa de fé ou não.

Ryllder 28/03/2021

Absurdo da fé
Novela que se passa em inícios do século XVII, num Japão ainda dominado por um tipo de feudalismo.A Igreja Católica envia sacerdotes para converter seus habitantes à fé cristã. Livro com um tom contemplativo. Acredito que a mensagem que o romance tenta transmitir seja recebida de forma distinta por um crente na fé ou um agnóstico/ateu, que é meu caso. Vi mais lógica no pensamento dos japoneses, mais praticidade. Essa fé inabalável sob os mais diversos tipos de torturas, físicas e psicológicas, não faz sentido para os japoneses não-cristãos. Meu sentimento de absurdo saiu mais reforçado ao término da leitura.O autor tem um escrita muito elegante.

Beto 25/03/2021

Uma obra devastadora
Magistral. Precisa. Dolorosa. Avassaladora.

É difícil definir o que Shusaku Endo é capaz de transmitir em sua obra prima "Silêncio". Mais do que um retrato histórico da perseguição imposta ao catolicismo no Japão, o livro lhe coloca na pele de Sebastião Rodrigues: sentido suas dores, aflições, dúvidas e, principalmente, sua relação com o sagrado.

Endo é capaz de gerar uma reflexão individual sobre qual seria a sua reação se você estivesse no lugar dos nipônicos perseguidos. Fingiria que abandou a fé? Resistiria ao martírio? Desejaria o martírio para se sentir bem? Cada um possui sua resposta e, ao longo do livro, o desenrolar faz com que entendamos o que leva a cada decisão dos personagens - até mesmo com Kichijiro e sua personalidade dúbia tornam-se compreensíveis.

Isso não quer dizer, contudo, que o autor esteja relativizando o que ele mesmo pensa sobre a fé. Ao longo do livro, é possível perceber quem realmente está seguindo os passos de Jesus, como cada um lida com seu sofrimento interno e - agora vem o principal - como lidam com o silêncio de Deus. O silêncio mais amedrontador do mundo. O silêncio que leva a crer que tudo foi em vão e que sua vida não vale mais a pena. O silêncio de Deus é mortal e perturbador, colocando à prova as crenças e a própria razão de viver.

Endo apresenta todas essas questões no livro com maestria ímpar, o que torna "Silêncio" uma obra tão especial e primordial. Já se tornou um dos meus parceiros de cabeceira e um dos meus livros favoritos, tocando na alma de um católico que percebeu que ainda há muito a ser aprendido - e que se perguntou muito o que faria na mesma situação que o Padre Rodrigues.

EvaA 19/03/2021

Muito melhor que o filme
Vi o filme e fiquei muito inquieta com o final. Decidi ler o livro para ver se o final era o mesmo.
O livro é muito melhor que o filme.

Marcus.Vinicius 15/02/2021

Os limites da fé
Em Silêncio, o japonês Shusaku Endo traz um romance histórico sobre um tema pouco conhecido e abordado: o cristianismo no Japão e a missão portuguesa de cristianização dos japoneses. Passado no século XVII, o enredo trata da busca pelos padres portugueses Sebastião Rodrigues e Francisco Garpe pelo também padre Ferreira, o qual segundo informações teria apostatado (renunciado à fé). Com esse pano de fundo, o autor nos leva a conhecer um Japão feudal dominado pelos samurais e pelo budismo, religião oficial da época, onde a perseguição religiosa se fazia presente, submetendo quem fosse cristão a rituais de tortura para renegar a fé católica. O que foi mais marcante na minha visão, foi a reflexão de quais seriam os limites da fé e da crença, onde por algumas passagens vemos a angústia e aflição do padre Rodrigues ao questionar sua própria fé. Romance histórico de primeira linha, que nos faz refletir sobre os limites da fé e também aliberdade de crença.

Thiago 10/02/2021

Compungente ficção histórica de missionários católicos portugueses no Japão em um período de grande perseguição ao cristianismo. Muitos questionamentos do protagonista a respeito do silêncio de Deus diante do sofrimento refletem o livro de Jó, bem como diversos Salmos. Como Martin Scorcese escreve no prefácio: ?O questionamento talvez produza grande solidão, mas, se ele coexistir com a fé ? a verdadeira, duradoura ?, poderá acabar sendo a mais jubilosa comunhão.?

Adriana1161 27/01/2021

Soturno e sofrido
O livro fala da tentativa de missionários portugueses em levar a fé cristã aos japoneses em meados do século XVII. E sua perseguição por causa disso... A expansão do cristianismo estava sendo vista como uma forma de colonização ocidental, por isso, os japoneses promoveram perseguições contra os próprios japoneses que haviam se convertido para o catolicismo e contra os missionários ocidentais, mais especificamente, os ibéricos.
O silêncio do título tem vários significados.
O próprio autor era um japonês católico, minoria no país.
Retrata a fé católica em contraposição com a cultura japonesa.
Fala da apostasia, que é a renúncia de uma religião ou crença, abandono da fé.
São temas delicados que tem que ser vistos levando em conta a perspectiva histórica e cultural.
As partes que envolvem tortura são bastante sensoriais.
Romance histórico, parcialmente epistolar.
Aborda questões que fazem pensar.
Personagens: Sebastião Rodrigues, Francisco Garpe, Cristovão Ferreira, Inoue, Kichijiro
Local: Japão - 1638 a 1681