Jess.Carmo 10/09/2021
Uma arqueologia da noção aristotélica de hypokeimenon
Encontramos aqui uma excelente discussão acerca da noção aristotélica de hypokeimenon/subjectum. Se engana quem acha que houve um eterno consenso filosófico ou uma única leitura do conceito de sujeito aristotélico. Alain de Libera faz uma extensa discussão de como a leitura do conceito do filósofo grego foi descontínua e sofreu calorosas discussões e contrassensos.
Encontramos em Agostinho um marco privilegiado no primeiro volume da arqueologia do sujeito. Para Libera, há uma exclusão do hypokeimenon aristotélico na obra de Agostinho para se pensar o que é a alma, produzindo, assim, uma nova teoria da alma. O sujeito deixa de ser o suporte dos atos mentais. "O sujeito agostiniano é antes de tudo o sujeito em diálogo com Deus e constituído nesse diálogo mesmo" (p.73).
Além disso, o subjectum tem uma dupla significação, lógica e metafísica. É nessa segunda significação que a orientação moderna de sujeito continua sendo determinada, ou seja, da ontologia tradicional.
Por fim, a obra serve como pontapé para entender que a questão do "quem pensa?" é datável e sua história está repleta de disputas filosóficas, teológicas e políticas. "A questão do sujeito mudou várias vezes de sentido" (p.98).
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Trata-se de uma leitura extremamente densa. O trabalho de tradução, revisão e construção de notas foi bastante acurado, mas senti falta da tradução de algumas notas que estão em latim. Acho que não ter acesso a essas traduções dificultou bastante a compreensão do texto, tornando-o, por vezes, cansativo. Também é uma pena não ter os outros volumes traduzidos.
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