Andreia Santana 13/09/2022
Quando Margaret visita Alice
Margaret Atwood flerta com o estilo de sua conterrânea Alice Munro nas 10 histórias que compõem Dicas da Imensidão (Rocco, 2017). E não é pouca coisa comparar as duas autoras canadenses que dissecam o feminino com tanta maestria. Os contos de Margaret, nesse livro, visitam a prosa intensa e ao mesmo tempo serena de Alice Munro, que costura destinos de mulheres diferentes fio a fio, entrelaçando-as em uma cumplicidade que só quem vive as mesmas experiências é capaz de compartilhar.
Relações frustradas, o medo da morte, a crueldade do mundo com as mulheres em geral e, especificamente, com as que se permitem envelhecer; os perrengues no mercado de trabalho, a violência física e psicológica, o assédio de cada dia, os maridos e amantes infantilizados em uma sociedade que insiste em referir-se aos homens de meia idade como ‘meninos’. Os percalços para chegar ao topo da carreira só para colher o ressentimento de antigos chefes ou colegas, a sempre complexa maternidade, ser a mesma e ser a outra, construir-se sólida, forte, determinada e audaciosa em meio aos estereótipos e negações que constituem as muitas identidades femininas. Os dramas de família, as chegadas e partidas, gente que deixou marcas e quem se foi sem ser notado, os amores e amizades que sobreviveram a terremotos e traições, mas nem sempre ou sem deixar sequelas, nesse último caso.
Os 10 contos de Dicas da Imensidão – e um deles é justamente o que nomeia o livro - traçam um mapa acidentado e remendado que conduz cada leitor a uma catarse individual e coletiva. Falando especificamente das leitoras, é como acolher a si mesma e às outras em um grande abraço coletivo: Sim, tenho irmãs. Minha dor é a sua. Também já fui ingênua assim, me perdoei e perdoo você, querida mulher que inicia sua jornada de reconstrução, seja na adolescência ou na maturidade. Vá em frente, no fim do caminho haverá outras à sua espera.
Mundialmente famosa depois do sucesso de O conto da aia e autora também dos fabulosos Vulgo Grace e A odisseia de Penélope e da fenomenal trilogia distópica Maddadam (Orix e Craig, O ano do dilúvio e Maddadão), Margaret Atwood não precisa provar para ninguém que é uma das romancistas mais criativas e brilhantes em atividade. Mas, para quem não conhece a verve contista da autora, Dicas da Imensidão é um cartão de visitas padrão cinco estrelas...
O exemplar que eu li:
Margart Atwood virou uma obsessão desde que assisti Vulgo Grace, a minissérie da Netflix inspirada no romance homônimo da autora, que tratei de comprar e devorar. Comecei a buscar seus livros e construí um pequeno acervo do qual Dicas da Imensidão é uma das aquisições mais recentes. A edição que tenho é da Rocco, editora que publica Atwood no Brasil, lançada aqui em 2017.
Dela, também já li A odisseia de Penélope, o já citado Vulgo Grace e a trilogia Maddadão, todos do meu altar particular da "seita Atwoodiana"; e O conto da aia, da biblioteca de minha irmã, que vive sendo citada, pois é minha fornecedora assídua de livros.
Já comprados e na fila de leitura estão ainda: Semente de Bruxa, O assassino cego, A vida depois do homem, Os testamentos (a continuação de O Conto da aia) e O ovo do Barba Azul (esse também é de contos).
Sendo cobiçados para breve (assim que os boletos permitirem): O projeto Decamerão (antologia que reúne vários contistas e foi organizado por Atwood, traz contos sobre a pandemia) e os recém-lançados O coração é o último a morrer e Colchão de pedras (esse reúne contos sombrios!), porque a Rocco não tem piedade de quem trabalha para comprar livros...
Ficha Técnica:
Dicas da Imensidão
Autora: Margaret Atwood
Tradução: Ana Deiró
Editora: Rocco (2017)
240 páginas
*R$ 18,89 (livro físico, Amazon) e R$ 13,22 (e-book, Kindle)
*Pesquisa em 13/09/2022
site: https://mardehistorias.wordpress.com/