O país da canela

O país da canela William Ospina




Resenhas - El País de La Canela


9 encontrados | exibindo 1 a 9


Debora 14/06/2021

Um relato de viagem poético
Ospina, em seu O País da Canela, reconstrói o que pode ser visto como um relato de viagem de um grupo de espanhóis pelo Peru, na busca pela riqueza desta árvore aromática. No percurso, estão as origens, com a derrota do povo Inca e destruição de tantas maravilhas em busca de riquezas. Personagens históricos importantes e a violência de seus desbravamentos estão descritos no livro.
"E o País da Canela, com suas riquezas imensas, com suas plantas medicinais, com usas cidades saudáveis [...], vai se transformando para mim no símbolo de tudo que legiões de homens cruéis e dementes procuraram sem fim ao longo das idades [...]" p. 230
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Hector 02/03/2023

Um livro que chega depois do fracasso
O País da Canela, do colombiano William Ospina, é mais uma possibilidade aberta pelo excelente trabalho que a editora mundaréu realiza em sua coleção Nosotros. Este livro é o segundo de uma trilogia, a qual se inicia com o livro Ursúa e termina com o livro La serpiente si nojos, ambos ainda sem tradução no Brasil.
Encontramos, nessa obra, uma espécie de carta-relato de um participante de expedições colonizadoras espanholas em terras que se tornariam posteriormente a Colômbia. Os relatos, construídos narrativamente como uma unidade, projetam-se quase como um romance histórico. O hibridismo ou ambiguidade da estrutura textual não é nenhum problema, uma vez que é carregada pela grande capacidade narrativa de Ospina e por escolhas que, a meu ver, sustentam o enredo. Essa ambiguidade parece ser um caminho literário perseguido pelo autor em vários sentidos. A expressão da consciência do narrador-personagem é construída a partir dessa ideia, na medida em que ele próprio se declara filho de mãe indígena e pai europeu filho de mouros, ponto de partida de uma tensão histórica tradicionalmente compreendida como uma relação de dois polos antagônicos que se posicionam em uma dicotomia colonizadores-colonizados, formatando uma gangorra equilibrada e desequilibrada pela violência. Partir do ponto de vista do “entrelugar” de um “mestizo” pode ser recurso potente na exata medida da ambiguidade que tal categoria amplíssima carrega.
A crítica à dominação espanhola em O País da Canela se dá, portanto, não como uma descrição linear e direta do que poderíamos designar “os horrores da colonização”, mas sim como um embate entre visões de mundo que possuem coerências e incoerências internas. Em outras palavras, Ospina prefere apresentar a questão em termos mais analíticos que descritivos (embora seus méritos descritivos sejam muitos), em uma operação na qual a literatura capitania a jornada, mais que a história, observando os lugares que esta não consegue chegar. Sua condenação do colonialismo vem, a meu ver, pela escolha de não haver uma grande redenção do personagem, que permanece ambíguo até o fim, pensando a ambiguidade dentro da proposta que apresento mais à frente. Construímos como expectativa (até mesmo inconsciente) que sua proximidade com a mãe indígena e tudo que passou na expedição colonizadora o façam condenar o ideal civilizatório europeu. Essa expectativa não é totalmente frustrada, mas também não é totalmente contemplada, mais uma vez em virtude do “entrelugar” que o desfecho também ocupa. Teofrasto, personagem autor do belíssimo texto que inaugura o livro, parece representar a posição final do nosso narrador, que aprende com as visões indígenas, observa o caráter destrutivo do ímpeto europeu, mas acaba vendo, também na Europa, a possibilidade de reconstrução do mundo, em saídas como as que Teofrasto apresenta. A pragmática violenta produzida pela religiosidade europeia é confrontada pelo narrador ao apresentar a potencialidade de saídas inversas, em que o sobrenatural e a natureza se sobrepõem quase que indistintamente, o que parece caracterizar um pensamento imanente, que flerta com as cosmogonias indígenas.

Considero incrível a tentativa de Ospina de nos fazer pensar sobre a ambiguidade de uma forma por meio da qual ela jogue contra a destruição colonialista, quando nossa tradição mais ou menos recente condena a ambiguidade como sinal de traição ou isenção irresponsável. Mais que estar em vários lugares ao mesmo tempo, a ambiguidade pode ser ressignificada política e simbolicamente nos termos sugeridos pelo narrador mais ao final do livro:

“E bem poderia ser que o que rege o destino do homem não fosse Cristo nem Júpiter nem Alá nem Moloch, mas Pachacámac, o deus dos avanços rumo a lugar nenhum, o deus da sabedoria que chega um dia depois do fracasso”.

A escolha de um deus "não-todo-poderoso", o deus do lugar nenhum, é a recusa da ideia de progresso, a qual implica necessariamente um lugar a se chegar na linha da evolução e que foi fiadora central do colonialismo.

Isso parece ser uma saída honesta, uma vez que, sim, não poderemos jamais apagar totalmente a chaga do colonialismo, o que significa dizer que viveremos para sempre um dia depois do fracasso.
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Carla Verçoza 28/05/2021

Poético e assustador
"Algo no meu sangue me diz que o que destruímos era mais belo do que o que procurávamos."

Ospina cria uma grande obra, relato de expedições espanholas em busca do País da Canela e a descoberta do rio Amazonas. Longe de ser um livro de aventuras, descreve, através de seu narrador, as angústias, medos, assombros e horrores.
"Como se só a barbárie pudesse abrir caminho para nossa civilização."

Um romance histórico belíssimo, escrito em uma linguagem poética, sem tentar emular linguagem da época. Uma história que nos é tão próxima e ainda assim tão pouco conhecida em seus detalhes.
"Todas as vezes que tentamos desembarcar, fazer acampamentos, sentirmos firmeza da terra debaixo dos nossos pés, descansar daquela sensação de vertigem produzida por ir sempre sobre a correnteza instável, à mercê do pesado declinar das águas, sentimos algo hostil no ar, que nem sempre se tornava flechas ou insetos. Era um clima impreciso de horror, a consciência de haver chegado a um mundo alheio, onde nada nos compreende e onde não compreendemos quase nada."

Com a primorosa tradução de Eric Nepomuceno, esse livro merece muito ser lido e comentado.

"Mas talvez, agora que penso nisso, a procura da cidade de ouro, a busca das amazonas e das sereias, dos remos encantados e das barcas que obedecem ao pensamento, a busca da fonte da eterna juventude e do palácio no rochedo rodeado de cascatas vertiginosas, talvez seja apenas a nossa maneira de cobrir com uma máscara algo mais obscuro, mais inominável, que vamos procurando e que inevitavelmente encontraremos."
Vinícius 28/05/2021minha estante
Aí ai, interessei


Carla Verçoza 28/05/2021minha estante
Escreve bonito esse Ospina!


Vinícius 28/05/2021minha estante
ja adicionei nos "quero"




Paulo 24/05/2021

Um choque sobre a realidade
Narrativa de fundo histórico, traz um narrador-protagonista que acompanha a expedição de descoberta do rio Amazonas, ainda no séc.19. Porém, quem pense que é uma história de aventuras e heroísmos vai se surpreender. Há um grau de humanidade na narração que nos evidencia toda a desumanidade do período das conquistas que tantos os europeus anunciam como descobrimentos. Nada descobriram pq tudo destruiram. E tudo que destruiram era mais belo e valioso do que buscavam, ouro e canela.
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Amarildo 26/01/2014

Quando o irreal nos guia
Ospina me fez lembrar do Mito da Caverna, de Platão. Para o colombiano, a busca pelo irreal guia a realização dos fatos e o devaneio nos empurra para adiante, para o encontro com o que não sabíamos que procurávamos, mas não sem deixar um rastro de injustiças, sangue, ruínas e pilhagem como sombras desse delírio. Quantas barbáries causamos por confiarmos em nossos sonhos? No entanto, os erros causados quando as sombras do mundo inteligível tocam a face da Terra são motivos para deixar de sonhar? Creio que não, e que a chave para as duas perguntas não é abandonar os sonhos ou fugir dos devaneios, mas sonhar melhor e se atirar na loucura sem cautela e sem ganância.
William também demonstra nessa história absurda, e por isso real, pois viver é um absurdo, sobretudo na América Latina, que foi da Europa ibérica que veio, junto à subjugação que sofremos apesar de toda resistência, nossa desgraça e nossa bênção. Para a primeira contribuíram o cristianismo, as doenças, a pólvora, o ferro, a ganância e a traição. Para a segunda, a necessidade de deixar-se guiar por sonhos e devaneios, um idioma que sempre foi um mesmo sendo dois, e a solidão que tão bem floresceu em nossas terras, montanhas, rios e mares e que se manifesta diariamente nos olhos brilhantes de nossa gente, que revelam que não há chão sob nossos pés, que vivem em busca de um lugar no mundo, e que todos nós, mesmo sem percebê-lo, sabemos que nossa terra não é essa, embora só possa ser essa que tanto amamos.
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Marcos Wlrich 23/05/2021

Narrativa épica
A violenta aventura dos espanhóis no Século XVI, o livro mostra brevemente a queda dos Incas no Peru, mas o foco maior é na busca pelo País das Canelas e a descoberta do Rio Amazonas. Com uma narrativa lírica a história te prende do começo ao fim. Li o livro em menos de dois dias. Importante leitura histórica.
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Valéria Cristina 16/01/2023

Uma narrativa poderosa
O selo *Mundaréu nos brinda com esta maravilhosa narrativa épica que nos conta, entre outros fatos, a conquista do Peru. A história é descrita pelo filho de um dos conquistadores espanhóis. O narrador em nenhum momento informa-nos seu nome, mas nas notas finais do livro há indicações sobre sua provável identidade. A narração é feita a uma personagem que somente no final do livro tem seu nome revelado. Ainda, há a indicação que o narrador conta sua história ao longo de um dia, enquanto aguardam a chegada de uma embarcação.

Ao revelar suas aventuras em terras sul-americanas, o protagonista parte do momento em que chega ao Novo Mundo em busca da herança de seu pai. A descrição que é feita desse cenário é simplesmente uma das coisas mais lindas que já li. Poeticamente, com uma estética espetacular vamos contatando a esplendorosa Qzco, a metrópole Inca dizimada pelos espanhóis. Sua forma de jaguar, seus templos resplandecentes em ouro, prata e pedras preciosas, suas alamedas repletas de vida e luz, seus reis, sua cultura.

Personagens históricos desfilam ante nossos olhos assombrados pela beleza e pelo horror da conquista: os irmãos Pizarro, Gonzalo Fernández de Oviedo, Diego e Almagro, Francisco de Orellana, Diáz de Pincela, Hermán Cortéz, o rei Sol Atahualpa, Ruminãhui, Manca Inca Yupanqui.

Descobrimos as traições e a disputa pelo poder entre os conquistadores europeus e olhamos, estarrecidos, para o holocausto perpetrado em nome da cobiça desmesurada. O sangue de milhões de incas inundou a terra e revelou que o homem não tem limites face a riqueza existente naqueles domínios.

Mais à frente, nosso narrador descreve a busca pelo País da Canela. A insaciável ganância, não exaurida pelo ouro, empurra os espanhóis em busca dos bosques da cobiçada especiaria. Vemos a incrível expedição capitaneada por Gonçalo Pizarro e como, ao penetrar a inacessível selva, as desventuras os levam a delírios de terror. Ainda, a descoberta do rio Amazonas por Francisco de Orellana nos faz seguir o rio interminável, conhecer seus perigos, sentir a vertigem, o medo e a esperança que seguia com os conquistadores.

Percebemos como fatos se mesclam com histórias ancestrais de tesouros lendários, de seres extraordinários e cidades construídas em ouro. Um livro que espetacular!

Ospina é poeta e ensaísta ativo nas questões políticas e sociais de seu país, com marcadas posições quanto à história e ao mundo moderno. Estreou na prosa ficcional em 2005, com Ursúa, obra saudada com entusiasmo por seu compatriota Gabriel García Márquez e primeira parte da trilogia sobre a conquista espanhola da América. Com O País da Canela (2009), segunda parte da trilogia, recebeu o prestigioso prêmio Rómulo Gallegos, consolidando seu lugar como um dos mais relevantes e seguros escritores latino-americanos contemporâneos.
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Carolizons 07/05/2021

Achei a proposta e a execução do livro brilhantes. Não conhecia 10% do que foi apresentado no livro. Lia com o auxílio do Google, para ler um pouco mais sobre o que ocorreu nos anos iniciais da exploração da América ?espanhola?. Livro recomendadíssimo!
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troca_troca.literario 27/02/2023

Terras americanas
Livro ok. Que nos coloca em um mundo imersivo no período de desbravamento dos espanhol em terras americanas
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