Carla.Parreira 02/04/2024
Melhores trechos: "...Eu acho que a gente tem mais é que se esforçar para que as coisas deem certo. Quando as coisas dão certo isso vira um combustível para várias outras áreas da vida. Eu aprendi isso quando resgatei todos os meus sonhos de infância e fui provar para mim e para os outros que era possível... Percebi quantas vezes eu ouvira, ainda criança, que devia ficar quieto, ficar em silêncio, que tinha que ficar calado. E sorri, porque na mesma medida, muitas vezes transpus os limites que me foram dados, justamente por não acreditar que eles existiam. Meu corpo, de repente, ficou leve. E transbordou de uma felicidade que me fez chorar. Eu ia dar uma continuidade a tudo aquilo. Eu podia transmitir os valores que eu conhecia. Eu ia encorajar meu filho. Dizer a ele que nada, nada era impossível. Bastava tentar. Bastava acreditar. Via amigos que tinham crescido engessados, prisioneiros de crenças que não eram deles, que viviam acreditando naquilo que os outros diziam que era possível. Com desejos que não eram seus. E pensava que a maioria dos seres humanos limitados que eu conhecia não tinham nascido com limitações. Tinham sido tolhidos. Massacrados pelas verdades dos outros que teimavam em os limitar. Elas tinham sido impostas. Pela escola, pelos pais, pela sociedade. Por olhares que julgavam os outros serem ou não capazes... Eu tinha aprendido que reclamar não mudaria nada. Lamentar sem tentar resolver era um verdadeiro tiro no pé, ou melhor, no pneu da cadeira de rodas! Em qualquer situação. E era comum que eu me deparasse com pessoas que acreditavam não ser capazes de certas coisas, sem ao menos tentar. Elas viam a dificuldade e não seguiam adiante. Elas paravam no meio do caminho e deixavam que a vida seguisse seu curso. Elas deixavam de ser extraordinárias. Sempre achava que Deus tinha feito a gente para sermos felizes. Não conseguia acreditar nem entender quando via as pessoas desmotivadas, sentadas diante do sofá vendo a vida passar, com tanta coisa esperando por acontecer. Não conseguia entender porque tantas desculpas prontas, tantos 'nãos', que partiam delas mesmas. Por medo. Medo de tentar, medo de mudar, de arriscar, de se decepcionar. Era um desperdício de vida. E vida era uma coisa que eu não queria desperdiçar. Tinha nascido de um jeito diferente de todo mundo, mas merecia passar pela vida intensamente. Eu tinha o desejo de viver. Um desejo que era maior do que o de muita gente. Talvez porque eu valorizasse demais cada conquista... Quando você acredita em algo, e as pessoas ao seu redor não duvidam que aquilo é possível, a força fica muito maior. E a probabilidade de dar certo aumenta. Hoje existem até estudos que comprovam essa teoria – de como alguém acreditar na sua força pode te fazer se enxergar de outro jeito. E eu sabia que era uma pessoa capaz. Só precisava que os outros também acreditassem nisso. E talvez o maior obstáculo que tenha encontrado ao longo da vida tenha sido a limitação da mente das pessoas que não acreditavam no impossível... Tentei me mexer e não conseguia. Pensei na morte. Pensei que estava tudo acabado. As aventuras, os esportes. Com as muletas eu conseguia fazer muita coisa. E a partir daquele dia eu teria que usar apenas a cadeira de rodas. Não seria tão simples. Por que eu não tinha morrido então? Por que viver sem poder desfrutar a vida? Como eu iria me movimentar? Por que as coisas tinham ficado ainda mais difíceis? Já não estava complicado o suficiente? Aquele novo desafio me dava medo. Tinha sobrevivido a uma cirurgia complicada, mas o resultado era que me tornara um boneco. Duro. Sem movimento. E com muita vida pela frente. Como continuar? Fechei os olhos. Nada era tão simples. Nada era do jeito que planejávamos... Todo mundo passa por dificuldades na vida. A diferença é como as ultrapassa. Tinha gente que gostava de ficar preso ao problema. Gostava de relembrar, numa espécie de massacre aos próprios sentimentos, só para se sentir uma vítima, um coitado, digno de pena por ter passado por determinadas situações. Outros viam o sofrimento como um combustível. Eram aqueles que extraíam tudo que tinham aprendido com o obstáculo e conseguiam disparar a partir dali... Somos apenas pessoas. Cada um com suas limitações. E as limitações transcendem o fato de termos uma carcaça perfeita. Arrisco dizer que prefiro ter nascido sem algumas partes do corpo a ser aquele cara que não ajuda alguém com medo de sujar o estofado de sangue... Inclusão é um termo bem difundido por aí, mas são as próprias pessoas que se excluem do convívio com as demais. Se diminuem, se sentem inferiores, quando não existe absolutamente nada que as faça diferente das outras. O corpo físico é um instrumento. Uma ferramenta que usamos no nosso dia a dia até que chegue a hora de partir. As limitações de verdade estão na mente. Nossa mente tão complexa. E a minha não conhece limites. Desde criança estava claro para mim que querer era poder. Que nossas realizações eram tão-somente consequências de estarmos prontos e preparados... Foram momentos em que eu tive de entender que quem fosse gostar de mim iria gostar de mim do jeito que sou. E enquanto eu colocasse a minha felicidade nas mãos de outra pessoa, para agradar alguém, não teria aquela sensação que via nos filmes. Não seria feliz. Nunca. A questão não era o que acontecia, e sim a maneira como eu poderia reagir àquelas situações... É nessas horas que tento aplicar ao máximo as coisas que aplico na minha própria palestra. A principal delas – a vida é 90/10. E o que é essa relação? Ela indica que apenas 10% das coisas que acontecem estão fora do nosso controle. Não podemos controlar se o avião vai atrasar, se a cadeira vai quebrar, se o pneu vai murchar, se o funcionário não vai ter um quarto com uma porta que te permita entrar no banheiro. Mas podemos controlar todo o resto – ou seja – podemos controlar como reagimos a isso... Viver sem medo de morrer. Viver sem desperdiçar a vida. Talvez esse seja o maior erro das pessoas. Não consigo entender quando ouço desculpas banais que trazem consigo justificativas incoerentes para as pessoas deixarem de fazer as coisas. E cada vez que percebo um ser humano dotado de condições físicas desperdiçando oportunidades únicas, eu me sinto na obrigação de mostrar como deveriam valorizar a vida... As turbulências sempre passam. Sempre passam... Como podemos viver sem coragem? E coragem é muito mais do que pular de paraquedas, entrar no mar ou pegar uma onda, fazer coisas que peçam adrenalina correndo nas veias. Coragem é um estado de espírito. Acordar todos os dias e ter uma vontade violenta de seguir em frente apesar de qualquer coisa que queira te empurrar pra trás. Não dá pra se enganar. Cada um carrega consigo um monstro, que pode ou não ser alimentado. Ele fica ali, dentro da mente, tentando sabotar nossos dias, tentando dizer que não é possível, tentando ditar o ritmo dos nossos passos. E se dermos ouvidos a ele, ficamos estagnados. Não conseguimos avançar. Porque é comum ser pautado pelo medo. É comum deixar de fazer as coisas com desculpas esfarrapadas, ou acreditando que certas coisas não vão dar certo. Talvez esse seja o diferencial que tanto inspira as pessoas quando me veem - eu não acredito nessas probabilidades. De acordo com elas, eu não poderia estar vivo desde o dia em que entrei naquela sala de cirurgia. As chances eram de 10%... Nada pode limitar um ser humano. Nenhuma prisão é pior que a nossa própria mente, que acredita naquilo que impomos à ela... Acho que às vezes é natural que a gente reclame da vida, comentei. Que a gente se queixe das coisas que não dão certo, focando só nas partes ruins. Mas a gente esquece que nada é por acaso. Que tudo tem um propósito e uma razão de ser. E quando as pessoas me veem como um exemplo, quando me dizem que se inspiram a partir das minhas histórias e da minha maneira de encarar a vida, sei que sou só uma peça nessa engrenagem. E que cada um tem o seu propósito... Eu entendia bem o que eram limites físicos. E sabia mais que ninguém que os limites que não eram físicos eram ainda mais terríveis que os que podíamos ver... Ouvi muitas pessoas dizendo que muitas coisas não eram possíveis para mim. O mais difícil é que ouvi isso de pessoas próximas. Parece que as pessoas que estão perto são as que mais colocam a gente pra baixo – ele soltou. Pois é, mas eu costumo dizer que somos o resultado da soma de 5 pessoas mais próximas de nós. Pais, irmãos, amigos. Uma vez que não podemos sair de perto de todas as pessoas negativas à nossa volta, a gente pode se cercar de coisas positivas que tragam alguma inspiração como livros, filmes, palestras. E eu me alimentava disso... Os destruidores de sonhos estavam em todos os lugares. Eram pessoas do meu convívio, que me amavam, mas que me queriam tão bem, que achavam que apagar a chama antes que ela se acendesse faria com que eu conservasse meu brilho. Pessoas que não queriam me ver sofrer, mas preferiam me ver estagnado a tentar algo e me ver frustrado. Eu conseguia entendê-los, pois eu mesmo já tinha sido um deles. Uma pessoa que preferia não arriscar nem tentar para não correr o risco de sofrer. Mas a vida tinha me ensinado que a recompensa era grande demais para quem se arriscava, apesar do medo, da vergonha e de tudo que podia nos destruir. Não dava para não tentar. Não dava para recuar, fraquejar ou fingir que eu não tinha sonhos... Eu olhei para as luzes da Paulista, senti meu coração explodir de emoção enquanto as pessoas aplaudiam mais uma música, e compreendi o que era o sucesso. E que a definição de sucesso estava muito equivocada. Sucesso era fazer o que se gosta, ser recompensado por isso e entrar num estado de graça enquanto se faz. Sucesso era aquilo que eu estava vivendo na minha vida. Cheia de esperança, espalhando mensagens positivas por onde passava e acertando todos os alvos. Sucesso não tinha nada a ver com conta bancária. Nem com roupa, nem com estimativa de público. O sucesso estava dentro do meu coração. E ele me dizia que aquilo estava sendo feito com bondade, com amor. E que aquele sucesso era fruto da pureza com que eu me entregava às coisas que realizava..."