The Autobiography of a Traitor and a Half-Savage

The Autobiography of a Traitor and a Half-Savage Alix E. Harrow




Resenhas - The Autobiography of a Traitor and a Half-Savage


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Paulo 19/01/2021

Esse é um conto repleto de muitas camadas. Quem vê em um primeiro momento acha que a narrativa se trata apenas de uma irmã tentando salvar a vida de seu irmão. Mas, existem outros temas acontecendo por trás da narrativa. A autora foi inteligente ao esconder seu jogo e ir revelando suas cartas pouco a pouco. O fato de ela empregar uma narrativa em primeira pessoa, a partir de uma personagem sofrida e em negação consigo mesma, servia para criar um link entre leitor e personagem. O que acontece ao final de tudo é meramente consequência de algo que se desenrola ao longo de toda a narrativa. Não é um final feliz, mas é coerente com tudo o que acontece a Oona.

Oona é uma fazedora de mapas. Nesse mundo, a terra caminha. Ela pode fazer pessoas desaparecerem, direções mudarem. Cabe aos fazedores de mapas prenderem as terras em nossa realidade, possibilitando aos homens comuns caminhar e chegar a novos lugares. Só que essa tarefa acaba sendo uma traição aos povos nativos dos EUA que veem suas terras sendo tomadas por colonos impiedosos que não se intimidam em derrubar suas matas para construir suas cidades. Cada vez que Oona ajuda Clayton, o representante da companhia que a tem em suas mãos, ela está traindo seu povo. Para completar, ela e seu irmão Ira são mestiços, filhos de uma nativa com um homem branco. Oona gostaria de fugir de suas tarefas, mas seu irmão Ira está doente e Clayton se aproveita dessa fragilidade. Por quanto tempo Oona conseguirá se manter sã diante de tanta exploração?

Antes de falar do dilema pessoal da protagonista, é preciso analisar a temática geral proposta por Alix E. Harrow. Dentro da narrativa podemos ver numa boa a selvagem exploração do oeste americano pelos colonos que vieram da Europa. O quanto eles atacaram desenfreadamente os territórios indígenas sem se importar com o que estavam destruindo. A narrativa puxa esse histórico colonial. Oona é uma mulher sofrida e que vê seus dons sendo usados para destruir seu próprio povo. Para lidar com tamanho sofrimento, ela se afoga na bebida e no sexo. Não muito diferente daquilo que aconteceu durante o período colonial. Muitos nativos indígenas morreram com o desgosto de terem suas terras e cultura arrancadas pelo homem branco. Existem inúmeros relatos de mortes seja por doenças bobas como gripe e varíola (mortal na época) ou de alcoolismo. No mundo de Oona, a dominação é tamanha que as tribos indígenas não possuem mais nome. Foram tão reduzidas que eles agora se uniram em um único povo.

A ligação entre Oona e Ira é linda. Aquela relação entre irmão e irmã que não é comum entre nós, descendentes da colonização europeia. Algo que era muito valorizada entre comunidades indígenas que viam nos laços de irmandade algo fundamental para a sobrevivência. Por essa razão que Oona acaba fazendo o que faz. Ela simplesmente não consegue deixar os grilhões colocados nela por Clayton. E ela tem total segurança de que nunca conseguirá se livrar disso por causa de suas habilidades. Podemos pensar que o irmão é uma justificativa para sua covardia, mas não penso assim. Lógico que para que Oona possa seguir em frente, existe somente um desenvolvimento lógico. Nesse ponto queria ter sido surpreendido pela autora, mas isso não aconteceu.

A história é bem construída, bem construída mesmo. Boa parte dela se dá em fluxo de pensamento com Oona revelando o que existe dentro de seu coração. Sua realidade é quase claustrofóbica, ilustrado pela maneira como ela enxerga tudo ao seu redor. A história é de fácil compreensão e se constitui de uma boa narrativa de história alternativa. Tem pouquíssimos detalhes que destoam do nosso mundo e são sutis o suficiente para tornarem a realidade curiosa para quem está lendo.

site: www.ficcoeshumanas.com.br
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