Marcela Melo 25/01/2017
O Perfume das Tulipas
Resenha- O Perfume das Tulipas
Por Mateus Machado
A Obra
Li recentemente O Perfume das Tulipas, romance histórico ambientado na Alemanha no início do Século XX, passando pelos traumas deixados pela Primeira Guerra Mundial e culminando no nascimento e desenvolvimento do nazismo até o fim da Segunda Guerra Mundial. Publicado durante o inverno de 2016. Quero relatar aqui a minha experiência como leitor e o prazer que a leitura deste livro me ofertou.
No início do romance temos o casamento de uma moça judia e um rapaz alemão protestante, Ruth e Franz, os avós da protagonista Helga, em uma Alemanha pré-guerra em que os sonhos ainda eram possíveis.
De fácil leitura e encantamento, as páginas do livro se insinuavam e me prendiam conforme o enredo se tornava mais dinâmico. A autora Maura Palumbo conseguiu a dosagem ideal, se não perfeita, para transitar entre a delicadeza e a brutalidade vivenciada por Helga, a protagonista, ao lado de seus familiares e amigos, dentro de uma narrativa estruturada em fatos e locais históricos, personagens reais e fictícios, revelações inusitadas e cenas de muita tensão e suspense.
A trama é bem amarrada e as personagens bem construídas. Os diálogos, que como escritor considero algo extremamente difícil, são relevantes e convincentes. Apenas uma observação muito particular, me arrisco a dizer; os heróis da história são representados pela imaginação; são dotados de sensibilidade, de intuição, de sonhos, ligados às artes, ao senso de proteção, à receptividade e outras características que também fazem parte da energia yin, feminina.
Enquanto que os vilões, e temos aí personagens reais, representam a dura realidade, a disciplina, a violência, a frieza, a cega obediência, a competição entre outras características mais afins com a energia Yang, masculina, tão em desarmonia até os dias de hoje. Claro que tal observação está dentro de um conceito mais ocidentalizado, perdendo muito da essência original do conceito.
No romance, realidade e imaginação se completam; é quando o limiar entre os dois estados deixa de existir. Pela imaginação se pode vivenciar os fatos. E quanto mais intenso é o nosso mergulho no romance mais sentimos que vivenciamos aquela época e lugar. E nosso cérebro registra como verdade.
Se por um lado nos apegamos à esperança de sentir o Perfume das Tulipas, como a promessa de tocar os pés na Terra Prometida, por outro lado dá para sentir o cheiro forte do couro dos coturnos pisoteando suas vítimas e do chicote na mão dos carrascos das SS.
Embora o enredo centralizado na história de Helga e sua família seja apenas um exemplo (fictício) entre milhares de histórias (reais) de famílias que viveram o inferno na terra sob as mãos do regime nazista; lares que foram destruídos, perseguição, torturas, morte, traumas pós-guerra. Enfim, o romance supera qualquer lugar comum. Nos encanta e nos surpreende. E eu lanço um desafio a qualquer um que se aventurar em prever o desfecho da história.
A Autora
Através da protagonista Helga a escritora Maura Palumbo nos insere dentro daquele capítulo traumático da história, em Berlim, na Alemanha nazista, com tal realismo que é possível sentir na pele a tensão e os conflitos dos dias que se seguiram após a fatídica “Noite dos Cristais” (Kristallnacht); que ocorreu no dia 09 de novembro de 1938, em vários lugares da Alemanha e da Áustria, quando todo o patrimônio judeu foi destruído, além das violentas agressões contra o povo judeu seguidas de morte.
A sensibilidade da autora nos arrebata. Talvez dotada de algum sortilégio, Maura Palumbo tem esse dom, que poucos escritores iniciantes tem; o de transportar e inserir o leitor dentro da história de tal forma que se cria uma simbiose, não apenas entre leitor e personagens, mas entre leitor e autor.
E se o objetivo da autora era trabalhar em cima dos relacionamentos, dos laços familiares e principalmente entre os laços de amizade entre seres humanos, independentes de sua nacionalidade e crenças, ela conseguiu com a maestria de uma escritora nata.
A Pesquisadora
Até onde sei Maura Palumbo vem estudando e pesquisando sobre a Segunda Guerra Mundial, suas origens, consequências e suas nuances. Ela trata de temas instigantes, não apenas para os aficionados pela história da Segunda Guerra Mundial, mas para qualquer um que deseja saber um pouco mais sobre esse fato histórico, ainda que seja apenas por curiosidade.
Seu primeiro livro, O Perfume das Tulipas, é também fruto dessa intensa pesquisa. Certamente ela dará à luz outros livros. Assim espero. Assim esperamos.
Sobre o Perfume das Tulipas
Sabemos que a tulipa, flor originária da Turquia e que veio para a Europa no século XVI, é uma flor inodora. E apesar de não ter fragrância, ela é dotada de beleza e simplicidade. Aqui, a escritora Maura Palumbo, talvez pelas artes alquímicas, através da personagem Zacharias Von Hart, transmuta em sensação olfativa a metáfora do perfume das tulipas, como símbolo do amor, da amizade e da paz entre os homens de boa vontade.
* Mateus Machado é Escritor e Poeta. Astrólogo, Tarólogo e Conferencista de temas diversos relacionados à Literatura, Poesia, Mitologia, Ciências esotéricas, arquétipos e símbolos.
site: http://facebook.com/mateusmachadoescritor