Paulo Silas 16/01/2017Peter Burke busca explanar as origens daquilo que veio a ficar conhecido como "nova história cultural". Não apenas isso, mas também discutir ponto a ponto o que propõe esse novo paradigma de observação e análise da história. Para tanto, explana sobre as bases e outras formas de estudos da história, além de narrar a evolução desses meios através de um farto referencial teórico. É um intuito que é visivelmente alcançado pelo autor, quando a pergunta constante no título da obra é satisfatoriamente respondida no decorrer do livro. É sobre a história cultural, portanto, que o autor se debruça e esmiúça no presente livro.
A expressão "nova história cultural" surgiu no final de 1980, a qual passou a ser a "forma dominante de história cultural", vez que se pautou num paradigma (no sentido utilizado por Kuhn) novo e próprio. Esse novo tipo de história cultural estaria em progresso, por mais que o autor também reconheça que poderia estar chegando ao fim de sua trajetória. Seria "uma parte necessária do empreendimento histórico coletivo", pois diante da impossibilidade de uma "história total", cada campo específico da história merece ser levando em conta. A história cultural possui o seu próprio chão ao considerar que o seu objeto destacado na análise da história é a cultura. O seu surgimento veio justamente da necessidade de preencher um aspecto/viés vazio que até então se tinha no estudo da história. Haviam estudos históricos pelo viés da economia, por exemplo, os quais analisavam o processo histórico por uma perspectiva própria. Faltava a perspectiva da cultura, justificando assim o nascimento da história cultural. Benesses e problemas desse forma de análise são expostas por Peter Burke.
Como menciona o autor na introdução da obra, o propósito do livro é "explicar não apenas a redescoberta, mas também o que é história cultural" e "o que os historiadores culturais fazem". A forma utilizada para tanto é explicar inicialmente a grande tradição do processo e análise históricos, debatendo e expondo os problemas da história cultural, ou seja, parte-se da base da história da história a fim de situar o leitor no progresso do próprio estudo da história. Desta forma, o autor consegue explicar de maneira bastante compreensível a questão proposta. Uma das questões bem delineadas é sobre o que seria a cultura. O termo, como explica o autor, é bastante problemático, pois passou por grandes transformações com o passar do tempo. O que antigamente era utilizado para se referir às artes e ciências, atualmente se diluiu de tal forma que pode ser usado para se referir a qualquer coisa. São as culturas em diversas manifestações nos segmentos da sociedade. É, quiçá, também sobre tal expansão que a análise da história pela perspectiva da cultura visa se pautar.
O referencial é farto. As citações de autores e exemplos são diversas em todo o livro, demonstrando a sintonia e intimidade que o autor possui com a matéria, vez que também professor do tema. O progresso histórico da própria história e suas perspectivas analíticas estão presentes no livro, o que dá amparo ao autor para que explane sobre aquilo que vem a ser a história cultura. Elucidativo. Vale conferir!