Retipatia 05/11/2018
Siga suas origens...
Arwen é uma semielfa que vive uma vida pacata no Reino de Helementtarë. Apesar de os casos de orfandade serem uma raridade por lá, já que os semielfos não abandonam suas crianças e, caso algo aconteça com os pais, os parentes sempre cuidam delas, ela é uma das poucas vivendo em um lugar assim, junto de Alcarin e dos seus quatro piolhos, leia-se, quase crianças, as quais além do grande amor que ela nutre, ajuda a cuidar.
Todos os semielfos de Helementtarë possuem grande ligação com a Mãe Natureza e o Elemento Maior, que são responsáveis por manter o Equilíbrio na Terra e daqueles que a habitam. Os semielfos possuem todos algum dom que os liga à natureza, alguns poucos, que fazem parte da nobreza do Reino, têm dons mais diretos com os elementos, como fogo, água, terra e ar e, por isso, realizam tarefas que ajudam o governante do reino na sua regência. Já outros, se relacionam de forma mais indireta com esses elementos.
Mas, em se falando de semielfos, tal razão se dá uma vez que existem também, elfos. Não no mesmo reino, mas no reino ao lado, chamado Nätiyre. Em sua totalidade, eles possuem não apenas um dom elemental, como seus vizinhos e, ambos os povos vivem em paz. Fato este que nem sempre ocorreu, já que, no passado, uma grande guerra trouxe perdas irreparáveis para ambos os povos.
O Dom de Arwen é Rocha, ou deveria ser. Isso até uma árvore em chamas e uma fênix tomar seus sonhos, para que, no mesmo dia, ela encontre uma moeda grande no meio dos arbustos. O significado disso é algo que qualquer semielfo aprende ainda na escola: ela acaba de ser selecionada pela Mãe Natureza e pelo Elemento Maior para participar da Seleção que irá ocorrer em breve no reino de Helementtarë e que será responsável por escolher o próximo governante.
Como se toda essa novidade não fosse suficiente, Arwen precisará descobrir qual é seu verdadeiro dom elemental, já que apenas os semielfos com um dos quatro dons elementais (terra, água, fogo e ar) são escolhidos para a seleção.
Numa corrida contra o tempo, ela precisará descobrir qual seu verdadeiro dom elemental, participar de uma seleção para a qual nunca se imaginou presente, disputando com mais dezenove candidatos. E sua história não terminará aqui, não quando o reino de Helementtarë está sob ameaça e a antiga guerra com os elfos parece prestes a eclodir novamente. Essa, sem dúvidas, não será uma seleção típica e Arwen precisará buscar toda a força do Elemento Maior para conseguir descobrir de onde veio, trilhar seu caminho e saber quem realmente é.
Como toda fantasia que pego para ler, abri a primeira página já cheia de empolgação. Isso porque é meu gênero literário favorito e é um pouco impossível que eu não crie expectativas. E, o que aconteceu não foi apenas uma leitura envolvente e que me manteve entretida durante todo o tempo, mas uma verdadeira paixonite com a história, o mundo e os personagens criados.
A história do Reino de Helementarë foi bem construída na trama, deixando o leitor curioso e, ao mesmo tempo, deixando espaço para a imaginação correr pelos lugares e pedaços do reino nos quais a história se passa. Apesar da minha imaginação do castelo ser simplesmente fantástica e eu ter adorado o lugar que dá vida à muitas cenas empolgantes e decisivas da história, ele não é meu favorito. O primeiro lugar é, sem dúvidas, para o Bosque dos Elementos. É um lugar mágico (com e sem sentido figurado), e, além de também ser importante para a trama, é um espaço que eu simplesmente desejei estar lá, todas as vezes que os personagens também estiveram.
Além desses lugares, Helementtarë não é um simples local sem passado, ele é personagem do livro e, tanto quanto a Mãe Natureza e o Elemento Maior, refletem não apenas bons exemplos para o povo, como também um vínculo que a humanidade (falando de nós, reles humanos), estamos em processo de reaprender (porque acredito fortemente que o ser humano faz parte de um todo maior e, com o tempo e as mudanças, muito do respeito, amor e zelo pela natureza foi perdido. A maior parte das pessoas não vê o mundo e tudo que nos cerca como parte de um todo igual, infelizmente).
E, não são apenas o lugar-personagem é cativante na histórias, as pessoas-personagens, ou devo dizer, semielfos-personagens são todos um primor. Não por serem o espelho de perfeição, mas, dentro do parâmetro de sociedade estabelecido entre os semielfos, são todos condizentes. Arwen, nossa mocinha-protagonista é, além de uma inspiradora semielfa-girl-power, alguém com quem se identificar. Não pelas orelhas pontudas - ressalte-se que eu adoraria tê-las - mas por todas as nuances que sua personalidade comporta. Não é feita apenas de extremos ou de delicadeza pura, têm defeitos e qualidades e comporta uma capacidade de crescimento perante adversidades que é admirável.
A história, apesar de seguir a linha de raciocínio e ser contada em primeira pessoa por Arwen, que é uma narradora super descontraída e cativante, ainda conta com vários personagens que vão marcar seu percurso. Temos Alcarin, que é a responsável por criar as crianças do orfanato, que é alguém reservada, mas com um grande coração; os quatro piolhos de Arwen, as crianças semielfas que vivem no mesmo orfanato que ela e que são, além de boa dose de divertimento, trazem ótima vivacidade à história; temos Eruvë, a rainha poderosa e amorosa, que sabe tão bem balancear a dose de poder e amor para cada momento; Almarvarnë, uma das ajudantes de Arwen durante o período da seleção e que é um retrato de dedicação e carinho; Ucenë que, apesar de poder parecer muito rabugenta à princípio, é alguém muito especial. E não podemos esquecer dos semielfos que estavam participando da seleção junto de Arwen e que se tornam mais do que concorrentes, mas fiéis amigos da nossa semielfa favorita: Panthael, fofo, tímido e inteligente e Aeron, que é bonitão, galanteador e, fique claro, apesar da irritação inicial, está longe de ser apenas 'mais um rosto bonito'.
A escrita da Bia Hubert é tão leve e encantadora que as páginas do ebook eram passadas com rapidez, não apenas por isso, mas porque eu queria mais. Saber mais do passado de Arwen, conhecer mais do seu futuro e de todo o enigma que foi trabalhado durante a trama. Tudo foi bem pensado e intrincado como os galhos da alta árvore dos sonhos de Arwen, que se estendem e separam, mas que, no fim, são todos advindos do mesmo local.
Especialmente por envolver elfos e semielfos, que se assemelham à ideia Tolkieniana destes seres, me deixaram ainda mais admirada com o trabalho que Bia desenvolveu para os personagens e para o pano de fundo que os circunda. Isso porque a semelhança se dá mais no que toca à aparência dos seres e, talvez, na relação que possuem com a natureza. Mas, na história, foi dada uma nova roupagem aos elfos e semielfos, dando a eles, não apenas essa divisão como também novas características e poderes. Não poderia resumir melhor em palavras do que: é mágico.
Já falei por aqui do tom descontraído da narrativa de Arwen, ela tem pensamentos dignos de pessoas com parafusos a menos, como eu, e, especialmente quando o assunto é lagartixa, a coisa toma um rumo hilário e o livro me rendeu boas risadas. Acho que o último livro que li que me trouxe essa sensação deliciosa foram os dois primeiros volumes do Guia do Mochileiro das Galáxias, que estagnei a leitura do terceiro volume, por uma razão que nem o Elemento Maior sabe informar.
Contudo, mesmo com esse tom super leve, a história não carece nem um pouco de ensinamentos valiosos e lembretes muito importantes, que vão desde amizade, crescimento pessoal, cuidar da natureza e respeito pelo próximo. É tanto uma leitura para se livrar de uma ressaca literária quanto para se apaixonar por um mundo novo, personagens cativantes e fazer refletir sobre nossas ações perante o mundo e os que nos cercam. Arwen é colocada sob prova e retirada de seu lugar comum, e dá uma verdadeira aula de altruísmo, empatia e bondade.
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