Filino 02/08/2020
No princípio, conhecer a tua própria miséria
Escrito como um comentário a um capítulo da Regra de São Bento, essa obra de São Bernardo de Claraval apresenta uma espécie de conduta para a vida. De acordo com o autor, os saberes têm sua utilidade; entretanto, como cristão, há que se pôr Jesus Cristo como modelo. Nesse sentido, a partir dos dizeres evangélicos e sustentando que Cristo é o caminho, e que é manso e humilde de coração, São Bernardo sustenta que esse caminho não é outro que a própria humildade. Esta é concebida como o homem olhando para si mesmo e descobrindo suas misérias e suas fraquezas. Eis, então, uma primeira verdade: a que é própria do homem.
A constatação de tal estado, digno de lamento, não se reduz àquele que investiga a si próprio: o homem dá-se conta de que os seus semelhantes também partilham essa mesma condição - e por isso devem ser dignos de compaixão. Aqui, uma segunda verdade, relacionada a caridade.
A partir da humildade, em busca da verdade, depara-se então o homem com a caridade, que o faz se compadecer dos males de outrem. E somente a partir desses dois elementos (humildade e caridade) é que se faz possível esperar a contemplação da própria verdade - pura, dessa vez.
Jesus Cristo, por ter tido em si a natureza humana e a natureza divina, reúne essas três verdades. E porque partilhou a condição humana (excetuando-se, obviamente, o pecado) é que esperamos a misericórdia divina.
Pouco mais da metade da obra trata de desenvolver a humildade, a caridade e a contemplação, bem como suas verdades correspondentes. No restante do seu escrito, São Bernardo escreve de maneira pormenorizada acerca dos doze graus da soberba - que parte da simples curiosidade e desemboca no costume do pecado como algo arraigado à própria conduta. O autor preocupa-se em fornecer exemplos dos comportamentos dos monges que incorrem nesses graus.
Ao final, São Bernardo justifica o porquê de ter tratado pormenorizadamente dos doze graus da soberba: com aqueles doze graus de pecados é que estava mais acostumado. Mas basta fazer o caminho inverso para insculpir, no coração, quais seriam os graus da humildade, na direção do que São Bento já escrevera.