spoiler visualizarYanne0 09/01/2023
Opala
Contrariando o que foi o primeiro e o segundo livro, neste terceiro volume temos menos ação e o enredo praticamente gira em torno do desejo de Dawson de salvar a namorada que está presa na mesma organização onde ele ficou durante todo o tempo em que esteve desaparecido. Para que isso aconteça, os Luxen e Katy formam uma aliança com um velho conhecido ? Blake ?, que volta à história com um objetivo semelhante: o de salvar o seu amigo Luxen (à quem está ligado da mesma forma que Katy está ligada a Daemon e Dawson está ligada a Bethany) das mãos da organização Dedalus.
Diferente do volume anterior, que até me divertiu em alguns momentos, este foi um tédio do início ao fim. Com a quase ausência de ação no enredo, a autora mostrou mais da relação entre os personagens que, infelizmente, se manteve muito centrada nos dois protagonistas. Eu ainda me pergunto o motivo de ela ter colocado tantos personagens na trama se, no final, eles não fazem nenhuma diferença. Só posso concluir que a funcionalidade deles é apenas para que Katy e Daemon (os únicos que são desenvolvidos aqui) se sobressaiam como a dupla de heróis que irá salvar o mundo no final do dia.
Os coadjuvantes não desempenham nenhum papel importante desde o primeiro livro e, pelo andar da carruagem, vai continuar assim até o final. É frustrante ver o tanto de potencial que é desperdiçado. Ash e Andrew só levam o tempo a fazer os mesmos comentários repetitivos desde "Obsidiana". Nem a morte do irmão, em Ônix, parece trazer alguma maturidade a Ash cuja função é única e simplesmente flertar com Daemon e provocar ciúmes em Katy. O irmão dela, Andrew, como não gosta de Katy desde o primeiro volume da série, não demonstra nenhuma evolução aqui também. Matthew, o guardião e outro Luxen, é um banana. Ele mal tem falas e quando tem não diz nada de relevante. Por ser o único adulto no meio de um grupo de adolescentes, eu esperava mais dele como líder, mas foi só a decepção, pois a autora tem a mania chata de manter todo o interesse somente ao redor do casal de protagonistas. Os outros não descobrem nada, mal participam de forma ativa dos planos e não fornecem respostas a nenhuma pergunta pendente. E como era de se esperar, ninguém consegue explicar porquê Daemon é o Luxen mais forte entre eles.
Já que esse livro é o mais lento (quase parando) dos três, eu esperava que a autora explorasse mais dos demais personagens, que eles aparecessem, de fato, na trama. Por exemplo, desde o primeiro livro, não temos uma construção boa duas amigas humanas de Katy. A protagonista é uma híbrida desde o final de "Obsidiana", vive angustiada com os problemas dos Luxen, mas não deixou de ser uma adolescente de dezessete anos que tem problemas e hábitos comuns, do tipo, frequentar a escola, escolher qual faculdade irá cursar e ter um hobby que é ler e atualizar o seu blog literário. Com isso, as duas colegas de sala poderiam servir de válvula de escape dos assuntos sobrenaturais que afligem a protagonista, contudo as duas garotas não passam de um pano de fundo. Elas são tão mal construídas e mal exploradas na narrativa que quando uma delas desapareceu, eu só percebi que ela tinha sumido porque a outra amiga comentou. E, ainda assim, por mais que eu tente, não consigo diferenciar uma da outra, pois ambas são iguais. Elas somem na trama de tal forma que se não tivessem existido não fariam a menor diferença na história. São insípidas, não têm personalidade, não criam diálogos interessantes. A que desaparece misteriosamente, a meu ver, foi sacrificada para mostrar o plot do próximo volume ? qual é o objetivo da organização Dedalus em transformar humanos em híbridos? ? e para deixar (de maneira involuntária, já que ela literalmente explode no ar) um pedaço de Opala embaixo da cama de Katy. Essa pedra tem uma finalidade interessante na trama. Ele aumenta os poderes dos Luxen e os protege dos efeitos do Ônix.
Fiquei esperançosa de que essa série melhorasse de alguma forma por causa de um acontecimento que surgiu no final do livro anterior, mas foi tudo em vão. Dawson é jogado para escanteio, mesmo que a motivação do enredo se desenrole por causa dele. A apresentação do personagem, no começo da história, pareceu até promissora, entretanto, foi perdendo o brilho e a relevância no decorrer das páginas. Ele é um cara estranho, perdido nos próprios pensamentos e que, desde que voltou, se sente deslocado entre os irmãos ? está sempre fugindo e tentando a qualquer custo, inclusive colocando a própria vida em perigo, resgatar a namorada que continua presa. Depois de toda a tortura que ele teve de enfrentar, não entende por que foi liberado da organização e encontra uma espécie de refúgio em Katy. É ela, claro, que consegue fazer com que Dawson recupere uma parte da confiança em sua família e, com os poucos diálogos dos dois, a gente tem uma ideia do que ele sofreu na instituição. Fora isso, eu senti que ele é um tanto vazio e desperdiçado. Depois que ele volta para a escola, o personagem cai na mesmice de sempre dos demais coadjuvantes. Para quem sofreu um trauma tão grande, Dawson aparece pouco na história e, por várias vezes, também me esqueci dele. A verdade é que eu queria mais de Dawson e um pouco menos de Katy e Daemon.
Outra coisa que me frustrou bastante foi a "resolução" da amizade de Katy e Dee. As duas estavam mal desde o livro passado, depois que Dee descobriu que Katy andou mentindo e escondendo dezenas de informações dela. Para piorar, o namorado de Dee é morto por Blake no final do livro e Katy passa este volume inteiro carregando essa culpa nos ombros. Resultado, por mais que Katy tente dialogar com Dee e por mais que peça desculpa, a Luxen não aceita. Então, de repente as duas voltam a se falar. Não há uma construção coerente aqui, elas brigam uma vez e Dee passa o livro quase todo dando um gelo na amiga para depois, do nada, dar atenção a Katy. E é isso. Vida que segue.
Um problema que deixou de ser solucionado no segundo volume, finalmente tem o seu ponto final neste. Will, namorado da mãe de Katy e um dos vilões da história, morre. Apesar disso, a maneira como isso aconteceu foi? fácil demais. Uma das grandes preocupações secundárias de Katy e Daemon era a volta desse personagem. Ele estava doente e forçou Daemon a transformá-lo em um híbrido, no entanto, a transformação não foi bem sucedida e a doença dele retornou mais forte. A gente termina "Ônix" sabendo que Will está foragido. Pois bem, para um vilão que foi tão temido, ele morre depois de um rápido confronto com Katy. E é rápido mesmo. Eles passam mais tempo conversando do que lutando e Will só volta para morrer. As demais aparições dele são feitas por meio de menções, seja pela mãe da Katy ou pelas divagações da garota.
Blake, que foi poupado na confusão que aconteceu no final de "Ônix", aparece de novo com o intuito de propor um plano a Katy e Daemon para resgatar o seu amigo que está preso no mesmo lugar onde Dawson ficou. Eu não gosto desse personagem desde a apresentação dele e, para mim, não foi nenhuma surpresa o papel que ele desempenhou (de novo) aqui. Ele não era confiável no livro anterior e também não é confiável nesse, ou seja, para mim estava claro desde o começo o que ele faria no final. A autora até tentou plantar dúvidas na mente do leitor ao fazer com que Blake se mostrasse arrependido de suas ações e disposto a mudar, o que definitivamente não me convenceu. Até para um antagonista, ele é fraco, porque, no fundo, a gente sabe que em vez de manipular os personagens, quem está sendo manipulado é ele. Os objetivos de Blake estão bem delineados desde "Ônix" ? resgatar o tal amigo. O único ponto "positivo" dele é que o personagem é cheio de diálogos expositivos e, com eles, o leitor ganha as informações que precisa saber. É um artifício narrativo preguiçoso, mas, pelo menos, nos fornece algumas respostas.
Quanto ao casal central da trama, a evolução do romance dos dois é consistente ao longo da narrativa. Daemon continua um babaca e Katy aguenta muita coisa dele? Sim, mas não posso negar que o crescimento deles, quanto casal, me agradou. Mas também não posso deixar de dizer que o que me irrita na escrita dessa autora é o excesso de diálogos bobos e repetitivos. Sim, Jennifer, eu já entendi que você quer que a gente engula o seu protagonista masculino, que ele é incrível, que ele resolve tudo, que ele é o mais inteligente e o mais forte entre todas as criaturas vivas na terra. Não há necessidade alguma de relembrar isso em todos os diálogos que Daemon e Katy têm. Para um protagonista, ele é cansativo e infantil. As tentativas dele de ser engraçado são ruins e forçadas ? são as mesmas piadas desde o primeiro livro. Contudo, eu gosto do fato de ele constantemente tentar manter os pés da Katy no chão, de ele dar suporte a ela ao mesmo tempo que não aceita todas as imposições da garota. Os dois discutem, os dois não concordam com tudo e tentam melhorar e a chegar a um consenso ao fazer as pazes.
Quanto à mocinha, eu adoro quando elas são independentes e sabem o que estão fazendo e para onde ir ? o que não é o caso da Katy. E digo mais, ela só não está morta desde "Obsidiana" devido ao poder do protagonismo; algumas decisões que ela toma são de revirar os olhos e a maneira como ela escapa da morte não tem coerência alguma quando você compara com o que a autora nos apresenta. Quanto a evolução dela, eu tive a sensação que Katy não aprendeu com os erros que cometeu no passado e quer sempre estar na frente de tudo, não importa o que aconteça. Em relação a construção dela, é tudo muito contraditório e se isso me irritou no primeiro livro, aqui virou um sério problema.
Embora ela seja uma híbrida, Katy viveu boa parte dos seus dezessete anos de vida lendo e fazendo resenhas no seu blog. E, depois de tudo que houve com ela e o que anda acontecendo, a personagem não tem nenhum interesse em mudar seus hábitos. Não entra na minha cabeça que ela é construída para ser a grande heroína da história quando, na realidade, ela mal explorou e aprendeu a controlar suas novas habilidades durante o pouco tempo que treinou com Blake. É óbvio que não funciona. E é óbvio que ela sempre se ferra e coloca tudo a perder no final. Eu continuo gostando da Katy e entendo a impulsividade da personagem (faz parte da personalidade dela como adolescente que se vê, de repente, em uma intriga fantástica), mas já estamos no terceiro livro e ela insiste em fazer as mesmas tolices que fazia quando nos foi apresentada em "Obsidiana". Ela não sabe lutar, mas não se preocupa em aprender. Ela ainda não sabe controlar de verdade os poderes, mas, como num passe de mágica, quando é conveniente, ela escapa do vilão sem nenhum esforço. Ela perdeu a confiança de Dee, por mentir, se valendo da desculpa que estava protegendo a vida da amiga (que é um Luxen e, portanto, na teoria, pode se defender sozinha), mas repete o mesmo hábito nesse terceiro livro. Se Daemon diz que algo é perigoso e que Katy não deveria se arriscar tanto, ela briga com ele e faz birra, pois "ele está sendo um macho alfa e deveria confiar em mim".
Enfim, Katy não me convence de jeito nenhum como heroína e o fato de ser sempre ela ou Daemon que descobre tudo na história é exaustivo. Ninguém teve aquela ideia, apenas Katy ou Daemon. Ninguém fez aquela pergunta importante, apenas Katy ou Daemon. Ninguém descobriu aquilo, porque Katy ou Daemon foi quem fez isso. Os coadjuvantes não ajudam, não atrapalham, eles não servem para nada, somente para encher mais páginas do livro. Jennifer tinha a seu favor cinco Luxen (tirando Daemon), que controlam suas habilidades desde sempre e que deveriam ter um papel mais ativo na trama, mas abre mão disso para transformá-los em um bando de pamonhas que segue os planos cheios de furos do casal de protagonistas. Se ela tinha a intenção de construir uma mocinha forte, a meu ver, não funcionou. Em vez de alguém que sabe se virar sozinha, é inteligente e movimenta a trama, a gente tem uma protagonista que é teimosa, que quer mostrar que é boa a todo instante, que não aceita estar em outro lugar além da liderança (mesmo não suportando tal papel) e que precisa sempre ser resgatada no final.
Por fim, a apresentação de Luc me deixou intrigada. Ele aparece pouco, ajuda em uma parte do plano dos Luxen de invadir a organização Dedalus e também nos informa (em outro diálogo expositivo) a função da Opala. Espero que no próximo volume da série, ele apareça mais e ganhe destaque na história. Outra coisa que também espero encontrar no próximo livro é algumas respostas a respeito das experiências que Dedalus vem fazendo com os humanos e (torcendo muito) para que o enredo não se restrinja somente ao resgate de Katy.