Luciane.Gunji 04/06/2017
Meu primeiro contato com a literatura policial foi por influência da minha mãe, que desde jovem assinava os livros do Círculo do Livro. Comecei timidamente com Sidney Sheldon, um dos preferidos dela, e quando percebi, estava apaixonada pelo autor e também pelo gênero, por mais ficcionais as narrativas fossem. Ser pega de surpresa e descobrir que estava enganada o tempo todo é um dos melhores sentimentos do mundo, talvez por isso eu seja bastante criteriosa quando o assunto é esse.
Minha mais recente leitura foi bastante curiosa. Além de conhecer um autor de um novo país, eu pude descobrir que cada país elege seu best-seller, o que nem sempre significa que ele é realmente o melhor. O papo da vez é sobre O Desaparecido, o primeiro romance policial do israelita Dror Mishani. Aqui, a primeira impressão que fica é de que ele quer ser, hipoteticamente, uma nova Agatha Christie ou Georges Simenon, dois mestres do gênero que são conhecidos por seus detetives: Hercule Poirot e Comissário Maigret, respectivamente.
Avraham Avraham é o detetive responsável em investigar o desaparecimento de um adolescente no subúrbio de Tel Aviv. Numa quarta-feira, a mãe do garoto aparece na polícia pedindo ajuda para encontrar o filho, que aparentemente não apresenta nenhum problema ou motivo para ter fugido de casa. Mas, a história é longa e tem muitas surpresas por aí.
O primeiro ponto para ressaltarmos é a dificuldade de decorar os nomes. Por se tratarem de nomes originais e árabes, eu tive que ficar me esforçando em relembrar quem era quem. Em contrapartida, a história se amarra muito bem e nos faz ter uma viagem imaginária por Jerusalém e Tel Aviv, as duas principais cidades de Israel. Mishani é bastante detalhista, o que ajuda bastante na hora de interpretar os fatos.
Certa vez, uma tia minha perguntou se era possível que uma história não se repetisse com outras, afinal, a cada ano são lançadas muitas obras. E eu tive que dizer que mesmo com tantas narrativas por aí, eu nunca vi alguma se repetir. Mesmo com a simplicidade de Mishani, sua história policial conseguiu ser totalmente diferente. A escolha dos personagens foi inteligente, envolvendo entre eles os pais, os vizinhos, os amigos e os professores do adolescente, ampliando assim o leque de dúvidas do leitor.
Se eu tivesse que utilizar um termo para definir O Desaparecido, eu usaria “montanha-russa”. Diferentemente de outros autores que já experimentei, Mishani constrói sua narrativa de forma lenta, apesar de todos os pontos se ligarem. Mesmo oferecendo um final que não convence, tive que concordar que a sua entrega foi justa. Só os leitores mais críticos é que detestariam o final que ele reservou para toda essa história. Por isso, o jeito é aguardar a continuação das peripécias do detetive Avraham Avraham e torcer para que o desaparecimento desse adolescente tenha um motivo realmente inesperado.
site: https://pitacosculturais.com.br/2017/05/03/o-desaparecido-mishani-dror/