O Ruído do Tempo

O Ruído do Tempo Julian Barnes




Resenhas - O Ruído do Tempo


10 encontrados | exibindo 1 a 10


Priscilla 21/09/2020

Excelente
Julian Barnes é o autor perfeito para romancear uma biografia... a maneira que trabalha com as memórias é sempre maravilhosa, nos mostrando quantas facetas uma história pode ter.

Admito que também fiquei encantada com as referências, principalmente aquelas à Gogol.
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Edna 05/02/2022

A creldade do Stalinismo
Uma complexa reflexão sobre o poder e a arte em sua limitação e permanência."


As várias faces de uma história, Julian Barnes biografa fatos romanceados com  um jeito todo dele de mostrar que mesmo um sonho pode te levar a trilhar vários caminhos.

Shostakovich foi o compositor russo mais celebrado no século XX, também o mais perseguido sendo coagido e intimidado viveu várias faces pelo sonho de compor, foi queridinho do regime comunista, foi tb desafeto de Stálin,  as sinfonias eram criadas em meio à  tensão da ditadura Stalinista da União Soviética URSS,  ou seja viveu entre a cruz e a espada, apesar de sua integridade.

A ópera Lady Macbeth de Mtsenk fez um sucesso incrível no Ocidente, nas economias capitalistas,  isso foi o suficiente para gerar o ódio pelas autoridades soviéticas e sua música  vista como  "confusão ao invés de música" etc. Toda forma de arte soviética  deveria glorificar a Rússia e seus ditadores Lenin, Stálin e Kruschev, ou seja o restante era considerado afronta e inimigos de Stálin.

O disfarce na música como do folclore judaica, o desespero aparece disfarçado na ironia em forma de dança.

O livro trás muitas referências literarias e políticas como SHakespeare, Gogol, El Capone e muitos outros.

4/5

#trechosdolivro
"O Beethoven Vermelho, uma vez coroado,  talvez tivesse o mesmo destino do Napoleão Vermelho, ou de Boris Kornilov, que escrevera a letra do Contraplano. Todas aquelas palavras muito amadas colocadas na "Canção" (...)ñ foram capazes  de salvá-lo de ser preso e expurgado.
Bastava tempo suficiente e a NKVD iria sem dúvida desencavar a conspiração dos musicólogos. E isso ñ seria nenhuma piada."

"A pergunta mais temida: "Stálin sabe?
A resposta mais alarmante: Stálin sabe!"

"Será que isto, ampliado por milhões e milhões de vidas, ñ refletia como as coisas tinham sido sob o sol da Constituição de Stálin: uma vasta coleção de pequenas farsas resultando em uma imensa tragédia."

"Quando falar a verdade se tornou impossível - porque tinha como consequência a morte imediata."
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Caroline Gurgel 21/03/2017

Excelente...
Uma biografia meio romanceada de um dos maiores compositores do século XX, escrita por um autor consagrado com um Man Booker Prize. Foi assim que O Ruído do Tempo me foi apresentado. Prometia boa literatura e um pouco da vida de Shostakovich, uma deliciosa combinação.

O autor escolheu alguns episódios - sempre envolvidos com o governo comunista soviético - da vida de Shostakovich para abordar, então não temos aqui uma biografia completa e linear, nem um estudo sobre a sua música. Aliás, a música é pouco citada.

O Ruído do Tempo foca nos conflitos vividos pelo compositor, nas difíceis decisões que teve que tomar [ou que tomaram por ele] e que influenciaram completamente sua vida e carreira. Ficção e realidade se misturam quando entramos na mente de Shostakovich, nos seus pensamentos, nas suas angústias.

O primeiro e mais importante episódio narrado aconteceu em 1936, quando Stálin foi assistir a aclamada ópera de Shostakovich, a Lady Macbeth de Mtensk. Dias depois, saiu no Pravda, principal jornal da época, que aquilo era "confusão ao invés de música". A obra foi censurada e Dmitri Shostakovich caiu em desgraça. É a partir daí que tudo se desenrola.

A sensação que temos é a de que Shostakovich era tão bom, mas tão bom, que o Governo, vendo que ele fazia muito sucesso com o público, resolveu usá-lo a seu bel-prazer. Seria uma ótima propaganda. Vejam como valorizamos a música! E Shostakovich teve que dançar conforme a música. Era isso ou morrer!

Covardia, fraqueza ou falta de opção? Sua vida ou sua integridade? Era um gênio, não um herói. Julian Barnes fala que ser covarde é mais complicado do que ser herói. Para ser herói basta uma morte simbólica, enquanto o covarde vive a angústia da mentira por toda uma vida. Será?

Há ainda um outro ângulo, uma outra possibilidade a ser considerada. Alguns acreditam que Shostakovich era irônico. Fingia ser a favor do regime, mas expressava o que bem queria em suas sinfonias. Há quem reconheça essa rebeldia em sua obra.

"O sarcasmo era perigoso para quem o empregava, identificável como linguagem do destruidor e do sabotador. Mas a ironia - talvez, às vezes, ele esperava - permitiria que conservasse o que valorizava, mesmo quando o ruído do tempo se tornava alto o bastante para quebrar vidraças. O que ele valorizava? Música, família, amor. Amor, família, música. A ordem de importância costumava variar. A ironia podia proteger a música? Desde que a música continuasse a ser uma linguagem secreta que permitia que contrabandeasse coisas pelos ouvidos errados. Mas não podia existir apenas como um código: às vezes era preciso dizer as coisas de forma direta. A ironia poderia proteger seus filhos? Maxim, na escola, com dez anos de idade, tinha sido obrigado a caluniar o pai publicamente numa prova de música. Nestas circunstâncias, de que servia a ironia para Galya e Maxim?"

O livro me trouxe muitas reflexões acerca dos musicistas e suas reais relações com os governos tirânicos. Até onde o público sabe a verdade? Até que ponto um artista abandonaria sua música? Até que ponto somos íntegros quando a vida de sua família corre perigo? Fugir, como fez Stravinsky, por exemplo, é uma opção?

Não bastasse tudo isso, a escrita de Barnes é fabulosa. Com uma narrativa não linear, daquelas que não se pode piscar, o autor me deixou estupefata, querendo ler tudo que já escrevera. Entrei pela música e saí deslumbrada com um livro sensacional!

@historiasdepapel_

site: www.historiasdepapel.com.br
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jonatas.brito 25/03/2017

Fascinante!
Um homem inerte, aflito, diante do elevador de seu prédio. Cada vez que suas portas se abrem, seu coração lateja, o suor escorre frio de seu rosto e vem-lhe a certeza de que seu fim está próximo. Seu nome é Dmitri Shostakovich, um compositor russo atormentado à espera de sua prisão pelas forças policiais soviéticas. Shostakovich – considerado um dos mais influentes compositores do século XX – foi do céu ao inferno após a visita do ditador russo Joseph Stálin na apresentação de sua ópera “Lady Macbeth no Distrito de Mtsensk”, em Moscou, a qual, embora aclamada pela crítica estrangeira, por pouco não causou sua morte pelo governo soviético em 1936. É esta angústia contínua que permeia todo o excepcional romance escrito pelo autor inglês Julian Barnes (1946), intitulado “O Ruído do Tempo”.

Dosando perfeitamente elementos biográficos e ficcionais, o autor explicita todo o desespero interior do protagonista diante os rumos que sua vida tomou após ter sua obra censurada pelo principal jornal soviético que a rotulou como “confusão em vez de música”. Muito além de ser uma mera crítica negativa, Shostakovich começou a ser perseguido e até acusado de fazer parte de um complô contra o regime stalinista. Vendo diversos compositores contemporâneos seus desaparecerem inexplicavelmente, Shostakovich começou a temer pela sua própria vida, acreditando que também seria levado a qualquer momento pela polícia comunista de Stálin.

Ao contrário do que temia, o compositor passa a ser subjugado pelo Estado e usado como uma marionete política principalmente quando é convocado a viajar para Nova York a fim de representar a cultura soviética no Congresso Cultural e Científico para a Paz, concomitantemente oferecendo resistência às pressões ocidentais para que o mesmo pedisse asilo político.

Mais do que a exposição de fatos verídicos, o autor evidencia a decadência interior do protagonista que, vendo sua carreira ruir, não encontra forças para se reerguer. Um homem dominado pelo medo e pelo silêncio, que esperou pacientemente pela morte de seus opositores, que tanto o acusaram de corromper a música soviética, a fim de obter permissão para executar novamente sua peça em solo russo. O leitor é convidado a conhecer o passado do compositor, seus amores, sua ideologia, suas relações pessoais e profissionais. Assim, o autor aproxima o protagonista atormentado do mais humano, do mais volátil e inconstante que podemos ser. Não obstante, Barnes opta pela narração em terceira pessoa a fim de evitar que nenhum detalhe passe despercebido pelo leitor. Sua linguagem é direta e intimista.

“O Ruído do Tempo” é comovente, dramático e tocante, mas também assustador e angustiante. É o retrato cruel de um governo distópico não tão distante dos tempos atuais e seu impacto na vida de seus cidadãos. Trata-se de um fascinante exemplar da Alta Literatura que, caso caia em suas mãos, sinta-se privilegiado.

site: http://garimpoliterario.wordpress.com/2017/03/25/resenha-o-ruido-do-tempo-julian-barnes/
Julio.Argibay 14/01/2018minha estante
Tu gostou mesmo, heim.




mateuspy 14/03/2018

O ruído do tempo é ensurdecedor
Neste romance histórico de altíssima qualidade e com um teor, por vezes poético, e outras ácido, acompanhamos a história romanceada do compositor russo Dmitri Dmitrievich Shostakovich, um dos grandes compositores russos do século XX e sua relação com "O Poder" soviético. Um livro excelente, imersivo, com um protagonista honesto e carismático. Acho válido ressaltar que, em diversos momentos, eu me via parando de ler só para absorver uma observação sobre a música ou a ditadura stalinista. Me deixou muito curioso com ou trabalhos anteriores de Julian Barnes.
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Val 29/01/2024

O Ruído do Tempo e da História.
Confusão é o sentimento de que Julian Barnes impregna o início de sua consagrada obra O Ruído do Tempo, em função de sua proposital fragmentação narrativa. Cabe ao leitor, no seu deleite, ir juntando as peças e informações para descobrir a formação inicial de um brilhante texto.
Confusa também é a sofrida história do músico russo Dmitri Dmitriyevich Shostakovich, compositor e pianista da era soviética que se tornou internacionalmente conhecido em 1926 após a estreia de sua Primeira Sinfonia, composta aos 19 anos, e foi considerado ao longo de sua vida como um grande compositor. Barnes fala da infância complicada do protagonista que o obrigou a ser o “homem da casa” logo cedo, aos 16 anos. Mas, com todo o seu talento, nesses tempos já era um talento precoce e brilhava nos palcos de Moscou. Mas apesar disso e mesmo após a consagração, sempre se sentiu um menino perdido.
Teve uma relação extremamente complexa e crítica com o regime comunista. Quando estava ainda no Conservatório, a Associação Russa de Músicos Proletários iniciava então uma campanha contra a hegemonia das elites nas artes, na qual Shostakovich estava incluído, pregando que “os trabalhadores tinham que ser treinados para se tornar compositores, e toda a música viria a ser instantaneamente compreensível e agradável às massas”. Além de utópico, isso contrariava frontalmente sua formação iniciada com a mãe ao piano desde os nove anos.
Além do azar de Stálin não ter gostado de sua sinfonia, teve que enfrentar o Estado que acabou assumindo também as tarefas das artes e os burocratas do Regime passaram a controlar a produtividade também dos músicos, não importando sua qualidade. Sua ópera Lady Macbeth de Mtsensk, consagrada até internacionalmente recebeu crítica positiva do Pravda por ser uma conquista internacional soviética, mas quando os humores políticos internos mudaram, o mesmo Pravda destruiu e ridicularizou a obra por se tratar de uma expressão depressiva da burguesia.
E, como delata Barnes, o controle das artes passou a assumir um nível de censura política e social de forma radical e absurda, por pessoas absolutamente ignorantes e brutais. Daí a patente queda das artes soviéticas, principalmente russas, enquanto durou o bolchevismo. Dali para frente na história, as manifestações artísticas em regimes social-comunistas basicamente deixaram de existir, em função do baixíssimo nível do que era produzido para manipular as massas ignorantes e rústicas. O que perdura até hoje nesses padrões de regimes quase sempre totalitários.
Mas, por diversos motivos, Shostakovich foi sobrevivendo, submetendo-se na maioria das vezes aos caprichos dos líderes comunistas e aos censores. Sua potente e grandiosa Quinta Sinfonia em Ré menor, opus 47, de 1937 – sua primeira obra dentro das novas regras governamentais – traz uma poderosíssima crítica imperceptível ao regime e o consagra internacionalmente. E assim, com muita inteligência, esperteza e competência foi conduzindo sua vida e obra sob permanente coação e intimidação. E é nas reflexões do protagonista onde Barnes desfila toda a ironia, questionamentos e paixões de Shostakovich com relação ao regime soviético, seus líderes e tiranos em geral.
Sua música expressa o colorido orquestral da escola russa e a diversidade de uma enorme produção em todos os gêneros. Apesar de criticado por sua forçada adesão política, era admirado por compositores da grandeza de Bela Bartok e respeitado por contemporâneos como Stravinsky e Prokofiev. Mas, a qualidade de sua obra se impôs e se mantém nos programas de todas as salas de concerto da atualidade.
E sua música, como praticamente a integralidade delas, sobreviveu ao totalitarismo. As obras de Shostakovich superaram o ruído do tempo e da história.
Valdemir Martins
28.01.2024


site: https://contracapaladob.blogspot.com/
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jota 13/11/2017

Era uma vez na URSS...
Dentre as muitas resenhas favoráveis que o livro de Julian Barnes recebeu no lançamento a do periódico inglês Observer é muito feliz. Ela diz que O Ruído do Tempo é "Uma complexa reflexão sobre o poder e a arte em sua limitação e permanência." Misto de biografia e romance sobre o famoso compositor Dmitri Shostakovich (1906-1975), temos aqui um tanto de história soviética e também da imaginação do autor do fabuloso O Papagaio de Flaubert, minha primeira leitura de sua obra.

Dependendo de quem estivesse no poder o compositor - juntamente com sua obra mais famosa, Lady Macbeth de Mtsensk, criada a partir da conhecida novela de Nikolai Leskov - tanto podia ser admirado e festejado pelo regime quanto intimidado e perseguido e até mesmo sofrer ameaças de morte. Uma característica das ditaduras - ocorria na URSS e ocorre também na Rússia de Putin, assim como na China, Cuba, Coréia do Norte etc. - é, pois, o revisionismo histórico, em que se tenta mudar a obra (artística, política, administrativa etc.) de alguém ou de um grupo para uma narrativa ao sabor dos novos fatos políticos. Ou antigos, quando se trata de “reabilitar” historicamente essa mesma pessoa ou grupo. Assim, pelas páginas do livro desfilam não apenas episódios da vida de Shostakovich, também dos ditadores russos seus contemporâneos, Lenin, Stalin e Kruschev. Ora eles são festejados ora são transformados em tiranos (o que no fundo eram mesmo).

Como a ópera Lady Macbeth fez muito sucesso no Ocidente, nas economias capitalistas, ela passou a ser vista com desprezo pelas autoridades soviéticas e durante muito tempo a música de Shostakovich foi declarada pelo Pravda (que significa Verdade, o jornal oficial do Partido Comunista) como arte decadente, pior, "confusão ao invés de música" etc. Toda forma de arte soviética deveria se enquadrar nos princípios do realismo socialista: toda produção artística deveria glorificar a Mãe Rússia, agradar profundamente o povo, pois como disse Lenin, "A arte pertence ao povo." É mesmo?

O livro de Barnes não tem capítulos, é todo construído com parágrafos, alguns com apenas duas linhas, outros que podem chegar a uma página e meia, por aí. Mesmo fragmentada a biografia ficcionada de Shostakovich é envolvente o tempo todo e possibilita conhecer muito sobre o compositor e um tanto da história russa do século XX sem o aborrecimento que muitas vezes um livro de História comum pode causar no leitor.

Lido entre 02 e 13/11/2017.
Ingrid_mayara 13/11/2017minha estante
Interessante! Se for do mesmo autor de "O Sentido de um Fim" que eu adorei, já quero ler!


jota 13/11/2017minha estante
Sim, é do mesmo autor. Também gostei muito de O Sentido de um Fim. Os dois livros são muito diferentes entre si e ao mesmo tempo ótimos.




Julio.Argibay 14/01/2018

Música x politica
A estória se passa na antiga União soviética. O autor Julian Barnes nos envolve num clima de desconfiança, medo e incerteza. Resistir ou lutar contra o sistema?
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Biblioteca Álvaro Guerra 11/04/2018

O compositor russo Dmitri Shostakovich levou uma vida de ficção. Foi menino prodígio, queridinho do regime comunista, autor de "caos em vez de música", desafeto de Stalin, grande herói da União Soviética, formalista burguês, vítima da burocracia, marionete de Stalin, porta-estandarte da sociedade socialista, camarada de Khrushchov, membro relutante do PCUS e, por fim, em suas polêmicas memórias, dissidente sutil. O romancista inglês Julian Barnes seria massacrado se simplesmente tivesse inventado um personagem de baixos tão baixos e altos tão altos, capaz de criar algumas das obras-primas do século XX, como a sinfonia dedicada à sua Leningrado natal, sitiada pelo agressor nazifascista e faminta de morte. Porém, Shostakovich de fato viveu tanto o papel de cético quanto o de pau-mandado. Às vezes, num mesmo episódio.



site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/isbn/9788532530486
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