Carous 25/07/2018Este não é um livro para pessoas transgêneros lerem. Ou qualquer pessoa LGBTQ+ que saiu do armário para a família e amigos e foi rejeitada. Alguns comentários transfóbicos vomitados por uns personagens são bem pesados e podem ativar gatilho de queers. Eu, que não passei por essa experiência desagradável me senti mal lendo tanta barbaridade, então imagina quem certamente já ouviu isso de conhecidos ou na mídia como não vai se sentir.
E é uma pena que o livro tenha esses trechos porque o livro é muito bom: bem escrito, um universo bem criado e razoavelmente explicado (desenvolvo nos próximos parágrafos) e personagens críveis (não costumo colocar isso nas resenhas literárias, mas aqui senti que precisava sinalizar como April acertou em cada personagem).
Não sei muito sobre a autora ou sobre o processo de criação, e falo como uma pessoa cisgênero, mas Dreadnought é um livro que passado mais da metade da leitura eu não fazia ideia do que colocaria na resenha. E isso só acontece quando gosto muito de um livro, quero recomendá-los para todos, mas não consigo elencar pontos para convencer o outro de que é uma leitura válida.
Danny é uma excelente personagem principal. April conseguiu mesclar o espírito juvenil para certos assuntos, o carisma que uma personagem deve ter - ainda mais sendo a central - para atrair o leitor e o comportamento de uma adolescente vítima de pais abusivos.
Ela não é uma personagem depressiva, mas com a autoestima afetada pelos comentários negativos que seus pais fazem, pois não se comporta como eles gostariam. Tem a autoestima comprometida por se sentir deslocada no corpo, na escola, em casa e no papel "homem macho" que deveria cumprir.
Eu não pouparei elogios à April pela forma como criou a Danny porque já vi muito autor pecar nesse quesito. Realmente é difícil criar uma personagem tão complexo, que tem muitos momentos de insegurança, não sabe se impor diante de bullies - porque é realmente difícil e o leitor às vezes esquece isso quando está de fora da situação -. Danny se autodeprecia, mas também tem consciência de que faz isso e de precisa enfrentar seus pais.
Os demais personagens também fazem uma boa composição no enredo. Temos a tropa da Legião, a parceira-por-acidente de Danny, Calamity, o melhor amigo babaca, David (a quem Danny felizmente enfrentou sem rodeios), os pais, a vilã... Todos bem reais e fora do âmbito 100% bonzinho ou 100% mau
A história é apresentada sem rodeios. Tomou um rumo diferente do que eu esperava: é menos introdutória. Não que deixe de apresentar Danny como adolescente normal de dia, Dreadnought à noite. Como mencionei antes, April mostra como humanos e criaturas com poderes convivem no mesmo espaço e as divisões dentro dos justiceiros, mas achei muito superficial e espero que o segundo livro retome esse ponto.
Mas terminei o livro abalada porque não esperava o banho de sangue nas últimas páginas e não consigo me recuperar do destino de alguns personagens.