Tamirez | @resenhandosonhos 17/05/2017A Melodia FerozDepois de duas outras tentativas, finalmente com a terceira Victoria Schwab engatou um livro no meu hall de queridinhos. Minhas experiências prévias com A Guardiã de Histórias e Um Tom Mais Escuro de Magia não tinham sido tão positivas, mas A Melodia Feroz cumpriu muito bem o seu papel com um background diferenciado, uma premissa instigante e personagens que cativam e conduzem bem o leitor do início ao fim.
Sem dúvida o grande destaque aqui é para a construção do universo que a autora propôs. O mundo sucumbiu à violência e ela passou a cobrar o seu preço. A cada novo ato um monstro surge como resultado, e com ele um resquício do instinto que o criou. Com isso as coisas saem do controle, pois monstros e humanos entram em confronto e a humanidade passa a ser ameaçada pelas criaturas. O que a princípio poderia gerar confusão, que eram os tipos de monstros a serem apresentados e uma extensa explicação foi facilmente solucionado com as três espécies apresentadas.
“Bem ou mal eram palavras frágeis. Os monstros não ligavam para intenções ou ideais.”
Os Corsais vivem no submundo e se alimentam de carne e ossos, os Malchais andam pelas ruas atrás de sangue e o terceiro e mais raro dos tipos, os Sunais, se alimentam da alma daqueles que sua melodia toda. Sim, música. Outro elemento inserido aqui de forma muito positiva. Essa forma de arte é algo tão doce quando comparada a sua ligação dentro da história. Os monstros nascem da violência e até mesmo os Sunais que são criados em um tipo diferente, acabam por derivar dela, mas são ligados a algo tão importante como a música.
Essa ligação ou a forma como cada uma das raças reage é diferente de monstro para monstro, mas eles possuem suas características determinantes dentro de cada nicho, estabelecendo regras claras e não criando confusão.
Outra coisa que é interessante é que mesmo com o cenário inicial de escola, com Kate e August, a trama não se prende a isso, apenas introduzindo algo mais grandioso que está por vir. Se tivéssemos permanecido muito tempo na vibe “high school” tenho certeza que um pedaço da magia teria se perdido. Vale ressaltar também algo que pra mim é muito importante: a relação dos dois narradores não é de romance. Pelo menos não nesse primeiro livro. O vínculo que é criado primeiro surge das diferenças, dos lados opostos e depois parte de que ambos querem a mesma coisa, paz. Só isso também tira um grande peso da história, pois os dramas juvenis diminuem drasticamente com isso fora de cena.
“Não haviam regras, não havia limites; os culpados e os inocentes, os monstros e os humanos… todos pereciam.”
Apesar dos protagonistas jovens a pauta do livro é bem mais adulta, há uma rebelião se levantando e uma guerra prestes a estourar. Nenhum dos líderes sejam do lado bom – Sul, com Flynn – ou mal – Norte, com Harker, está dando conta de manter seus monstros sob controle. Aqueles que os cercam tem opiniões diferentes sobre conduzir isso e é muito interessante ver que enquanto olhamos para um ponto central há várias outras coisas se desenrolando.
Kate pode não ser a personagem mais fácil de se gostar em um primeiro momento. Ela quer chamar a atenção pois quer que o pai a note e voltar para a cidade dela é seu principal objetivo. Estando lá ela ainda precisa moldar o seu lugar e mesmo o pai não sendo flor que se cheire a garota não herdou isso ou o estômago frio de Callum Harker. Por mais que seja durona, aquilo que ela faz lhe custa um preço. Na outra ponta temos August, um personagem que parece ingênuo e inocente em um primeiro olhar mais que cresce consideravelmente a partir do momento em que pode sair do casulo onde é mantido. Ele é sem dúvidas o meu favorito nesse livro.
As únicas duas coisas que me impediram de dar cinco estrelas pra essa história foi, em primeiro lugar, a forma como ela termina em relação aos dois protagonistas, pois se assemelha muito com a mesma fórmula já usada em Um Tom Mais Escuro de Magia, dadas as devidas proporções já que os mundos e a história é diferente. E em segundo é a já clichê metáfora do cigarro. Isso já foi tão usado e batido desde seu mais conhecido uso recentemente em A culpa é das estrelas e tantos outros que vieram depois que já é um estraga prazer ver isso inserido nas histórias. É um detalhe mínimo que não chega a atrapalhar o andamento da história, mas assim como não faz diferença estando ali, porque a necessidade então?
“Não fomos feitos para querer. Isso não está em nossas mãos.”
A narrativa em terceira pessoa da autora aqui, assim como também encontrei nos outros livros é leve e muito fácil de ler. O mundo e as regras que ela cria em sua história são facilmente apresentadas ao leitor sem confusão e de forma leve, fazendo com que estejamos contextualizados em sua trama facilmente. Apesar das quase 400 páginas o livro foi muito rápido de ser lido e essa capa está muito bonita. Por essa história ser uma duologia já ficamos ansioso com o desfecho que já se encerra no próximo livro e estou muito empolgada para conferir.
A Melodia Feroz apresenta um mundo diferente e original, com pitadas na medida certa de ação e mistério. A violência e a música, uma combinação a princípio estranha, se encaixa perfeitamente e nos proporciona um livro instigante e surpreendente. A duologia Monstros e violência certamente tem tudo pra entrar na lista dos favoritos.
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