Paulo 28/04/2019
Este é um conto que se passa no universo de Athelgard, a narrativa de fantasia do qual a série que se inicia em O Castelo das Águias se situa. Ana Lúcia Merege amplia sua construção de mundo nos mostrando se temos ou não dragões em seu mundo. E se temos dragões no mundo, onde eles se encontrariam. Nesse sentido, a autora consegue contar uma história muito boa e divertida. É sempre um enorme prazer ler qualquer coisa da autora, embora este não seja ainda um dos contos que eu mais curti dela (O Jogo do Equilíbrio continua a ser um dos meus favoritos).
Somos apresentados a Grimmagauhr, um dragão vermelho que é mantido protegido pelo povo élfico. Ele conhece o idioma comum por ter sido criado ao lado de humanos e elfos. Na história, ele é chamado porque existem indícios da presença de um dragão negro em uma das Ilhas Interiores de Athelgard. Para investigar o caso, ele é enviado ao lado do mago Thiers de Pwilrie em uma embarcação até lá. Mas, para tal, ele não pode revelar sua identidade aos membros da tripulação mantendo apenas o capitão do navio e o mago como pessoas cientes.
Como sempre, Ana Lúcia Merege tem um ritmo suave e constante de contar histórias. O curioso é que nessa narrativa até temos um momento climático lá no final com uma batalha até bem conduzida pela autora. Destaco isso porque a Ana não é lá muito fã de descrições de combate, mas quando ela faz é sempre dinâmica e coerente. A gente não percebe confusões nas cenas. Os personagens que ela nos apresenta são bem delineados e caracterizados. Alguns deles acabam ganhando bastante destaque como a xamã que eles encontram ao desembarcar na ilha. As tribos locais acabam fazendo parte diretamente do desenvolvimento do enredo.
O tema do conto é o debate entre a natureza e a criação. De um lado temos um ser que teve muito de suas características psicológicas atreladas àqueles que o criaram. Mas, ao mesmo tempo, será que essa criação pode superar a natureza de uma criatura? Grim tem até um pouco de dificuldade de se colocar no papel de uma criatura selvagem. Entretanto, o personagem tem um caráter intempestivo. Em determinados momentos, a sua natureza draconiana supera um pouco de seu bom senso. Um outro problema é ele estar dividido entre sua missão e a proteção de seus semelhantes. O que é mais importante? No final, Grim vai tomar uma decisão que é muito coerente com o seu personagem. Mas, você só vai descobrir ao ler a narrativa. Convido vocês a conhecerem mais este conto da autora. E se você nunca leu nada dela, certamente é um prato cheio e uma ótima maneira de conhecê-la.
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