Pastoral Americana

Pastoral Americana Philip Roth




Resenhas - Pastoral Americana


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laramaximo 16/02/2024

Um livro que não vai sair da sua cabeça
O conflito geracional desse livro é realmente muito bem colocado. Entender o contexto histórico que o Sueco viveu (época da segunda guerra, ele era um jovem judeu vivendo numa comunidade judaica e acabou se tornando um refúgio da comunidade jovem judaica do bairro) versus o contexto histórico de sua filha (adolescente americana na época da guerra EUA x Vietnã) é essencial para compreender esse livro. Vejo muito paralelo no Brasil também, com pais que cresceram no Brasil quando éramos um país próspero e crescente versus os jovens que vivem no Brasil hoje, com um sentimento tão mais frágil de sociedade. Essa leitura foi um excelente início para 2024.
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Tamires Felix 12/02/2024

Bom...
Um bom livro, com personagens complexos, com passagens interessantes e outras totalmente dispensáveis no meu ponto de vista, porém muito bem construído.
Fiquei me perguntando até que ponto conhecemos as pessoas e como esse "conhecimento" pode ser e, muitas vezes, é superficial. O sueco, que nem sueco é, apenas pela aparência, no fim das contas é um homem solitário, que carrega o sentimento de culpa e é despreparado para encarar a realidade como ela se apresenta.
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Silvia Schiefler 22/01/2024

Pastoral Americana é a exuberante obra literária escrita pelo consagrado autor americano Philip Roth, e publicada em 1997. Roth recebeu no ano seguinte, o prêmio Pulitzer por este romance. A história gira em torno de Seymor Levov, o Sueco, a personagem dissecada como o símbolo de uma América que oferece o sonho de riqueza para todos, indistintamente. Seymor é o bom sujeito que chega ao ápice do sucesso pessoal e empresarial, notabilizando-se como o representante do ideário norte-americano do homem ?que se faz por si só?. E para tornar sua proposta ainda mais instigante, Philip Roth coloca sua personagem no ponto máximo de tensão ? a tumultuada década de 1960. Excelente leitura! Recomendo. #leituras2024 #5/2024
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Thais 15/12/2023

??eu experimentava a sensação esquisita de que o que existe por trás do que se vê é justamente aquilo que eu estava vendo.?

O único ponto negativo deste livro são as ?voltas? que o autor dá, pra comentar fatos o corriqueiros.
Fora isso é um baita livro que fala a respeito do sonho americano e a queda da inocência.
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Higor 30/11/2023

"LENDO PULITZER": sobre autores que surram seus leitores
É ao ler livros como "Pastoral americana" que eu me pego pensando: "puxa, como eu leio cada porcaria, não?". Óbvio que livro nenhum é unanimidade, e este está longe de ser um livro adorado pela maioria dos leitores, mas ainda assim, já na página 50, eu sabia que, mesmo ante todas as dificuldades impostas por Philip Roth (e não foram poucas, preciso confessar), esta seria uma das leituras mais incríveis do ano, quiçá da vida.

Tudo porque eu simplesmente não conseguia parar de pensar em Sueco Levov e sua vida de aparências, mesmo quando tinha que fazer outras coisas, fosse em casa, ou no trabalho, ou em interações sociais e etc, pois, mesmo em poucas páginas, eu estava totalmente imerso naquele universo americano de cristal, belo, pomposo, porém sensível, delicado, instável, e ansiava por saber a qual lugar o autor queria me levar. O efeito, embora positivo, me deixou em cacos. Sim, não só Levov levou uma surra, mas eu também, enquanto leitor, tanto que preciso de um pouco distância de Roth, e me vou me aventurar em outro livro dele depois com uns bons anos de fôlego.

Pois bem, em uma narrativa não linear, mas limpa e eficiente, acompanhamos a geração dos Levov, judeus que, após certa dificuldade para se manter na América, alcançaram o conforto e a estabilidade ao fabricar luvas de couro. O foco está em Seymour, conhecido como Sueco, um jovem atleta do Ensino Médio, famoso por suas habilidades esportivas e, principalmente, por causa de seu cabelo loiro, olhos azuis e boa aparência, que causa frisson em adolescentes apaixonadas e em pais que querem o jovem ideal para configurar suas famílias e próximas gerações.

Com um comportamento exemplar, em que abre mão de seus próprios ideais para comportar os solhos alheios, seja de pai, mãe, esposa, filha e até mesmo amigos e irmãos, Sueco mantém e alimenta o conhecido "american way of life" da maneira mais calada e submissa possível, garantindo com isso o emprego, mulher, casa e filha dos sonhos, mas não, talvez, a felicidade. Ou ao menos a genuína.

Embora até meio batido, a maneira como Roth aborda o tema da ascensão e ruína de uma vida ideal, aqui por questões políticas e sociais na década de 60, é no mínimo, aterrorizante, no bom sentido, pois ao invés de discorrer sobre sucessivas tragédias que poderiam acometer a família e fazer com que o leitor simplesmente se apiedasse, o autor optou por narrar por um viés um tanto diferente, tanto que o livro tem uma carga dramática muito mais intensa, voltada para um lado psicológico que mais se assemelha ao terror e o suspense.

Os personagens como um todo, e não somente Levov, têm seus pensamentos, expressões e comportamentos examinados à exaustão, e de forma muito inteligente, o que talvez seja o grande trunfo do livro, pois o mesmo personagem é dissecado diversas vezes, pelo ponto de vista de diferentes pessoas, logo, ela vai ser incrível para alguns, enquanto detestável para outros, o que gera uma desconfiança e uma tensão no leitor, aquele desconforto por gostar de alguém que, há 30 páginas, era elogiada como uma mulher de confiança, enquanto é interpretada como uma megera gananciosa páginas depois. A vida, meus caros, onde pessoas diferente possuem opiniões totalmente divergentes de uma mesma pessoa.

O grande trunfo também é, pensando com cautela, o grande problema do livro, pois o autor interrompe a cena para fazer mais uma análise minuciosa, quando tudo o que o leitor quer é saber o que vai acontecer naquela circunstância, naquele diálogo, naquela confuso, logo no clímax do capítulo. Logo, de incrível, a sensação que passa ao longo dos capítulos é de enfado, ou que o autor está enrolando o leitor para atenuar uma possível decepção com o que possa encontrar logo a frente.

A impressão ganha ainda mais força ao final do livro, quando se olha em retrospecto e analisa que, em uma linearidade, a história possui poucos acontecimentos, de fato, mas uma enxurrada de blocos de texto e de páginas unicamente dentro da cabeça dos personagens, com seus pensamentos e angústias que assolam não somente o pobre coitado de Sueco, mas o leitor, que o acompanha em suas aflições, devaneios, medos, divagações, como não poderia deixar de ser, e, ao final da trágica vida falsa americana, torna-se grato com o feito de Roth, mas cansado, sobrecarregado com tal fardo.

Sinceramente, eu nunca havia sentido tal sensação em uma leitura, pois ao mesmo tempo que me preocupava com Levov e sua ruína, eu estava arrependido por ter encarado tal drama, pois o peso imposto em toda a circunstância parecia demais para mim.

Para os críticos mais ferrenhos do livro, um pensamento sincero: é importante entender que as muitas referências citadas, quase todas, na verdade, tanto relativas à cultura, mas principalmente a geografia e política do país, abordadas em "Pastoral americana", passaram totalmente despercebidas durante a leitura, e tudo bem, afinal, o mais importante é que o livro se sustenta apesar disso, com sua história bem escrita e amarrada; além disso, eu não sou estadunidense, logo, não preciso conhecer com afinco a história do país, nem quem foi o 15º presidente ou o senador republicano do ano 1960, e entendo também o principal, a realidade difícil para desmitificar para muitos leitores, de que os Estados Unidos não se resumem a Hollywood, Las Vegas ou outro cenário típico de turismo.

Para quem é nativo, o livro, obviamente, faz muito mais sentido, é muito melhor absorvido e aclamado, tanto que, em listas dos melhores livros do século 20, dos últimos 25 ou 50 anos, ele é considerado o melhor livro americano, ou o segundo, perdendo apenas para "Amada", de Toni Morrison. Um peso a se levar em consideração, assim como a relativizar a ignorância do leitor ante tantas informações nacionais. Com certeza os americanos devem apanhar para entender diversas referências e situações brasileiras na recém-lançada tradução de Dom Casmurro, por exemplo.

Vencedor do Pulitzer de 1998, desbancando outro gigante memorável da época e também tido como clássico, "Submundo" de Don DeLillo, "Pastoral Americana" é, sem dúvida, aquela erva daninha no jardim perfeito americano, que causa incômodo, mas que é indiferente e resistente a tudo.

Este livro faz parte do projeto "Lendo Pulitzer".
edu basílio 30/11/2023minha estante
tive uma experiência com roth, o seu famoso "o complexo de portnoy", e infelizmente eu achei apenas super chato. a fama do autor dispensa comentário: há quem tenha quase surtado por ele ter morrido não nobelizado (quando até peter handke e bob dylan o foram). enfim, suas impressões, junto com minha lembrança de "portnoy", me fazem manter o respeito ? conquanto distante ? que tenho por roth. obrigado por partilhar ^^


Jacy.Antunes 01/12/2023minha estante
A Pastoral Americana é para desconstruir o sonho americano , mas não creio que os convertido leiam. Depois desse leia Os Fatos, uma autobiografia precoce, bem mais leve.
Na sua resenha é visível o quanto foi difícil terminar o livro. Parabéns por ela.


Higor 01/12/2023minha estante
Eduardo, é péssima essa sensação ambígua de amar e odiar um livro em itensidade igual, além de não saber exatamente se é um livro recomendável, digno de releitura ou uma boa porta de entrada para conhecer a bibliografia do autor. De qualquer forma, ainda tenho mais dois do autor a encarar para o projeto, mas sem previsão, por enquanto hehehe


Higor 01/12/2023minha estante
Jacy, recomendação anotada. A leitura foi até rápida, em três dias, mas bastante dolorosa.




Gabriel 28/11/2023

Uma especulação verídica
A construção literária advém da imaginação de quem escreve. Um universo imaginado é criado, e ele é falso diante do que concebemos como mundo real. Pode até conter personagens reais e fatos históricos, mas ainda assim é ficção. Entretanto, não necessariamente esse expediente carece de verdade. Na ficção está presente o entrecruzamento crítico entre verdade e falsidade. O fim da ficção não é estender-se nesse conflito e sim fazer dele sua matéria. É exatamente isso que o narrador deste romance faz: uma especulação sobre a vida de um personagem diante da turbulência política no final dos anos 60 nos EUA. O conflito de gerações ao longo do século XX e o momento histórico vivido por cada geração são elementos centrais para que a especulação se torne uma possível verdade. Philip Roth construiu um romance genial com personagens inquietantes diante do caos. A perda do controle (ou a ausência dele) gerando uma paranoia moralista e labiríntica em um personagem que é a personificação do que ficou conhecido na cultura americana como 'self made man' durante os anos dourados do capitalismo - um cenário idílico de prosperidade e ordem puritana. Porém, somos muito mais frágeis do que podemos imaginar. A vida é muito mais imprevisível e desordenada do que qualquer elemento de segurança que tentamos nos prender. A ruptura é inexorável, porém lidar com o caos pode ser literalmente bombástico
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Afonso74 11/08/2023

Se começar, persista e vá até o final desse livro/jornada
Os EUA viram seus jovens se desconectarem dos valores da geração pós-guerra (de seus pais) nos anos 60 e 70, quando vicejaram diversas seitas no país (espirituais, lisérgicas, religiosas, políticas, entre outras).

A filha do personagem principal do livro “se deixa levar” por uma dessas seitas e suas ações acabam interferindo de forma muito negativa na saúde mental da família cuja trajetória parecia muito bem-sucedida. E, diferentemente de outras obras, o estilo de vida dos progenitores não é pintado como “de aparências” ou hipócrita, mas sim calcado em cima de trabalho, disciplina e dedicação.

E, aqui eu cito um vídeo antigo, que se aplica muito bem ao Sr Sueco, chamado “Filtro Solar” que dizia: “os maiores problemas de sua vida vc nem imagina quando tem 20 anos”. Ou, em outros termos, mesmo quando temos uma vida regrada e fazemos (quase) tudo certo, o resultado não necessariamente será bom e te trará felicidade e paz.

Sobre a leitura em si: Por vezes me peguei torcendo para o autor colocar mais plot twists na trama mesmo sabendo que se tratava de um drama psicológico bastante profundo. Também tive essa mesma sensação quando li outros grandes autores, mas ao terminar a leitura (ontem) já fiquei pensando que possivelmente no ano que vem vou querer ler a continuação da Trilogia Americana de Philip Roth: “ Casei com um Comunista”.
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Carla Verçoza 01/07/2023

Gostei bastante dessa leitura, apesar de ter demorado um mês para terminar. Aqui Roth conta a história do Sueco Levov, um judeu branco, rico, qdo jovem era bonito, ótimo atleta, bom filho, bom patrão, se casa com a miss New Jersey, com quem tem uma filha.
E é um acontecimento com a filha que acaba por iniciar o desmoronamento da aparente vida perfeita do Levov. Passamos a acompanhar essa decadência de uma vida aparentemente confortável para uma vida tumultuada e cheia de problemas.
Escrita incrível do Philip Roth, quero ler em breve outro dele.
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Lucas 30/03/2023

Obscena desconstrução: o mito é apenas um mito
O grande mito da humanidade dos últimos 120 anos não foi uma pessoa, um herói ou algo com substância física. Tampouco foi alguém com poderes transcendentais, onipresente, revestido de uma capa divina e capaz de mover uma massa única de seguidores. Esquecendo-se da banalização do termo nos últimos tempos, o maior mito de 1900 pra cá é um potente arcabouço de valores (majoritariamente questionáveis), uma grande lavagem cerebral que faz e fez bilhões de pessoas acreditarem numa crença: o chamado "sonho americano" ou sonho "norte-americano", sendo mais específico e direcionado aos Estados Unidos da América, que de forma incontestável adquiriram o papel de protagonista entre as nações do mundo neste pouco mais de um século.

Referências para o conhecimento desse mito foram e são despejadas nas pessoas de todas as gerações desde então, seja nas duas grandes guerras mundiais (as quais os EUA emergiram como protagonistas e vencedores, especialmente na segunda), na perenidade do seu modelo econômico e político e em outros elementos históricos. Estes são pontos naturais, consequências da história da humanidade desse recorte de tempo, mas foram amparados por técnicas mais explícitas de convencimento, como o entretenimento em suas múltiplas formas, a rivalidade e a demonização de nações concorrentes e assim por diante. Tudo isso para construir a imagem de que a América (que na verdade são apenas os Estados Unidos nesse discurso) é a terra das oportunidades, de que se você trabalhar duro consegue o que desejar, que o acúmulo material é um dos principais termômetros do sucesso, que a liberdade é plena, que lá as coisas funcionam e muitos outros elementos.

Com tudo isso em mente, um escritor norte-americano, sem ser panfletário ou revolucionário, ousou desafiar essa entidade mitológica através de um estilo narrativo que pregava a aceitação de si mesmo ou enquadramento/desenquadramento nessa realidade. Trata-se de Philip Roth (1933-2018), um dos maiores autores do século XX. Nas cerca de trinta obras por ele lançadas, em três delas Roth foi claramente mais incisivo nesta confrontação e as quais foram por ele chamadas de "trilogia americana". Destas, Pastoral Americana (1997) emerge como um símbolo, seja da obra coletiva do autor (a qual a crítica literária em geral trata como um injustiçado por nunca ter ganho o prêmio Nobel), como desse processo de desconstrução do famigerado sonho americano.

Ao criar um alter ego literário chamado Nathan Zuckermann, que também era escritor, Philip Roth pode, através desse narrador-personagem, "colocar" nos ombros de Zuckermann um estilo narrativo peculiar, baseado essencialmente em monólogos repletos de profundas reflexões e filosofias. São estas conversas consigo mesmo que permeiam o primeiro quinto de Pastoral Americana, mas não são elas que vão relacionar-se diretamente com a desmistificação supracitada. Aqui, o narrador, Zuckermann (que também, assim como Roth, nasceu em Newark, cidade próxima de Nova York), já um escritor relativamente conhecido, revisita sua terra natal por volta de 1995, com um olhar fortemente nostálgico para o fim da década de 40 e seus colegas de escola. Ao fazer isso, Zuckermann trata com mais ênfase da vida de Seymour Levov, alguns anos mais velho que ele e que era tido como o "adolescente modelo" em seus tempos de colégio.

É Seymour Levov (constantemente chamado de Sueco, seu apelido) quem terá o papel de desconstrução mitológica que a obra propõe. O foco nasce da curiosidade de Nathan em esclarecer como foi a trajetória do rapaz ao longo das décadas. Filho de um industrial que trabalhava com luvas de couro femininas, Levov era alguém que os outros estudantes queriam ser: excelente esportista, rico, bem apessoado fuzileiro naval, famoso com as mulheres e outros atributos garantiam o arquétipo típico de um norte-americano perfeito para individualizar o conceito personalista do sonho americano.

Se nas primeiras páginas há um encontro entre narrador (Zuckermann) e ente narrado (Levov), algo que traz uma grande expectativa, ele serve mais para construir uma miríade de mistérios que o olhar de escritor do narrador vai desmontando. Ao se ver numa reunião de antigos colegas de escola, Zuckermann se encontra com Jerry Levov, irmão de Seymour e melhor amigo do narrador naqueles tempos juvenis. Após a dura conversa que eles travam, Zuckermann bem sutilmente (tanto que o leitor nem percebe, o que é genial) começa a narrar a trajetória de Seymour, seus sucessos e insucessos e o caminho percorrido até a contemporaneidade.

Neste caminho, Levov procurou de todas as formas viver o estilo de vida norte-americano. Ao casar-se com uma mulher católica (ele era judeu), a bela Dawn Dwyer, ele levou em conta o aspecto de liberdade e inexistência de preconceitos que a sua terra sempre pregou. Ao assumir os negócios do pai, ele se tornou um empreendedor, um empresário corajoso que possuía uma filial de sua fábrica de luvas num país de terceiro mundo, Porto Rico. Ao adquirir matéria-prima oriunda de países pobres a menores preços, ele atuava em conformidade com uma das muitas lógicas do capitalismo. Ao ter como público-alvo das luvas produzidas as mulheres ricas e damas da sociedade, ele reforça certas incongruências típicas desse sistema econômico. Ao se tornar pai, da bela Meredith, ele e a esposa a criaram com base nestes pilares, associados a uma boa dose de liberdade. É aqui que o raciocínio precisa ser interrompido: o sonho americano começa a se estilhaçar.

Começa a se estilhaçar por uma longa série de fatores, psicológicos e históricos fundamentalmente, as quais Roth faz questão de enumerar. Ao florescer para a vida adulta em plena Guerra do Vietnã, que contou entre 1965 e 1973 com a participação doentia dos norte-americanos, marcando e estigmatizando toda uma geração, Meredith (Merry) aglutinou em si mesma o espírito revoltoso e inconformado daqueles tempos. A grande pergunta que o livro traz deriva disso: como uma filha única, de família bem-sucedida e estável, com a melhor educação, vivendo num lar amoroso e respeitável, se perde desse jeito?

Responder à esta pergunta é algo que Pastoral Americana não faz, pelo menos de forma definitiva. Mas ele abarca e discute todas as razões e influências para isso, com uma enorme dose de psicologia prática. A gagueira de Merry, por exemplo, que é contextualizada de uma forma mordaz em relação ao seu desenvolvimento; a construção da personalidade da mãe, Dawn, que apenas parece perfeita; o caráter explosivo do tio Jerry e a retidão exagerada do avô Lou, pai de Seymour. Tudo isso e muitos outros aspectos são dissecados, mostrando que a educação paternal e familiar de uma criança pode ser algo tremendamente complexo dentro de um contexto tão diverso.

No meio de toda essa confusão está Seymour, o pai compreensivo que engole praticamente tudo e, estoico, enfrenta passivamente várias situações trágicas. O sonho americano vai ruindo diante dele e por mais que o Sueco tente lutar contra isso, ele mesmo se vê trabalhando para a desmontagem desse sonho. É um dos focos de Pastoral Americana: evidenciar o conflito entre razão, lógica e retidão diante das mais diversas loucuras do mundo. A linha entre moral e absurdo é muito tênue em muitas das esquinas e becos mais escuros que passamos na trajetória de nossas vidas.

Pastoral Americana é um livro que parece dar tapas na cara do leitor e dizer: "acorde, não é assim!". É a banalização em essência: o mito (divinizado) do sonho americano é apenas um mito, uma lenda urbana com inegáveis verdades, mas com inúmeras falhas. Apesar da brutal quebra de ritmo em seu último quarto, a obra de Philip Roth é espetacular, bem amarrada e faz jus à fama: é uma leitura profunda e reflexiva como poucas.
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Angelica75 27/09/2022

Já li outros livros sobre como a sociedade norte-americana é hipócrita, mas esse foi escrito com maestria de maneira fluida e delicioso de ler. Que grande autor!

"Sueco" Levov é a personificação dos EUA bem sucedido. De família judia de classe média que enriqueceram sendo donos de uma "fábrica de luvas" (a fábrica chega a ser um dos personagens do livro), atleta, extremamente bonito, casa-se com uma Miss, oque pode dar errado? Tudo.

Qdo a única fiçha adolescente do casal cresce tudo o que é confortável rui. Envolvida em uma grande tragéida, coloca à prova a perfeição do lar Levov.

O livro é narrado por Zuckerman, o alter ego do autor que é procurado pelo irmão mais velho de Levov para escrever sobre a vida do Sueco. Descontroi então a vida pefeita do nosso "heroi".
No mais, ressalto como é atual a temática do livro em tempos de fascismo como o que estamos vivendo.
Angelica75 05/10/2022minha estante
fiz a resenha pelo celular, agora vi alguns erros de digitação e não consigo arrumar =/


Afonso74 11/08/2023minha estante
Gostei do seu estilo de resenha bem direta.... afinal aqui não é lugar de escrever artigos sobre ou resumo de livros mas sim de incentivar (ou desincentivar) outras pessoas a lerem ou não cada obra.
Sobre seu comentário : acho q de forma geral a família Levov não era "hipócrita" (q prega uma coisa e faz o oposto) mas sim a sociedade americana que a rodeava. E acabaram eles , os menos hipócritas, pagando o maior preço.




Amanda Ciarlo 04/05/2022

Opinião impopular: sei que esse livro é considerado a obra-prima do Philip Roth, mas pessoalmente achei muito arrastado. Se tivesse 200 páginas a menos, poderia ter sido sensacional. Já havia lido Nêmesis do mesmo autor e tinha ficado embasbacada com o potência da sua escrita. Esse foi o segundo livro que li dele e me decepcionei. Espero que os próximos sejam mais dinâmicos.
De qualquer maneira, é uma crítica importante ao ideário da família norte-americana perfeita.
Alê | @alexandrejjr 03/07/2022minha estante
É uma das, Amanda, tá tranquilo. Na real, muita gente gringa aponta "O teatro de Sabbath" e "Complô contra a América" como livros mais importantes que esse, apesar de ser muito lembrado mesmo.




Steph.Mostav 22/07/2021

A ruína do sonho americano
"Pastoral americana", além da história de Sueco Levov, judeu norte-americano bem sucedido dono de uma fábrica de luvas, também é uma crítica ao modelo de bom cidadão, ao sonho americano, ao modelo de "civilização" dessa sociedade hipócrita que vive de aparências para esconder seus preconceitos e falhas. Mais que isso, é também uma alegoria ao fracasso de todo esse sistema, assim como, por trás da primeira imagem de perfeição que temos de Sueco e de sua família aparentemente impecável, estão décadas de angústia, de exploração, de mentiras e de escândalos que seriam capazes de ruir toda essa pastoral americana. Roth como sempre é um gênio na exploração psicológica, principalmente da ruína de seus protagonistas. Apesar das muitas digressões, seu texto continua muito forte e os diálogos, mesmo interrompidos por pensamentos e lembranças, ainda são memoráveis. Além disso, o recurso da narrativa em terceira pessoa (sobre a vida de Sueco Levov) dentro da narrativa em primeira pessoa (sob o ponto de vista de Nathan Zuckerman) enriqueceu bastante a maneira de contar está história que, de longe, parece bem simples, mas que de perto, revela que nenhuma família é tão simples e feliz assim.
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Marcus.Vinicius 23/01/2021

O mito da vida perfeita
A história se passa no pós-guerra do Vietnã, e é contada por Nathan Zuckerman, personagem recorrente nos romances de Philip Roth, um alter ego do mesmo. Seymour Levov, o ?Sueco?, é o retrato de um homem que tem uma vida perfeita, o autêntico homem do sonho americano: bonito, atleta, popular, rico, empresário bem sucedido e com uma família modelo. Só que essa vida sofre um grande abalo com um incidente provocado pela filha do Sueco, que o faz refletir e se questionar em que ponto errou na edução de sua filha, qual a falha que a levou a cometer o ato. No fim das contas, a grande lição da obra, a meu ver, é que a vida nos prega peças, e há coisas que fogem do nosso controle, por mais que tenhamos uma vida ?certinha?. Ou seja, de controle sobre a vida, temos muito pouco. Também há uma crítica e desmistificação do sonho americano, que não é essa perfeição toda. É uma obra forte, poderosa, que retrata de forma singular a sociedade americana da segunda metade do século XX.
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vannybs 18/01/2021

Conta a história de uma vida boa que começa a degringolar após um acontecimento inesperado. Gostei bastante.
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Carlos Henrique 17/12/2020

Um personagem épico
Não sei como resenhar esse livro, só sei dizer que o Sueco Levov é um dos melhores personagens que já li na vida. A saga do homem de familia, o americano perfeito...em toda sua desgraça secreta. Fantástico. Leitura obrigatória.
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