Pastoral americana

Pastoral americana Philip Roth




Resenhas - Pastoral Americana


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Arsenio Meira 06/12/2013

Partituras Familiares

"Pastoral Americana" é Roth em grande estilo. As partituras do inferno vivido por uma família-modelo de classe média americana aparentemente a caminho do paraíso na terra e no céu. A superfície plácida do sonho americano esconde muitas vezes o fio da tragédia.

O Sueco, Seymour Levov, é um judeu, que nasceu em bairro de classe média judia e prosperou nos esportes, como grande atleta, nos negócios, herdando a fábrica de luvas do pai, e no casamento, ou assim ele achava. Essa pastoral americana implode quando sua filha adorada e gaga resolve entrar para a guerrilha urbana nos EUA contra a Guerra do Vietnã e explode o correio local, matando um médico que lá passava.

Daí para diante é um desenrolar de novas dores: vida clandestina da filha, novos atentados, internação da mulher, assédio de supostos companheiros da filha na guerrilha, personalidade intrusiva do pai-patriarca, agressividade do irmão, decadência da fábrica, adultério da mulher, reencontro com a filha, que vira uma jaina (seguidora do jainismo), tudo nas costas do aparentemente inabalável Sueco.

O livro é um recontar circular, pelo colega de escola do irmão e fã, tornado escritor bem sucedido, da pastoral inicial e da tragédia final que fazem a vida do Sueco. Trata-se do lendário Nathan Zuckerman , alter-ego de Roth, bússola de sua têmpera literária.

Roth é genial no trágico: cria situações sufocantes, como os encontros de Levov com os companheiros da filha que o chantageiam, o reencontro com a filha no quartinho sórdido, o jantar final com suas alfinetadas, crises e uma cena memorável de adultério. E no trato do banal a mim não cansaram nem um pouco as descrições das atividades do ramo das luvas de couro e as digressões sobre o concurso de miss da mulher do Sueco. Roth leva ao cume a técnica de criar suspense e curiosidade no leitor pela quebra da narrativa principal, para entremeá-la com reflexões do passado ou descrições exaustivas do presente.

Essa auto-indulgência se observa também em alguns diálogos. O tempo psicológico, com as reflexões dos personagens, atrasa o tempo das falas, e o que se ganha em densidade se perde em verossimilhança. Mas, do ponto de vista técnico, Roth usa brilhantemente a narrativa em estilo indireto livre em que a voz em terceira pessoa se funde aos pensamentos e ações do protagonista. O texto é narrado em primeira pessoa por um escritor que relata a vida do protagonista, o que na prática generaliza a terceira. Mas a terceira contamina-se pela voz em primeira pessoa do protagonista, fechando o ciclo. A técnica é sutil, provoca empatia com o personagem, embora não seja (sob minha ótica) muito fácil criar identificação com um protagonista socialmente correto ao ponto da auto-anulação, como o Sueco Levov.

Pastoral Americana é um raro exemplar da inspirada biblioteca legada pelos escritores judeus norte-americanos do pós-Guerra. Roth atingiu aqui a altura de um Bellow ou de um Singer, e juntou mais um romance à sua lista extensa de grandes livros.
Jey 01/09/2015minha estante
Justamente! Levei 1 mês para ler este livro mas gostei.Mas quando ele começava divagar...só me motivava a continuar porque eu queria saber o final desta historia.Eu não entendi o que o autor quis com o final deste livro.A cena de traição da esposa do sueco foi demais e Marry deveria levar umas palmadas para criar jeito (ou ser levada pelos cabelos), adorei o texto, tudo de bom!


Arsenio Meira 02/09/2015minha estante
Oi Jéssica!
kkkk, Concordo contigo! A tal da Marry deveria levar um corretivo pra tomar tento, rs! Acho que o Roth quis, ao final da história, nos mostrar que toda essa merda de "família" perfeita, a la doriana, não passa de uma ilusão manjada. Os americanos - reis da hipocrisia - fingem acreditar em poses em prejuízo da realidade! Obrigado pelo comentário e um abração pra vc!




Thais 15/12/2023

??eu experimentava a sensação esquisita de que o que existe por trás do que se vê é justamente aquilo que eu estava vendo.?

O único ponto negativo deste livro são as ?voltas? que o autor dá, pra comentar fatos o corriqueiros.
Fora isso é um baita livro que fala a respeito do sonho americano e a queda da inocência.
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André Vedder 29/07/2020minha estante
Roth é sensacional!


Maria 29/07/2020minha estante
Genial!




Steph.Mostav 22/07/2021

A ruína do sonho americano
"Pastoral americana", além da história de Sueco Levov, judeu norte-americano bem sucedido dono de uma fábrica de luvas, também é uma crítica ao modelo de bom cidadão, ao sonho americano, ao modelo de "civilização" dessa sociedade hipócrita que vive de aparências para esconder seus preconceitos e falhas. Mais que isso, é também uma alegoria ao fracasso de todo esse sistema, assim como, por trás da primeira imagem de perfeição que temos de Sueco e de sua família aparentemente impecável, estão décadas de angústia, de exploração, de mentiras e de escândalos que seriam capazes de ruir toda essa pastoral americana. Roth como sempre é um gênio na exploração psicológica, principalmente da ruína de seus protagonistas. Apesar das muitas digressões, seu texto continua muito forte e os diálogos, mesmo interrompidos por pensamentos e lembranças, ainda são memoráveis. Além disso, o recurso da narrativa em terceira pessoa (sobre a vida de Sueco Levov) dentro da narrativa em primeira pessoa (sob o ponto de vista de Nathan Zuckerman) enriqueceu bastante a maneira de contar está história que, de longe, parece bem simples, mas que de perto, revela que nenhuma família é tão simples e feliz assim.
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Angelica75 27/09/2022

Já li outros livros sobre como a sociedade norte-americana é hipócrita, mas esse foi escrito com maestria de maneira fluida e delicioso de ler. Que grande autor!

"Sueco" Levov é a personificação dos EUA bem sucedido. De família judia de classe média que enriqueceram sendo donos de uma "fábrica de luvas" (a fábrica chega a ser um dos personagens do livro), atleta, extremamente bonito, casa-se com uma Miss, oque pode dar errado? Tudo.

Qdo a única fiçha adolescente do casal cresce tudo o que é confortável rui. Envolvida em uma grande tragéida, coloca à prova a perfeição do lar Levov.

O livro é narrado por Zuckerman, o alter ego do autor que é procurado pelo irmão mais velho de Levov para escrever sobre a vida do Sueco. Descontroi então a vida pefeita do nosso "heroi".
No mais, ressalto como é atual a temática do livro em tempos de fascismo como o que estamos vivendo.
Angelica75 05/10/2022minha estante
fiz a resenha pelo celular, agora vi alguns erros de digitação e não consigo arrumar =/


Afonso74 11/08/2023minha estante
Gostei do seu estilo de resenha bem direta.... afinal aqui não é lugar de escrever artigos sobre ou resumo de livros mas sim de incentivar (ou desincentivar) outras pessoas a lerem ou não cada obra.
Sobre seu comentário : acho q de forma geral a família Levov não era "hipócrita" (q prega uma coisa e faz o oposto) mas sim a sociedade americana que a rodeava. E acabaram eles , os menos hipócritas, pagando o maior preço.




Higor 30/11/2023

"LENDO PULITZER": sobre autores que surram seus leitores
É ao ler livros como "Pastoral americana" que eu me pego pensando: "puxa, como eu leio cada porcaria, não?". Óbvio que livro nenhum é unanimidade, e este está longe de ser um livro adorado pela maioria dos leitores, mas ainda assim, já na página 50, eu sabia que, mesmo ante todas as dificuldades impostas por Philip Roth (e não foram poucas, preciso confessar), esta seria uma das leituras mais incríveis do ano, quiçá da vida.

Tudo porque eu simplesmente não conseguia parar de pensar em Sueco Levov e sua vida de aparências, mesmo quando tinha que fazer outras coisas, fosse em casa, ou no trabalho, ou em interações sociais e etc, pois, mesmo em poucas páginas, eu estava totalmente imerso naquele universo americano de cristal, belo, pomposo, porém sensível, delicado, instável, e ansiava por saber a qual lugar o autor queria me levar. O efeito, embora positivo, me deixou em cacos. Sim, não só Levov levou uma surra, mas eu também, enquanto leitor, tanto que preciso de um pouco distância de Roth, e me vou me aventurar em outro livro dele depois com uns bons anos de fôlego.

Pois bem, em uma narrativa não linear, mas limpa e eficiente, acompanhamos a geração dos Levov, judeus que, após certa dificuldade para se manter na América, alcançaram o conforto e a estabilidade ao fabricar luvas de couro. O foco está em Seymour, conhecido como Sueco, um jovem atleta do Ensino Médio, famoso por suas habilidades esportivas e, principalmente, por causa de seu cabelo loiro, olhos azuis e boa aparência, que causa frisson em adolescentes apaixonadas e em pais que querem o jovem ideal para configurar suas famílias e próximas gerações.

Com um comportamento exemplar, em que abre mão de seus próprios ideais para comportar os solhos alheios, seja de pai, mãe, esposa, filha e até mesmo amigos e irmãos, Sueco mantém e alimenta o conhecido "american way of life" da maneira mais calada e submissa possível, garantindo com isso o emprego, mulher, casa e filha dos sonhos, mas não, talvez, a felicidade. Ou ao menos a genuína.

Embora até meio batido, a maneira como Roth aborda o tema da ascensão e ruína de uma vida ideal, aqui por questões políticas e sociais na década de 60, é no mínimo, aterrorizante, no bom sentido, pois ao invés de discorrer sobre sucessivas tragédias que poderiam acometer a família e fazer com que o leitor simplesmente se apiedasse, o autor optou por narrar por um viés um tanto diferente, tanto que o livro tem uma carga dramática muito mais intensa, voltada para um lado psicológico que mais se assemelha ao terror e o suspense.

Os personagens como um todo, e não somente Levov, têm seus pensamentos, expressões e comportamentos examinados à exaustão, e de forma muito inteligente, o que talvez seja o grande trunfo do livro, pois o mesmo personagem é dissecado diversas vezes, pelo ponto de vista de diferentes pessoas, logo, ela vai ser incrível para alguns, enquanto detestável para outros, o que gera uma desconfiança e uma tensão no leitor, aquele desconforto por gostar de alguém que, há 30 páginas, era elogiada como uma mulher de confiança, enquanto é interpretada como uma megera gananciosa páginas depois. A vida, meus caros, onde pessoas diferente possuem opiniões totalmente divergentes de uma mesma pessoa.

O grande trunfo também é, pensando com cautela, o grande problema do livro, pois o autor interrompe a cena para fazer mais uma análise minuciosa, quando tudo o que o leitor quer é saber o que vai acontecer naquela circunstância, naquele diálogo, naquela confuso, logo no clímax do capítulo. Logo, de incrível, a sensação que passa ao longo dos capítulos é de enfado, ou que o autor está enrolando o leitor para atenuar uma possível decepção com o que possa encontrar logo a frente.

A impressão ganha ainda mais força ao final do livro, quando se olha em retrospecto e analisa que, em uma linearidade, a história possui poucos acontecimentos, de fato, mas uma enxurrada de blocos de texto e de páginas unicamente dentro da cabeça dos personagens, com seus pensamentos e angústias que assolam não somente o pobre coitado de Sueco, mas o leitor, que o acompanha em suas aflições, devaneios, medos, divagações, como não poderia deixar de ser, e, ao final da trágica vida falsa americana, torna-se grato com o feito de Roth, mas cansado, sobrecarregado com tal fardo.

Sinceramente, eu nunca havia sentido tal sensação em uma leitura, pois ao mesmo tempo que me preocupava com Levov e sua ruína, eu estava arrependido por ter encarado tal drama, pois o peso imposto em toda a circunstância parecia demais para mim.

Para os críticos mais ferrenhos do livro, um pensamento sincero: é importante entender que as muitas referências citadas, quase todas, na verdade, tanto relativas à cultura, mas principalmente a geografia e política do país, abordadas em "Pastoral americana", passaram totalmente despercebidas durante a leitura, e tudo bem, afinal, o mais importante é que o livro se sustenta apesar disso, com sua história bem escrita e amarrada; além disso, eu não sou estadunidense, logo, não preciso conhecer com afinco a história do país, nem quem foi o 15º presidente ou o senador republicano do ano 1960, e entendo também o principal, a realidade difícil para desmitificar para muitos leitores, de que os Estados Unidos não se resumem a Hollywood, Las Vegas ou outro cenário típico de turismo.

Para quem é nativo, o livro, obviamente, faz muito mais sentido, é muito melhor absorvido e aclamado, tanto que, em listas dos melhores livros do século 20, dos últimos 25 ou 50 anos, ele é considerado o melhor livro americano, ou o segundo, perdendo apenas para "Amada", de Toni Morrison. Um peso a se levar em consideração, assim como a relativizar a ignorância do leitor ante tantas informações nacionais. Com certeza os americanos devem apanhar para entender diversas referências e situações brasileiras na recém-lançada tradução de Dom Casmurro, por exemplo.

Vencedor do Pulitzer de 1998, desbancando outro gigante memorável da época e também tido como clássico, "Submundo" de Don DeLillo, "Pastoral Americana" é, sem dúvida, aquela erva daninha no jardim perfeito americano, que causa incômodo, mas que é indiferente e resistente a tudo.

Este livro faz parte do projeto "Lendo Pulitzer".
edu basílio 30/11/2023minha estante
tive uma experiência com roth, o seu famoso "o complexo de portnoy", e infelizmente eu achei apenas super chato. a fama do autor dispensa comentário: há quem tenha quase surtado por ele ter morrido não nobelizado (quando até peter handke e bob dylan o foram). enfim, suas impressões, junto com minha lembrança de "portnoy", me fazem manter o respeito ? conquanto distante ? que tenho por roth. obrigado por partilhar ^^


Jacy.Antunes 01/12/2023minha estante
A Pastoral Americana é para desconstruir o sonho americano , mas não creio que os convertido leiam. Depois desse leia Os Fatos, uma autobiografia precoce, bem mais leve.
Na sua resenha é visível o quanto foi difícil terminar o livro. Parabéns por ela.


Higor 01/12/2023minha estante
Eduardo, é péssima essa sensação ambígua de amar e odiar um livro em itensidade igual, além de não saber exatamente se é um livro recomendável, digno de releitura ou uma boa porta de entrada para conhecer a bibliografia do autor. De qualquer forma, ainda tenho mais dois do autor a encarar para o projeto, mas sem previsão, por enquanto hehehe


Higor 01/12/2023minha estante
Jacy, recomendação anotada. A leitura foi até rápida, em três dias, mas bastante dolorosa.




Igor Oliveira 30/05/2009

Philip Roth e a aguda percepção da América
Iniciei minhas leituras de Roth com Pastoral Americana, que narra a história da família Levov. Seymour, atleta popular quando jovem, mantém uma vida digna, com sua fábrica de luvas, provendo à família tudo o que acredita ser o melhor. Sua esposa fora Miss América em 1949, e a união do casal é símbolo de alguns aspectos fundamentais na formação do país: Seyumour é judeu e a esposa católica, fora isso a união do atleta com a miss, em termos de imagem era o que de mais estimulante se poderia almejar na América do pós-guerra. Motivados a criar uma família ancorada nas virtudes das duas crenças, o casal-modelo se vê transtornado quando a filha Merry se envolve em manifestações contra a Guerra do Vietnã, e a família se corrói por dentro daí em diante., por conta de uma sucessão de fatos que só lendo mesmo para compreender sua intensidade.
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Silvia Schiefler 22/01/2024

Pastoral Americana é a exuberante obra literária escrita pelo consagrado autor americano Philip Roth, e publicada em 1997. Roth recebeu no ano seguinte, o prêmio Pulitzer por este romance. A história gira em torno de Seymor Levov, o Sueco, a personagem dissecada como o símbolo de uma América que oferece o sonho de riqueza para todos, indistintamente. Seymor é o bom sujeito que chega ao ápice do sucesso pessoal e empresarial, notabilizando-se como o representante do ideário norte-americano do homem ?que se faz por si só?. E para tornar sua proposta ainda mais instigante, Philip Roth coloca sua personagem no ponto máximo de tensão ? a tumultuada década de 1960. Excelente leitura! Recomendo. #leituras2024 #5/2024
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Carla Verçoza 01/07/2023

Gostei bastante dessa leitura, apesar de ter demorado um mês para terminar. Aqui Roth conta a história do Sueco Levov, um judeu branco, rico, qdo jovem era bonito, ótimo atleta, bom filho, bom patrão, se casa com a miss New Jersey, com quem tem uma filha.
E é um acontecimento com a filha que acaba por iniciar o desmoronamento da aparente vida perfeita do Levov. Passamos a acompanhar essa decadência de uma vida aparentemente confortável para uma vida tumultuada e cheia de problemas.
Escrita incrível do Philip Roth, quero ler em breve outro dele.
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Cinai Machado 24/08/2012

Depois da leitura inquietação...
Esse livro é um soco na boca do estomago, um tapa na cara. O autor vasculha a alma humana e joga na sua
na nossa cara, os segredos que nós seres humanos escondemos e pensamos estar escondido...
Mas, essa obra de Phillip Roth é muito mais que isso.

Por uma coincidência incrível, depois de "Precisamos falar Sobre Kevin" em seguida me cai esse livro, que leio logo após o primeiro.
(Pastoral Americana) abrange o período de 1950 a 1980 nos EUA acompanhando a vida do personagem principal o "Sueco".
Sim, os dois abordam o mesmo problema, porém absurdamente diferente, ricos em narrativas, entretanto podem ter certeza que
não lerão jamais um plágio, cada obra é singular...

Quase 500 páginas, sem embromação curto e grosso. Identifiquei-me e detectei atitudes, qualidades e defeitos nos seres humanos
e em mim mesma das pessoas que eu conheço, nos personagens de Roth, de pastoral Americana. Esse é um aspecto.

Mas, o que dizer da crítica social. Costumo dizer aqui em casa que criar um filho no seu mundo doméstico pode ser tudo perfeito,
contudo, e as coisas que se dão fora desse mundinho, lá fora em companhia de parentes e amigos e os interesses capitalistas de um país?

"Sueco"(Seymour Levov) é um cara que sua vida é perfeita, família, profissão, fama, beleza... Daí a gente pensa, não é possível ninguém tem uma vida assim.
Deve haver alguma coisa de errado, ele não pode ter tudo...
A começar pelo título: Pastoral Americana, que a orelha do próprio livro já diz o significado que a propósito eu não sabia. Pastoral:Poema que narra a
vida idílica no campo, os amores suaves dos pastores e camponeses, em uma atmosfera de inocência e felicidade.
Esse título que ele escolheu é irônico e sacana. O escritor escreve com propriedade, sobre o assunto, é satisfação ler e ter certeza que o cara sabe
o que ta dizendo!
Esse livro é muito forte, a gente se torna íntimos dos personagens e eu achei que o "Sueco" não merecia o que lhe aconteceu, mas eu tb acho
uma injustiça o que me aconteceu no decorrer de minha vida, é assim a vida, vc não pode controlar as pessoas que fazem acontecer.

Vou deixar o próprio autor falar sobre a crítica social que mencionei acima, com a certeza que com a aculturação essas situações não são somente
privilégio dos americanos mas, nós aqui no Brasil estamos já vivendo o mesmo caus, por isso, interesso-me tanto pela cultura deles, que já nos enfiaram goela abaixo
através do mercado do entretenimento.

"Roth: A imbecilidade. Os Estados Unidos estão a caminho de se tornar o país mais imbecil do mundo. Para mim é muito constrangedor enumerar as causas disso, pois é uma lista de muitos clichês. Mas o fato é que a princípio a televisão é responsável por isso. A maioria dos americanos abaixo dos 50 anos é produto da televisão: o que pensam, o que é importante para eles, sua pouca capacidade de concentração - tudo isso remonta à televisão. "

Leiam e tirem suas próprias conclusões, o livro tem de tudo, adorei saber sobre a indústria da luva, adorei saber que um judeu astro do esporte, e uma católica ex miss se uniram em casamento.
Adorei conhecer o "Sueco" (Seymour Levov) um judeu americano multifacetado.Que tenho certeza que já existiu e pode existir ainda pessoas como ele.
Minha crítica para eles o "Sueco" e sua esposa, referente a beleza externa. Pior ainda, confundir a beleza externa, como se nenhuma coisa feia de dentro pudesse aparecer.
Adoro a correlação família e país, não há como separar, por isso, se interessar por política e o autor maneja bem. Não dá até dá, para fechar a porta e deixar o problema social fora.
Mas não sem consequências.
Philip Roth é um gênio apesar de ser o primeiro que li dele tem muitos outros que desejo ler dele, haja dindin hehehe! (Fica a dica, p/ os homens saibam que ele tem uma escrita bem masculina)
Excerto: "O Sueco. No tempo da guerra, quando eu ainda era um estudante da escola primaria, esse era um nome mágico nos arredores de Newark, mesmo para os adultos, havia apenas uma geração transferidos do gueto da velha rua Prince, no centro da cidade, e ainda não tão perfeitamente americanizados a ponto de ficarem deslumbrados com a destreza de um atleta da escola secundária. O nome era mágico;bem como o rosto anômalo. Entre os poucos estudantes judeus de boa compleição física em nossa escola pública secundária frequentada predominantemente por judeus, nenhum possuía nada sequer remotamente parecido com a mascara viquingue implacável e a mandíbula enérgica daquele louro de olhos azuis nascido em nossa tribo com o nome de Seymour Irving Levov.
O Sueco brilhava como ponta do futebol americano, meio de campo no basquete e primeira base no beisebol. Só o time de basquete valia alguma coisa- venceu 2 vezes o campeonato da cidade, ocasião....."
Bertizola 28/08/2012minha estante
Muito legal a resenha, deu até vontade de começar a ler Roth por este. Aliás, o autor está na minha lista há tempo,já li boas resenhas de "Indignação" e "Patrimônio". Abçs.




Luiz Pereira Júnior 02/11/2020

Quando coisas ruins acontecem a pessoas boas
Fazia muito tempo que eu havia lido algo de Philip Roth (na verdade, li “Complexo de Portnoy” em minha adolescência distante, pois já sou um cinquentão). Assim, havia me esquecido do poder do autor de contar uma história, ao mesmo tempo em que analisa profundamente as profundezas do ser humano.
Apesar do título, a história é universal. Mude para “Pastoral Brasileira” e troque o eixo em torno do qual gira o livro, e todo o restante fará sentido em nosso país (aliás, essa é uma característica das grandes obras: a universidade, sem perder de vista a regionalidade, como qualquer estudante de Letras ou qualquer leitor mediano sabe).
A primeira parte do livro apresenta ao leitor o Sueco, um homem pacato, extremamente bonito, com uma família de contos de fadas e empresário de sucesso. O fascínio do narrador (o escritor Nathan Zuckerman) pelo protagonista chega a irritar o leitor com tantos elogios à aparência do Sueco e à sua vida perfeita (a irritação se torna tão intensa que eu me perguntava por que Roth é considerado um monstro da literatura americana se escrevia de forma tão repetitiva – erro meu!).
As outras partes do livro mostram, em contraponto a uma felicidade que parece não ter fim, a imensa parte de angústia que há por baixo da felicidade de toda família feliz (Tolstoi?). A filha amada acaba por se tornar uma terrorista e explode uma bomba em um mercadinho, matando o querido médico local.
A partir daí, praticamente não há mais ações na narrativa do livro, mas sim o retrato da decadência psicológica, angustiante do Sueco e de sua lindíssima esposa. Buscando explicações para o que aconteceu à filha (ou melhor, o que a filha fez acontecer) o autor mergulha nos abismos da alma humana (sim, isso é um chavão) de uma personagem que jamais existiu e que se torna mais vívida em nossos pensamentos do que a maior parte das pessoas com quem convivemos diariamente (eis outro mérito da grande literatura: tornar um personagem fictício muito mais real do que a própria parcela da humanidade com quem lidamos diariamente).
Talvez o melhor que se possa dizer da prosa de Philip Roth é justamente isso: ele sabe construir um personagem ao mesmo tempo em que constrói tudo a seu redor com a mesma perfeição com que constrói o interior desse mesmo personagem (pensei melhor: a construção do íntimo da personagem é superior ao meramente físico).
Roth nos mostra a visão amarga de que não basta ser bom para ser imune ao que acontece de ruim, não basta ser ingênuo (ou omisso, no pior das hipóteses) para estar livre de toda e qualquer tragédia. E isso é original: sim, a tragédia, o mal, a dor, o sofrimento também atingem o bom, também atingem o belo, também atinge o rico. E o que pode ser mais assustador para alguns: o mal também atinge quem tem tudo isso.
Triste conclusão: do mal ninguém está imune e do sofrimento ninguém escapa...
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Marcus.Vinicius 23/01/2021

O mito da vida perfeita
A história se passa no pós-guerra do Vietnã, e é contada por Nathan Zuckerman, personagem recorrente nos romances de Philip Roth, um alter ego do mesmo. Seymour Levov, o ?Sueco?, é o retrato de um homem que tem uma vida perfeita, o autêntico homem do sonho americano: bonito, atleta, popular, rico, empresário bem sucedido e com uma família modelo. Só que essa vida sofre um grande abalo com um incidente provocado pela filha do Sueco, que o faz refletir e se questionar em que ponto errou na edução de sua filha, qual a falha que a levou a cometer o ato. No fim das contas, a grande lição da obra, a meu ver, é que a vida nos prega peças, e há coisas que fogem do nosso controle, por mais que tenhamos uma vida ?certinha?. Ou seja, de controle sobre a vida, temos muito pouco. Também há uma crítica e desmistificação do sonho americano, que não é essa perfeição toda. É uma obra forte, poderosa, que retrata de forma singular a sociedade americana da segunda metade do século XX.
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Mario Miranda 05/06/2019

Se William Faulkner - neste caso me refiro majoritariamente a uma das suas maiores obras, "Absalão!Absalão!", mas também a outras menos reconhecidas, como "O Intruso" - desconstrói a noção de pacifismo racial nos Estados Unidos, Philip Roth em "A Pastoral Americana" desvenda todo um processo tortuoso envolvendo o conceito de "Bom Cidadão", do indivíduo que trabalha para o progresso social.

Seymour Levov, ou O Sueco, é o modelo de sucesso: bom nos estudos, atleta consagrado em sua escola, filho exemplar, empresário bem sucedido. Filho de imigrantes Judeus, seu pai funda uma empresa de confecção de Luvas, herdada por Seymour que a transforma em um grande complexo fabril. O então sucesso da narrativa de Levov é interrompido quando sua filha adolescente, Mary, realiza um atentado a bomba em uma loja dos Correios como forma de protesto contra a Guerra do Vietnã. O atentado de Mary acaba por matar um respeitado médico local.

Após o ato, e a consequente fuga de sua filha, o Sueco revisita toda a sua vida em busca de como um homem tão íntegro teve como consequência uma filha terrorista. E o seu espanto - e indignação! - acentua-se quando ele não consegue identificar nenhuma falha em sua vida que justifique o ato de Mary.

Levov é um homem-ideal, um Isaac que aceita imolar a sua felicidade em prol de um projeto do seu pai-Abraão, aceita o sacrifício de um projeto de um país-ideal, e nem assim foi capaz de evitar a ruína de toda a sua vida pessoal. Em Roth, o Sonho Americano é um mero sonho, um projeto enganoso que pretende coibir os projetos familiares em prol de um desejo de constituir-se uma grande pessoa. Sueco fracassou.

site: https://www.instagram.com/marioacmiranda/?hl=pt-br
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Leo 01/08/2020

Uma metáfora para a ruína das idealizações.
Sueco Levov é uma dupla metáfora.

Representa, num primeiro momento, a tradicional ideia de sucesso americano: homem vindo de família humilde que prosperou, talentoso nos principais esportes, casado com a mulher dos sonhos, herdeiro eficiente dos negócios da família.

Em segundo lugar, Levov é a racionalidade no pensamento-comportamento. Um homem capaz de sempre resolver as coisas da melhor maneira possível, com bom senso e sensatez, sem se sujeitar às paixões e sentimentos incontroláveis.

Nosso protagonista, portanto, personifica o ideal de todo homem americano. E tal modelo ideal pode ruir fácil se colocado à prova diante das consequências das mazelas sociais, políticas e econômicas dos Estados Unidos - e de toda a loucura vinda (ou não) daí.

Pastoral Americana é um soco na cara do "sonho americano", dado pela realidade da guerra, da desigualdade, da miséria, da hipocrisia. Um livro que desnuda a sociedade americana a partir da sua própria autoimagem.

Apesar de idealmente brilhante, Pastoral Americana tem problemas de ritmo. Certas partes soam excessivas, repetitivas, fora de tom, tornando a leitura cansativa e arrastada - talvez umas 100 páginas a menos fariam bem, ou até mesmo poderia ser uma novela.

Ainda assim, é uma leitura interessante para refletirmos acerca dos valores que moldam a sociedade americana - e a brasileira, por tabela.
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Gabriel 28/11/2023

Uma especulação verídica
A construção literária advém da imaginação de quem escreve. Um universo imaginado é criado, e ele é falso diante do que concebemos como mundo real. Pode até conter personagens reais e fatos históricos, mas ainda assim é ficção. Entretanto, não necessariamente esse expediente carece de verdade. Na ficção está presente o entrecruzamento crítico entre verdade e falsidade. O fim da ficção não é estender-se nesse conflito e sim fazer dele sua matéria. É exatamente isso que o narrador deste romance faz: uma especulação sobre a vida de um personagem diante da turbulência política no final dos anos 60 nos EUA. O conflito de gerações ao longo do século XX e o momento histórico vivido por cada geração são elementos centrais para que a especulação se torne uma possível verdade. Philip Roth construiu um romance genial com personagens inquietantes diante do caos. A perda do controle (ou a ausência dele) gerando uma paranoia moralista e labiríntica em um personagem que é a personificação do que ficou conhecido na cultura americana como 'self made man' durante os anos dourados do capitalismo - um cenário idílico de prosperidade e ordem puritana. Porém, somos muito mais frágeis do que podemos imaginar. A vida é muito mais imprevisível e desordenada do que qualquer elemento de segurança que tentamos nos prender. A ruptura é inexorável, porém lidar com o caos pode ser literalmente bombástico
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