:: Sofia 16/12/2020Me afoguei em ClariceDurante o Ensino Médio, lembro que muitos colegas e professores endeusavam Clarice Lispector como dos principais nomes da Literatura Brasileira. Já tinha tido contato, a partir de um romance e de alguns contos, e concordava por hábito. Após ler este livro, que reuniu tantas Clarices diferentes, logo, também, tantas Sofias, posso afirmar com prazer que ela é minha autora preferida.
É claro que, para cada leitor, existem os contos preferidos e os preteridos. Aqueles que me marcaram consegui, numa análise posterior, identificar o motivo para tal: reconheci meus pequenos e privados pecados. Clarice em "O crime do professor de matemática", "Os desastres de Sofia", "Feliz aniversário" e "A imitação da rosa", conseguiu denunciar ações e pensamentos meus que eu podia jurar que mantinha íntimos. O mais impressionante é que algumas vezes ela me acusou através de personagens secundários! Esse é o modo que enxerga Clarice Lispec: o insignificante como ele é, como nós somos. Insignificantes.
Depois de tê-la "na cabeceira", penso: Será que eu e Clarice pensamos da mesma forma? Será que só nós duas enxergamos o mundo assim? Será que todos se sentem assim? próximos a ela? Será que seríamos amigas? Depois de ler as introduções feitas por seus amigos leitores, gosto de pensar que sim.
Por mais que a curadoria dos contos e crônicas tenha sido impecável no quesito seleção, vejo alguns prefácios como fracos ou inconvenientes. Os de Maria Bethânia e Fernanda Torres, não chegam a lugar nenhum. O de Carlos Mendes, uma palestra desnecessária. Os de Arthur Xexéo e Adriana Falcão (e outros!!!), deram spoiler do que viria a seguir! Isso foi triste. Depois destes, decidi ler os prefácios como epílogos. Funcionou bem. Em contrapartida, alguns textos são imprescindíveis depoimentos de convivência com Clarice. É o caso do de Luís Fernando Veríssimo e Rubem Fonseca.
É um grande livro. Mas, se gostam de uma leitura "virgem", como eu, deixem para depois as introduções.